Uma simples caminhada pelas ruas de São Paulo pode parecer um passeio por terras estrangeiras. A variedade de idiomas que se ouve pela cidade é cada vez maior. São imigrantes e refugiados, de quase 200 nacionalidades, à procura de um lugar para chamar de seu, forçados a deixarem seus países, seja por crises econômicas agudas, ditaduras violentas ou guerras.
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Visivelmente nervoso, o jovem refugiado Y.D. (que prefere não ser identificado) falava com dificuldade com a professora durante uma aula do curso de português para refugiados no Sesc Carmo, no centro de São Paulo. Recém-chegado da Mauritânia, país islâmico ao noroeste da África, ele precisava ir ao médico e pedia ajuda para explicar que sentia tontura e que até chegou a cair. A dificuldade para se comunicar é um dos principais obstáculos para quem busca refúgio em outro país.
Clariana Lucas, docente do Senac, que ministra as aulas no Sesc Carmo desde 2015, escreveu uma carta informando os sintomas relatados pelo rapaz para que ele levasse ao médico. “É uma situação comum”, diz a professora. Ela admite que a tarefa não é fácil. “Além da língua, tem toda uma diferença cultural.”
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Não faltam situações de confusão com o idioma. Outro aluno também teve problemas relacionados à consulta médica. A receita listava vários remédios, mas o refugiado não entendia o que estava escrito e, por não ter dinheiro para comprar todos, escolheu às cegas e acabou sem o principal medicamento: o antibiótico.
“As dificuldades são diferentes para cada um. Os falantes de inglês, por exemplo, têm que lidar com uma gramática muito diferente. Mas o maior desafio para todos é aceitar que precisam aprender este idioma”, diz a docente do Sesc. Para ela, essa barreira tem relação com a aceitação (ou não) da nova realidade que vivem.
A oferta de cursos gratuito de português é, aliás, um dos atrativos para refugiados no país. Antes de vir ao Brasil, o congolês Ibrahim Kambi tentou se refugiar na Argentina, mas não encontrou cursos gratuitos de idioma por lá. Desembarcou na capital paulista há poucos meses, segundo ele, fugindo da prisão ou da morte por ter questionado os políticos do seu país.
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O congolês estuda atualmente na Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil), outra instituição que oferece aulas gratuitas de português para refugiados na cidade. “Na Argentina não tinha nada disso”, diz Kambi.
Cursos na periferia
A rede municipal de ensino desde o meio do ano passado está oferecendo também aulas gratuitas de português em regiões de alta vulnerabilidade social da cidade onde há pouca oferta de cursos e com maior incidência da população imigrante e refugiada. A iniciativa é uma parceria entre as secretarias municipais de Educação e de Direitos Humanos e Cidadania. As aulas são oferecidas em 10 unidades nas zonas norte e leste, principalmente no período noturno:
Zona Norte
EMEF Dona Angelina Maffei Vita
EMEF João Domingues Sampaio
EMEF Infante Dom Henrique
EMEF Vereador Antonio Sampaio
Zona Leste
EMEF Presidente Epitácio Pessoa
EMEF Profa. Conceição Aparecida de Jesus
EMEF José Maria Whitaker
EMEF Dr. Fábio Silva Prado
EMEF Arthur Azevedo
EMEF CEU Jambeiro
“Bombas impediam de estudar”, diz jovem síria
Usando o véu conhecido como hijab, típico da cultura islâmica, a sorridente Zubaida Al Hariri, 12 anos, nascida em Damasco, capital da Síria, conversou com a reportagem do Metro Jornal sobre o drama que a tornou uma refugiada. Há dois anos no Brasil com sua família – os pais e dois irmãos -, simpática e falante, demonstrou que já domina o português e relembrou os motivos que a fizeram sair de sua terra.
“As pessoas estão morrendo por causa da guerra, as casas estão sendo destruídas por bombas, não conseguia mais nem estudar, muitas vezes quando estava indo para a escola, chegava aviso de bombardeios e não podia ir, ou se fosse não conseguia prestar atenção na aula”, conta a jovem.
Sua casa não chegou a ser destruída por bombas, mas teve janelas e paredes afetadas. Mas ela afirma que, apesar disso, a violência da guerra na Síria atingiu sua família de outras maneiras. “Três primos do meu pai morreram, e um irmão dele está desaparecido.”
Vida nova
Há um ano ela está com a família em São Paulo, atualmente cursa a sétima série do ensino fundamental, na Escola Estadual Eduardo Prado, no Brás. “É o lugar onde mais gosto de estar”, diz. Ela tem planos para o futuro. “Quero ser professora de arte, gosto muito de desenhar, mas também posso ensinar português, geografia e história que são matérias de que eu gosto.”
Zubaida também participa das aulas de português do programa de educação da ONG IKMR (I Know My Rights, Eu Conheço Meus Direitos, em português), no Brás, centro. Adaptada ao país, ela admite que sente saudade de Damasco. “Queria voltar para minha cidade, mas não dá.”
Cursos de português para refugiados
Caritas Arquidiocesana de São Paulo. Rua José Bonifácio, 107, 1º andar – Centro. Tel.: 11 4873-6363. E-mail: integracao@caritassp.org.br
Compassiva. Rua da Glória, 900 – Liberdade. Tel.: 11 2537-3441. www.compassiva.org.br
BibliASPA. Rua Baronesa de Itu, 639 – Santa Cecília. Telefone: 11 99609-3188
ADUS. Avenida São João, 313 (11 andar) – Centro. Tel.: 11 3225-0439
Projeto Si, Yo Puedo – CIC do Imigrante. Praça Kantuta – Canindé. Tel.: 11 3241-3239 (Caritas SP)
Unidades do SESC em São Paulo. Carmo, Consolação e 24 de Maio. www.sescsp.org.br/unidades