Há seis meses, o mar de lama da Vale soterrava sonhos, esperanças e vidas. As matas densas e a biodiversidade em Brumadinho, na região metropolitana, eram levadas pelo caminho marrom dos rejeitos da mineração. Desde o desastre, que também destruiu quase 200 km do rio Paraopeba, as feridas ainda seguem marcando a cidade. Até hoje, 22 pessoas estão desaparecidas e outras 248 mortes foram confirmadas. Mesmo com parte das indenizações já acordadas, a população sente no dia a dia os efeitos do rompimento – e até em outros pontos do estado.
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Ontem, a força-tarefa do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) apresentou um balanço sobre as investigações, que devem ser concluídas em 90 dias, e a situação de outras áreas com barragens em risco máximo de ruptura. De acordo com o procurador-geral de Justiça do órgão, Antônio Sérgio Tonet, há “provas seguras” de que a mineradora sabia dos riscos na estrutura. “Dentro de um período razoável, nós teremos condições de apresentar uma denúncia contemplando a exigência de uma responsabilização integral de todos. O que nós vamos fazer agora é definir o grau dessas responsabilidades”, adiantou. E para garantir a reparação, a Vale teve R$ 10 bilhões bloqueados.
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A promotora de Justiça e coordenadora das apurações, Andressa Lanchotti, lembrou da relação “inadequada” entre a companhia e a TÜV SÜD, responsável pelos laudos de estabilidade. “A empresa trabalhava como auditora independente, mas possuía outros contratos vultuosos com a Vale e isso, na nossa visão, maculava totalmente a independência”, criticou.
O procedimento investigatório criminal já conta com mais de mil páginas. “Há uma complexidade muito grande na investigação criminal, porque são milhares de documentos, peças, dezenas de equipamentos eletrônicos apreendidos: computadores, HDs, celulares”, justificou quando foi questionada sobre o motivo de nenhum responsável estar preso.
E sem a água do Paraopeba, até a capital mineira corre risco de desabastecimento – a previsão é que os reservatórios atuais durem menos de 22 meses. A promotora enfatizou que as obras para garantia hídrica da região foram iniciadas. “Ainda não há prazo, outras obras são necessárias e o pagamento de contas acertado, mas temos um entendimento”, disse. Procurada, a Vale reforçou que “as causas do rompimento ainda estão sendo investigadas”. Segundo a mineradora, todos os documentos e informações solicitados foram entregues.
Efeito cascata
Dias após o desastre, outras barragens da mineradora perderam atestados de estabilidade – hoje, três seguem em alerta máximo – e, com isso, centenas de moradores foram retirados às pressas de suas casas. Mesmo assim, a promotora do MPMG alegou que falta assistência da empresa. “Verificamos que esses atingidos vêm recebendo um tratamento inferior àquele que é dado pela companhia aos atingidos de Brumadinho”, finalizou.
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Homenagens
Será realizada nesta quinta-feira (25) uma série de homenagens aos 248 mortos e aos 22 desaparecidos na tragédia da Vale, em Brumadinho, que completa seis meses. As ações serão realizadas em vários pontos afetados pelo colapso da barragem, como na Comunidade do Córrego do Feijão.
No tradicional letreiro da cidade, um ato ecumênico está marcado para começar às 12h28, momento em que a barragem veio abaixo.
O Rio Paraopeba, que perdeu a capacidade de abastecer a população da Grande Belo Horizonte após ser atingido pela lama densa, também será homenageado com flores, inclusive por comunidades indígenas que dependiam da água dele para manter a rotina.