Em meio a uma grave crise política na Itália, o primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou nesta terça-feira (20) que apresentará sua renúncia ao presidente Sergio Mattarella.
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«A decisão da Liga Norte de propor uma moção de censura, a imediata ‘calendarização’ e as declarações e comportamentos claros me levam a interromper essa experiência de governo», disse Conte, em um pronunciamento no Senado. «No fim deste discurso, irei ao presidente para renunciar. A crise atual compromete a ação deste governo, que termina aqui», completou o premier.
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Conte era aguardado no Parlamento italiano nesta terça para fazer um discurso no qual poderia defender a continuidade do governo ou apresentar sua renúncia.
O jurista era o primeiro-ministro da Itália há 14 meses. Ele assumiu o posto por ser uma indicação neutra e consensual entre a Liga Norte e o M5S (Movimento 5 Estrelas). Os dois partidos foram os mais votados nas últimas eleições e, apesar de adotarem posicionamentos políticos diferentes, decidiram se unir e formar uma coalizão de governo baseada em um «pacto político».
Em diversos momentos, porém, os partidos deram sinais de que a aliança estava se enfraquecendo e entraram em confronto sobre vários temas políticos, como um decreto de segurança proposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, da Liga Norte, e um projeto de construção do trem de alta velocidade (TAV), entre Turim e Lyon. Foi justamente uma votação no Parlamento sobre o TAV que causou o racha definitivo no governo no início de agosto. A Liga e o M5S votaram em posições opostas, o que fez com que Salvini decretasse de maneira unilateral o fim da coalizão.
Analistas políticos acreditam que a manobra de encerrar a aliança com o M5S é uma estratégia da Liga Norte de tentar formar um governo sozinha na Itália, pois o partido foi o mais votado neste ano no país para as eleições ao Parlamento Europeu.
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Apoiada pelas pesquisas de intenção que voto que lhe dão 38% das preferências em caso de uma eleição antecipada na Itália, a legenda nacionalista e anti-imigratória poderia formar um novo governo apenas com o apoio de pequenos e médios partidos de direita.
O discurso
O premier demissionário da Itália chegou ao Parlamento por volta das 15h locais (10h de Brasília). A maior parte do seu discurso serviu para atacar Salvini, quem Conte chamou de oportunista e irresponsável. «A decisão de provocar a crise é irresponsável. O ministro do Interior mostrou que está seguindo interesses pessoais e do partido», disse. «Fazer os cidadãos votarem é a essência da democracia, mas pedir para que votem todo ano é irresponsabilidade», ressaltou.
O tom usado por Conte surpreendeu o próprio Salvini, que acompanhou pessoalmente a sessão no Senado e reagiu às declarações balançando a cabeça. «Os comportamentos adotados nos últimos dias pelo ministro do Interior revelam falta de responsabilidade institucional e grave carência de cultura constitucional. Eu assumo a responsabilidade pelo que eu digo», criticou Conte. O premier também afirmou que a decisão de Salvini de colocar fim à aliança com o M5S foi tomada «logo após [a Liga Norte] obter o voto de confiança no projeto de lei de ‘segurança bis’, com uma coincidência eleitoral que sugere oportunismo político».
Em seu discurso, Conte, por fim, alertou que a convocação de eleições antecipadas na Itália apresenta riscos ao país. Segundo ele, além de obstruir o funcionamento do Parlamento no segundo semestre, prejudicaria a Itália nas negociações com a União Europeia. «Esta crise ocorre em um momento delicado da interlocução com as instituições da União Europeia. Nos próximos dias, estão para serem concluídas as tratativas para os comissários europeus e eu estou trabalhando para garantir à Itália um papel central. É evidente que a Itália corre o risco de participar dessa tratativa em condições de fraqueza», afirmou.
O discurso de Conte foi aplaudido pelos políticos do M5S e do Partido Democrático, de esquerda. Pela manhã, o líder do M5S, Luigi di Maio, demonstrou apoio a Conte e disse que, se o premier enfrentasse uma moção de censura, o partido votaria a seu favor. O apoio declarado, porém, não foi o suficiente para poupar o M5S de críticas feitas por Conte também. «Quando o presidente do Conselho de Ministros comparece a uma sessão, o respeito às instituições orienta que se permaneça na sala para escutá-lo. E não há razão que justifique a ausência», alfinetou Conte, referindo-se a um episódio em que parlamentares do M5S não acompanharam um pronunciamento seu no plenário.