Chefe do escritório do Acnur, agência da ONU (Organização da Nações Unidas) para refugiados em São Paulo, Maria Beatriz Nogueira, fala ao Metro sobre o acolhimento aos estrangeiros na cidade. Segundo ela, a capital paulista nunca recebeu fluxos massivos, mas os deslocamentos atuais de refugiados são expressivos para o tamanho e perfil da rede de atendimento disponível. Leia trechos da entrevista à seguir.
Como é a atuação do Acnur junto a rede de atendimento aos refugiados em SP?
Nos diversos países a missão da agência da ONU para refugiados é de assessorar governos a prover proteção e buscar soluções para as situações de refúgio. No Brasil, e sobretudo em São Paulo, há uma vocação da região em auxiliar as pessoas que chegam no processo de integração local. São dezenas de instituições atuando em frentes distintas, como no ensino da língua, capacitando para novas profissões e facilitando o acesso às políticas, serviços de saúde, moradia, entre outros.
O acolhimento contempla a realidade atual?
O foco precisa ser ampliado. Nossa política municipal para estrangeiros é muito genérica, até porque estima-se que o número de refugidos seja pequeno se comparado ao de imigrantes. Por isso estamos buscando apoiar o poder público, por meio de articulações de ONGs como a IKMR, que atende especificamente as crianças, para fazer essa diferenciação.
Quais são as principais ações dessas ONGs?
Os atendimentos vão desde o acolhimento às novas chegadas, com orientação jurídica, encaminhamentos de documentação e de proteção e assistência social, fornecendo, por exemplo, bolsas de subsistência para populações mais vulneráveis, a Caritas está principalmente nessa frente, e há outros atendimentos, como para crianças e a revalidação de diplomas.
ONG IKMR é pioneira no atendimento a crianças
Criada em junho de 2012, a ONG IKMR (I Know My Rights, ou Eu Conheço os Meus Direitos, em português) é pioneira no atendimento de crianças refugiadas em São Paulo. A fundadora e diretora-executiva da instituição, Viviane Reis, conta que as ações têm como foco a integração, por isso de maneira indireta atende também os adultos.
“Muitas vezes o que a criança mais precisa é que a mãe aprenda o português, que o pai consiga um emprego, que um avó passe por um médico, ou seja, é preciso cuidar do núcleo familiar”, explica a diretora da IKMR. Ela conta que no início a ideia enfrentou barreiras. “Muitos resistiam a ideia de ajudar uma criança que vem de fora, sendo que temos tantos problemas para solucionar aqui.”
Mas a fundadora da ONG não desistiu. “Não é possível que estejamos destruídos ao ponto de aceitar que uma criança possa ser morta, violada, passar fome, sofrer barbáries para atravessar fronteiras, que tenha suas famílias dispersas. Será que não podemos fazer nada por essas pessoas?”, questiona Viviane.
A entidade, que começou com uma página nas redes sociais, hoje promove ações, que vão da educação à assistência emergencial, como fornecimento de medicamentos, alimentos e auxílio para que familiares possam também vir ao país. “Já conseguimos reunir mais de uma dezena de famílias.”
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Clique solidário
O projeto Expressões e Histórias da publicitária Claudia Bork Saad e do fotógrafo Angelo Pastorello pretende levantar recursos para apoiar a ONG IKMR, que atende 150 famílias com cerca de 450 crianças e jovens em situação de refúgio em São Paulo.
A primeira ação da dupla é um livro de retratos e crônicas de 100 personalidades. Toda a renda será revertida para a causa das crianças refugiadas. Qualquer pessoa pode ajudar com doações a partir de R$ 10 na plataforma de crowdfunding Kickante.
“Mais de 50 pessoas já foram fotografadas”, conta Viviane Reis, diretora da IKMR. Entre eles, Marcelo Tas, Malu Mader e Tony Belotto, Flávia Alessandra e Ricardo Boechat. Acompanhe no instragram: @expressoesehistorias.
Quem faz o acolhimento de refugiados