O que te levou a se lançar ao governo estadual?
Isso é resultado de um processo coletivo. De 2014 para cá, uma parte da militância queria que eu me dispusesse a ser candidato a governador, mas me recusei a discutir isso, não quis renunciar a um mandato (de prefeito) para ser candidato. Então, de lá para cá, isso já era discutido. No final do meu mandato, em 2016, começou todo um processo colocado por grande parte dos nossos deputados federais e estaduais para que eu estivesse à disposição do partido para presidi-lo nacionalmente, e eu rechaçava. Se alguns me viam como possível candidato ao Estado, tinha que ficar aqui em São Paulo. Então, foi uma construção partidária tranquila e chegamos à conclusão de que eu deveria assumir a presidência estadual do PT. Isso aconteceu com naturalidade.
E como será trabalhada a candidatura?
Colocamos como foco que precisamos debater o Estado. Hoje, ninguém discute o Estado, até mesmo a população. Se formos em Santo André, São Bernardo, Mauá ou até mesmo no boteco aqui na frente e perguntar qual é o papel do Estado, é capaz das pessoas não saberem responder. Há uma confusão. Qual a grande obra ou política pública do Estado? Muitos não sabem. Parte disso, a responsabilidade é da mídia, que acaba discutindo mais questões nacionais do que estaduais. Então, o PSDB acaba tendo vantagem. Além disso, tem o jeito do (Geraldo) Alckmin (governador pelo PSDB), que não briga com ninguém. Ele nunca fala não, só que também não faz. Um governo que fala muito em ser planejador e gestor, mas, de fato, planejamento não tem nada.
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Qual o plano do partido para resolver os problemas do Estado então?
É fazer grande diagnóstico em cada tema, observar e produzir mudanças.
O partido já tem discutido esses temas?
Já. Na sequência do debate da plataforma nacional de governo do Lula, vamos introduzir também o debate sobre São Paulo.
Alckmin foi reeleito em 2014 no primeiro turno e em plena crise hídrica. Ele perdeu só em um cidade. Como fazer para reverter isso desta vez?
Chamando a atenção do eleitor. Não adianta o cidadão ficar reclamando da qualidade nos serviços públicos e votar em alguém que mantem isso péssimo. A população está contente com a segurança pública, saúde na rede estadual, com as escolas, com o transporte metropolitano? Também vamos mostrar o que nós já fizemos. Fui ministro em duas pastas importantes (Previdência e Trabalho, entre 2005 e 2008) e construí legados. Fui prefeito de São Bernardo por 8 anos e tenho muito a falar do que fiz na cidade. A reestruturação da saúde no município, por exemplo, é o que queremos fazer em todo o Estado. Se olhar a eleição de 2014, foi muito difícil para o PT. Tinha o desgaste grande por conta do governo da presidente Dilma (Rousseff), os questionamentos em relação à liderança dela e havia também repercussão global na economia brasileira que começava influenciar os resultados eleitorais. E o Alckmin se beneficiou de tudo disso, nas nossas dificuldades.
A eleição municipal de 2016 também mostrou um domínio tucano. A que atribui esse mau desempenho do PT?
Em 2002, fomos para o segundo turno, eu era vice do (José) Genoino (candidato do partido ao Estado no ano), a gente quase ganhou com o Lula liderando tudo isso. Vamos repetir esse processo em 2018 também sob a liderança do Lula. Em 2008, deixei o ministério para ser candidato a prefeito. Na ocasião, eu tinha 3% de intenção de votos e disse: ganharemos essa eleição pelo que vamos construir durante a campanha. E é o que vamos fazer agora. Em 2016, foi um resultado totalmente fora da curva. Tinha aquele tsunami eleitoral (contra o PT). O maior fenômeno do PSDB foi o João (Doria) que não trabalha, que é o prefeito de São Paulo. Ele diz que é gestor, mas não faz a gestão da cidade. Diz que não é político, mas só viaja para tentar ser presidente. O Doria teve só 30% do total de votos. E é isso que temos que olhar. Então, parte do eleitorado que foi levado pelo massacre midiático que sofremos também não votou no Doria. Essa massa foi para abstenção, brancos e nulos, que, se juntar, foram maiores do que os votos do Doria. Em 2016, as pessoas não queriam nos ouvir. Agora, estão ouvindo. A partir do golpe (impeachment), estamos recuperando gradativamente a imagem e a possibilidade de ser ouvido. Sendo assim, temos todas as condições de ganhar as eleições. Então, temos que reconhecer que o (Michel) Temer (PMDB) está sendo um grande cabo eleitoral nosso.
Então o impeachment foi bom para o partido?
Por vias tortas ou retas, estamos recuperando nosso sucesso. Rasgaram a constituição para cassar uma mulher honesta. Não tinha uma denúncia de corrupção contra a Dilma, sendo que todo o debate era de um combate à corrupção. Tiraram a Dilma e botaram o Temer, isso é de dar risada. Botaram uma quadrilha para cuidar do Palácio junto com o PSDB. Isso o povo começa a enxergar e ter saudade do Lula. Por isso, ele lidera a pesquisas.
O senhor falou de ter o Lula como pilar para as campanhas estaduais, mas existe a possibilidade de ele nem concorrer por conta da situação jurídica. Qual o plano B do partido?
Não enxergamos essa possibilidade. Não acredito que essa perseguição insana do (juiz Sérgio) Moro será levada até o final. Não é só uma mera discussão técnica-jurídica. É uma disputa política. O julgador tem que julgar com base nas provas. Se não tem prova, acabou a sentença. Não temos plano B. O Lula é o nosso candidato e fim de papo.
O senhor responde um processo sobre possíveis irregularidades e desvios na obra do Museu do Trabalho e do Trabalhador, em São Bernardo. Acha que isso pode prejudicá-lo na eleição?
É uma investigação sem pé nem cabeça. O único arrependimento que tenho nos oito anos como prefeito é de não ter acabado o museu. O Ministério da Cultura entrou num processo de enrolação e acabou não liberando os recursos complementares. Como sempre trabalhei com a lógica de captar o máximo de recursos para poder fazer mais com o recurso próprio, acabei não tomando essa decisão e fiquei dependente do ministério. A partir daí, veio a investigação. O que posso garantir é que a acusação do Ministério Público Federal não passa de uma fantasia. Desafio provar que teve algum desvio de recurso e que tenha um centavo nas minhas contas. Não deve prejudicar a campanha, porque já estamos acostumados a lidar com essas coisas (acusações).