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Mesmo com mais população, bairros periféricos de São Paulo contam com iluminação pública precária

Os cinco bairros com melhor iluminação pública em São Paulo somam uma quantidade de lâmpadas por km² equivalente a dos 23 menos iluminados.

Se para quem mora no centro da cidade, queixas sobre a iluminação pública não são incomuns, a realidade para quem vive nas áreas mais afastadas consegue ser ainda pior.  De acordo com o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, divulgado na terça-feira (5) pela Rede Nossa São Paulo, os cinco bairros com melhor iluminação pública da Capital (República, Sé, Liberdade, Santa Cecília e Jardim Paulista) somam uma quantidade de lâmpadas por km² equivalente a dos 23 menos iluminados.

A desproporção se torna mais chocante se levarmos em conta a diferença populacional. Os bairros mais iluminados atendem cerca de 300 mil pessoas, em uma área de 18 km², enquanto os 23 com iluminação mais precária concentram quase 3,5 milhões de moradores em mais de 870 km².

Esta é a primeira vez que o instituto realiza o levantamento, baseado em dados oficiais referentes a 2016 e disponibilizados pela Secretaria Municipal de Serviços e Obras. O sociólogo Américo Sampaio, responsável pelo estudo, aponta que os dados indicam um claro privilégio da região central em relação às áreas periféricas, justamente as que concentram a maior parte da população. «É absurdo que na mesma cidade haja uma diferença tão grande de um bairro para outro. A iluminação pública pauta agenda de segurança pública e tem impacto direto no dia a dia das pessoas, especialmente das mulheres.»

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Por ser um estudo inédito, os dados ainda não foram cruzados com outros índices, como o de criminalidade. Porém, a professora da Faculdade Arquitetura e Urbanismo da USP Luciana Royer afirma que é possível relacionar uma iluminação pública precária com maiores ocorrências de crimes como assaltos, furtos e estupros.

Não é de hoje

São Paulo passou por um intenso processo de industrialização nas décadas de 1960 e 1970. Isso fez com que os locais próximos do centro da cidade ficassem mais valorizadas, obrigando parte da população a migrar para as áreas mais afastadas, com condições de infraestrutura mais precárias.

«É um problema de caráter histórico e estrutural, mas também tem muito a ver com as escolhas políticas da atual gestão de priorizar as áreas centrais da cidade. Se esses problemas não são colocados em primeiro lugar, eles tendem a se agravar cada vez mais», aponta Luciana. «Claro que não é algo que se resolva da noite para o dia, são décadas para poder reverter o padrão de urbanização e a desigualdade na cidade. Mas é fundamental que o poder público olhe com atenção para essa realidade.»

E o futuro?

Em nota, a prefeitura disse que está dando seguimento à PPP (Parceria Público-Privada) da iluminação pública, de 2015, que prevê a instalação de lâmpadas de LED em mais de 552 mil pontos de luz existentes na cidade, visando à redução de gastos.

Porém, a administração não esclareceu se serão instalados novos pontos de luz nas áreas mais carentes de iluminação no município.

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