Um levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), divulgado ontem, mostra que o desmatamento segue avançando sobre as áreas remanescentes do bioma. De 2015 para 2016, segundo este estudo, houve um aumento de quase 60% no desmatamento no país.
Segundo o levantamento, no período de um ano houve o desmatamento de 29.075 ha (hectares), ou 290 Km2, nos 17 Estados brasileiros do bioma Mata Atlântica – representando um expressivo aumento de 57,7% em relação ao período anterior (2014-2015), quando foram desmatados 18.433 ha.
Os dados são preocupantes. De acordo com a diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, há 10 anos não era registrado um desmatamento nessas proporções. “O que mais impressionou foi o enorme aumento no desmatamento no último período. Tivemos um retrocesso muito grande, com índices comparáveis aos de 2005”, disse. De 2005 a 2008 a destruição foi de 102.938 ha, ou seja, média anual de 34.313 ha.
A Bahia liderou o desmatamento, com supressão de 12.288 ha de mata – alta de 207% em relação ao ano anterior, quando foram destruídos 3.997 ha. Dois municípios baianos – Santa Cruz Cabrália e Belmonte – foram os maiores desmatadores, com supressão de 3.058 ha e 2.119 ha, respectivamente.
O segundo estado que mais desmatou foi Minas Gerais, com 7.410 ha, seguido por Paraná (3.453 ha) e Piauí (3.125 ha). Em Minas, os principais pontos de desmatamento ficaram nos municípios de Águas Vermelhas (753 ha), São João do Paraíso (573 ha) e Jequitinhonha (450 ha), região reconhecida pelos processos de destruição da Mata Atlântica para produção de carvão ou pela conversão da floresta por plantios de eucalipto.
Minas Gerais, aliás, liderou o ranking do desmatamento em sete das últimas nove edições do Atlas da Mata Atlântica, sempre com municípios dessa região figurando na lista dos maiores desmatadores.
No Paraná, os índices voltaram a subir pelo segundo ano consecutivo, passando de 1.988 ha destruídos entre 2014 e 2015 para 3.545 ha entre 2015-2016, aumento de 74%. E um alerta continua: a destruição concentra-se na região das araucárias, espécie ameaçada de extinção, com apenas 3% de florestas remanescentes.
Só 5 têm desmatamento zero
Apesar do compromisso assinado em 2015 pelos 15 secretários de Meio Ambiente dos Estados da Mata Atlântica, de zerar o desmatamento até 2018, esse último levantamento aponta que só cinco cumpriram a meta até agora. Aparecem com menos de 100 hectares de supressão da mata (incluindo florestas, mangues e restingas) Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro. Estiveram já no desmatamento zero, mas agora saíram, Goiás, Ceará e São Paulo.
O caso de São Paulo, entretanto, tem mais a ver com fenômenos naturais que com a ação humana. “Apesar do grande aumento do desmatamento em São Paulo, é importante destacar que 90% ocorreu por causas naturais, mais especificamente vendavais e tornados que atingiram os municípios de Jarinu, Atibaia, Mairinque, São Roque e Embu-Guaçu em 5 de junho do ano passado”, esclareceu Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo Inpe.