Os moradores da Vila Prudente, na zona leste da capital, e de São Caetano relatam os momentos vividos e contam os prejuízos causados pelas fortes chuvas que atingiram a região entre domingo e ontem.
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“Não consegui entrar em casa. Em nove minutos, alagou tudo. Fizeram piscinão (Vila Prudente), mas não sei se está funcionando. A água atingiu dois metros de altura”, conta a aposentada Maria dos Santos, 62 anos.
A aposentada Sônia Aparecida de Oliveira, 54 anos, diz que não foi possível resgatar nada por conta da velocidade da água. “Foi igual um mar. Meus filhos começaram a levantar as coisas, mas não deu tempo. A gente perdeu tudo. Faz 40 anos que moro aqui, e essa é a maior enchente. Muita gente se junta e vem ajudar”, conta.
“Foi horrível. Já peguei enchente aqui, mas nunca igual a essa. Meu quintal virou um rio. Eu sofri, porque meu vizinho é acamado, e eu corri para ajudar a subir. Mas eu não tinha muita força. Ainda bem que as pessoas estão trazendo ajuda”, conta Rita de Cássia Sales Arai, 58 anos, servidora pública.
Em meio ao caos, voluntários e moradores se uniram para abrigar outras pessoas e distribuir donativos. “A gente fez uma vaquinha para fazer cestas. Tem muita gente pedindo produtos de limpeza e alimentos que não precisam de fogão para serem preparados”, conta a jornalista Beatriz Farrugia, 29 anos. Abrigando 20 pessoas em sua casa, a auxiliar de embalagem Joyce Alves Veneziano, 22 anos, ajuda os que não têm mais onde morar. “Colocamos o máximo de gente possível”, conta.
Família comemorava aniversário
As vítimas do soterramento em Ribeirão Pires, no ABC, festejavam o aniversário de um jovem de 22 anos antes da tragédia que matou três irmãos e um primo. O aniversariante era Carlos Eduardo Fernandes, irmão de Renata, 35 anos, e Rodrigo, 32, todos mortos após o deslizamento de terra. O primo era Anderson José Pimenta, 33 anos.
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Os bombeiros conseguiram resgatar com vida uma mulher de 52 anos e uma criança de 9. Elas foram encaminhadas para o hospital Dr. Radamés Nardini, em Mauá.
Outros 22 moradores de Ribeirão Pires foram desabrigados por conta dos riscos de deslizamento no bairro Estância das Rosas e precisaram de auxílio da assistência social.
Minha noite no viaduto
Saí do Itaim Bibi às 21h40 debaixo de chuva. Fiz ‘o caminho da roça’ para São Caetano e achei que chegaria em casa só um pouco além dos 30 minutos habituais. Perto do Sacomã, percebi que meu palpite era furado. Passei pela avenida Presidente Wilson com água nos pneus e quando cheguei no fim, achando que o pior já havia passado, avistei o rio que se formou na avenida Guido Aliberti e me assustei com dois carro boiando. Entrei no viaduto Luiz Olinto Tortorello para me abrigar. Lá já estavam dezenas de carros com os motores desligados. Dei sorte porque em menos de cinco minutos o acesso ficou submerso. Ficamos ilhados, mas aparentemente seguros. Pelo WhatsApp, minha mãe descobriu que não só eu, mas minha irmã também estava ilhada em Santo André, e desistiu de tentar dormir. Já sabendo que passaria a madrugada ali, falei com minha esposa, racionei a bateria do celular e procurei descansar, mas com frio e com fome, não consegui. Quase ninguém conseguiu. Quando a chuva dava trégua, as pessoas saiam dos carros, tentavam conversar, trocar informações, mas era só para distrair mesmo. Estávamos presos. Após nove horas parado, o nível baixou. Cheguei em casa às 8h. (André Vieira, Metro Jornal)