Vinte e cinco pessoas morreram e centenas ficaram feridas neste domingo na Guatemala quando o Vulcão de Fogo, classificado como um dos mais ativos da América Latina, expeliu rochas, fumaça preta e cinzas no céu da capital do país, na erupção mais violenta e letal desde 1902 no país. E o rio de lava derramada atingiu a aldeia de El Rodeo, matando pessoas dentro de suas próprias casas.
Uma grande erupção desse vulcão devastou fazendas próximas em 1974, mas nenhuma morte relacionada ao fato chegou a ocorrer naquela época.
A atividade vulcânica lançou cinzas a uma altura de 6 km – outro sinal de sua força quando comparado a uma outra erupção em fevereiro, quando a dispersão alcançou 1,7 km.
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A erupção ocorre menos de um mês após a atividade do vulcão Kilauea ter se intensificado no Estado americano do Havaí.
O Kilauea é um dos vulcões mais ativos do mundo – para se ter uma dimensão do fenômeno, sua erupção atual começou há 35 anos, mas houve aumento de atividade nas últimas semanas.
Rios de lava estão invadindo quintais das casas e bairros estão sob risco de ficarem isolados. Apesar disso, apenas uma lesão grave foi registrada até agora – o caso de um homem atingido por uma rocha lançada ao ar pelas explosões, há duas semanas, quando estava sentado na varanda de casa.
Isso pode até dar a impressão de que os vulcões não são tão perigosos assim, mas grande parte da população mundial vive perto de um vulcão ativo e muitos deles são muito mais mortíferos que o Kilauea. Anualmente, cerca de 60 vulcões entram em erupção no mundo.
Registros
Desde o ano 1500, cerca de 280 mil pessoas foram mortas por vulcões, sendo 170 mil vítimas de apenas seis erupções.
Esses números foram compilados a partir de informações coletadas entre em registros públicos, documentos históricos e relatos de imprensa.
Cerca de 2 mil pessoas foram mortas desde o ano 2000.
A maioria dessas mortes foi causada por correntes de lama vulcânicas nas Filipinas, por fluxos piroclásticos – que são correntes de gás quente, cinza e rochas lançados durante erupção vulcânica – na Indonésia e como ocorreu na Guatemala, por rios de lava na República Democrática do Congo e projéteis vulcânicos no Japão. No ano passado, três turistas morreram na Itália quando caíram no buraco de uma cratera vulcânica.
Cerca de 800 milhões de pessoas vivem, atualmente, a 100 km de um vulcão ativo – uma distância dentro do alcance de perigos vulcânicos potencialmente letais. Desse total, cerca de 200 milhões estão na Indonésia.
Como as populações continuam crescendo, é provável que mais pessoas se instalem perto de um dos 1.500 vulcões ativos do mundo, espalhados por 81 países.
O fato de estarem ativos não significa que todos esses vulcões estejam expelindo lava, mas que são capazes de novas erupções.
Riscos variados
Os vulcões representam muitos tipos diferentes de perigo para quem vive nas proximidades.
No caso do Kilauea, o Serviço Geológico dos Estados Unidos notou um aumento acentuado na atividade sísmica no final de abril, com as primeiras fissuras aparecendo no início de maio.
Desde então, os rios de lava viajaram cerca de cinco quilômetros até o oceano, destruindo casas e levando à retirada de milhares de pessoas de suas casas. Esses rios de lava, no entanto, não costumam matar muita gente.
Enquanto queima e encobre tudo pelo caminho, a lava – rocha derretida com temperaturas ao redor de 1200ºC – se move lentamente o bastante para que as pessoas consigam se afastar.
O perigo surge quando as pessoas não conseguem sair rapidamente. No Havaí, vários moradores precisaram ser resgatados por via aérea após suas rotas de fuga serem bloqueadas pela lava.
A lava pode causar explosões, incluindo a ignição de bolsões de gás metano produzidos enquanto encobre a vegetação.
E quando alcança o oceano forma novas terras instáveis e uma mistura de lava e neblina conhecia como «laze» – nuvens de vapor, ácido clorídrico e estilhaços de vidro.
Ar contaminado
Outro perigo no Havaí é o dióxido de enxofre, um dos vários gases que podem ser liberados pelos vulcões, mesmo quando não estão em erupção.
No entanto, lava e gás combinados são responsáveis por menos de 2% das mortes vulcânicas registradas.
O maior número de mortes decorrentes da liberação de gás vulcânico ocorreu em 1986, no Camarões, onde mais de 1.500 pessoas perderam suas vidas quando o dióxido de carbono do lago Nyos se moveu para as aldeias vizinhas.
A maioria das pessoas mortas por vulcões é vítima de fluxos piroclásticos e de «lahars» – correntes de lama vulcânicas cheias de destroços -, que foram responsáveis por cerca de 120 mil mortes nos últimos 500 anos.
Estas são normalmente associadas a grandes vulcões de formato cônico encontrados em fronteiras tectônicas, como o chamado Anel de Fogo, no Pacífico, ao contrário dos chamados «vulcões escudo», que são levemente inclinados, como o Kilauea.
Fluxos piroclásticos são avalanches muito rápidas de rocha, cinzas e gás, que podem atingir temperaturas de 700ºC.
Eles destroem tudo pela frente, e a morte é quase certa para qualquer um pego nesse caminho.
Foram os fluxos piroclásticos que destruíram a cidade romana de Pompeia no ano 79 d.C. E também os responsáveis pelas mortes de quase 30 mil pessoas na ilha caribenha de Martinica, em 1902.
Destroços em movimento
Os lahars podem conter rochas, árvores e até casas.
Elas se formam a partir de chuva, neve ou gelo derretido, e carregam em alta velocidade os depósitos de cinzas das encostas dos vulcões.
Em 1985, cerca de 25 mil pessoas foram mortas por lahars em Nevado del Ruiz, na Colômbia.
Em grandes erupções, as cinzas vulcânicas podem viajar centenas ou até milhares de quilômetros. Podem encobrir áreas extensas e interromper serviços de transporte e outros considerados essenciais.
Historicamente, são eventos seguidos de fome e doenças, com quebras de safras ou cinzas e gás levando a mudanças temporárias no clima local.
No entanto, apesar de incontroláveis, erupções vulcânicas não resultam necessariamente em morte e desastre.
Apenas uma lesão grave ter sido relatada no Havaí é prova do trabalho que vem sendo realizado por observatórios de pesquisadores e agências de gestão de desastres, bem como de excelentes sistemas de monitoramento.
Infelizmente, recursos limitados significam que poucos vulcões ao redor do mundo são tão bem monitorados quanto o Kilauea.
O acompanhamento por satélite permite alguma observação até mesmo dos vulcões mais remotos, mas apenas cerca de 20% dos vulcões do mundo têm algum monitoramento baseado em terra.
E a cada dois anos, aproximadamente, um vulcão sem registro histórico entra em erupção.
Estes podem ser os mais perigosos, pois longos períodos de dormência podem terminar em erupções mais explosivas – e as pessoas que vivem nas proximidades podem ser as menos preparadas para isso.
Observatórios de vulcões, pesquisadores e organizações internacionais trabalham incansavelmente para responder a emergências e prever eventos como esses, com muitas dezenas de milhares de vidas salvas como resultado.
É claro que os vulcões não precisam matar pessoas para causar um impacto significativo.
Erupções arrancam as pessoas de suas casas, meios de subsistência são perdidos, a agricultura é devastada e as perdas econômicas podem chegar a bilhões.
Mesmo quando parecem estar adormecidos, é prudente continuarmos de olho nos vulcões do mundo.
*Este artigo foi encomendado pela BBC a uma especialista que trabalha para uma organização externa. A Dra. Sarah Brown é pesquisadora sênior em Vulcanologia na Universidade de Bristol. Em seu trabalho, ela foca especialmente em registros vulcânicos, atividade passada, impacto nas pessoas e comunicação de risco.