O maior PIB (Produto Interno Bruto) e orçamento do ABC esconde em sua periferia também a maior quantidade de famílias vivendo de forma precária na região. O estudo mais recente sobre a necessidade de produção de novas moradias e regularização fundiária elaborado pela UFABC (Universidade Federal do ABC) em parceria com o Consórcio Intermunicipal do ABC mostra déficit de 230 mil imóveis na região, 92,2 mil apenas em São Bernardo.
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Para a coordenadora do estudo, Rosana Denaldi, a grande quantidade de moradias precárias na cidade é resultado de processo histórico de urbanização impulsionada de forma irregular pela chegada das indústrias, cenário agravado por muitos anos sem programas público no setor. “Mas o que nosso estudo mostrou é que São Bernardo é o município que mais investiu em habitação nos últimos anos. Talvez o número alto no déficit é resultado também da lupa que a cidade colocou no setor. Muitas cidades que não têm diagnóstico tão estruturado acabam subnotificando esse número.”
Desde 2009, primeiro ano do governo do prefeito Luiz Marinho (PT), foram construídas e entregues 4.911 moradias e concedidos 4.696 títulos de regularização. Os dados foram fornecidos pela prefeitura.
Rosana afirma que o próximo prefeito terá de manter o nível de projetos na habitação. “O grande desafio será dar continuidade aos investimentos em cenário não tão favorável economicamente para o país”, disse.
Na análise da professora, é preciso avançar em questões que vão além da construção de moradias para tirar as famílias da precariedade. “Ainda é preciso melhorar a integração das políticas sociais, pensando também na geração de renda, escolaridade e acesso às redes.”
A ex-relatora especial para o Direito à Moradia Adequada do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Raquel Rolnik, acredita que a diversificação dos projetos pode ajudar a reduzir a fila por moradia. “A grande lição é que nunca se pode trabalhar com apenas um modelo. É evidente que o crédito é alternativa para determinado setor da sociedade. Mas outras políticas precisam existir, que incluam programas sociais e de apoio ao aluguel. Direito a moradia não é direito a propriedade. É viver bem com tranquilidade”, disse em entrevista ao Metro Jornal no início do ano.