«Não é não». Quem é mulher sabe exatamente do que se trata essa frase. Mas, caso você ainda não esteja familiarizado com ela, é melhor se acostumar: essas palavras prometem tomar conta dos blocos de rua de São Paulo no Carnaval deste ano. A mensagem estará estampada em tatuagens temporárias no ombro, no braço, no decote e, se for preciso, na testa das mulheres para mostrar a importância do respeito à liberdade de escolha.
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O projeto começou como algo pequeno, apenas entre um grupo amigas, no Rio de Janeiro, após a designer de moda Aisha Jacob, de 27 anos, sofrer um assédio em uma roda de samba. «Ele insistiu três vezes, até que enfiou a mão dentro do meu shorts. Eu fiz um escândalo, fiquei com muita raiva. Os homens, infelizmente, ainda não sabem o valor da palavra ‘não’. Acham que um ‘não’ pode ser um ‘sim’ mascarado. E não é nada disso.»
Depois de conversar com as amigas e perceber o quanto esse tipo de situação é comum na vida das mulheres, ela decidiu tentar mudar essa realidade. Em um grupo de WhatsApp, cerca de 40 mulheres contribuíram para financiar o projeto. No final, foram produzidas 4 mil tatuagens, distribuídas entre elas nos blocos de Carnaval no centro do Rio. «O mais legal foi a rede de apoio. Você olhava para o lado e via uma menina com a tatuagem. Era quase como um consentimento de que você poderia contar com ela para qualquer coisa que acontecesse», afirma.
A campanha deu tão certo que elas decidiram abrir um financiamento coletivo pela internet para tentar expandir o projeto para outros Estados. O resultado? Neste ano, mulheres de cinco cidades no país – Recife, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro – irão receber as mais de 25 mil tatuagens que as jovens conseguiram produzir. Tudo isso também foi possível pelas parcerias firmadas com blocos de rua nesses Estados, além das pessoas que se disponibilizaram para distribuir as mensagens.
Veja onde é possível conseguir uma tatuagem em São Paulo:
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Só para mulheres
As integrantes do movimento fazem questão de ressaltar: o projeto é feito de mulheres para mulheres. «As coisas sempre foram feitas para os homens. Por que ter que incluir eles agora?», questiona Aisha. «No ano passado, teve homem que ficou chateado, mas também tiveram aqueles que entenderam que não fazia o menor sentido eles usarem a tatuagem.»
A designer entende que muitos querem participar, mas considera fundamental que os homens se informem e estejam abertos a ouvir e dialogar com as mulheres. «O que a gente quer é aproximar, conseguir conversar, explicar ‘olha, o que você fez aqui não é maneiro. Você forçar um beijinho não é legal’, explica.
Para os homens que contribuíram com o financiamento pela plataforma de arrecadação online, o grupo não enviou as tatuagens. Ao invés disso, eles receberam um e-mail com recomendações de vídeos e textos sobre feminismo para que eles pudessem conhecer mais a fundo a causa.