O ex-presidente Michel Temer foi o convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira (16). O emedebista respondeu perguntas dos jornalistas sobre as duas vezes que foi preso neste ano, além de comentar sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), a qual chamou de golpe.
O político ainda reiterou que não participou da articulação para a saída da petista, em 2016. Ele disse que era simpático a uma aproximação com a então presidente e com Lula, mas que não havia apoio no MDB para seguir com uma sustentação do governo PT.
«Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo ‘golpe'», disse Temer. «Eu não poderia ser o articulador de um golpe porque chegaria muito mal no governo.» O ex-presidente comentou uma reportagem da Folha de S.Paulo, com mensagens do acervo do portal The Intercept Brasil atribuídas a procuradores da Lava Jato. O texto mostra uma transcrição de uma conversa telefonia entre ele e Lula, gravada no mesmo dia em que o ex-presidente falou com Dilma, em 2016 – conversa essa divulgada para a imprensa.
Veja também:
Governo libera uso de mais 63 agrotóxicos; são 325 só neste ano
Vale do Anhangabaú volta a ter fila gigante por quatro mil vagas de mutirão de emprego
No telefonema, segundo o jornal, Lula pedia reaproximação entre o governo e o MDB, e Temer responde que eles sempre tiverem «bom relacionamento». Segundo Temer, a gravação seria prova de que ele teria trabalhado para a permanência da presidente no cargo.
O ex-presidente admitiu que sua relação com Dilma piorou a partir da publicação do documento «Ponte para o Futuro», com uma agenda de desenvolvimento para o País. Segundo ele, o gesto da publicação do material foi mal interpretado.
«Nós apresentamos como colaboração ao governo», justificou. «Nossa ex-presidente, por razões que eu não consigo entender, achou que aquilo era um gesto de oposição, e aí de fato ela se afastou definitivamente de mim.»
Prisão
O ex-presidente Michel Temer disse que sua prisão, em março, não seguiu o devido processo legal e que a força-tarefa da Operação Lava Jato tenta «quebrá-lo psicologicamente» ao envolver sua filha, Maristela, na acusação em que responde por lavagem de dinheiro. Ele negou as acusações e disse que a filha vai demonstrar «cabalmente» no processo que não recebeu dinheiro.
«Depois que tentaram me derrubar do governo, e não conseguiram, tentam me quebrar psicologicamente envolvendo a minha filha», disse o ex-presidente durante a entrevista, na noite desta segunda-feira, 16.
No caso, conhecido como «Quadrilhão do MDB», o Ministério Público Federal acusou Temer, Maristela, o amigo de Temer João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, e a esposa dele, Maria Rita Fratezi, de lavar R$ 1,6 milhão de origem supostamente ilícita. A acusação diz que coronel Lima teria pago por reformas na casa de Maristela.
«O coronel João Baptista Lima Filho não pagou por essa reforma», rebateu Temer, no programa. Segundo o MPF, o MDB teria arrecadado propina da construtora Engevix para que a empresa assumisse obras da usina nuclear de Angra 3. A propina, segundo a acusação, teria sido paga através de uma empresa do coronel Lima e gasta nas reformas da casa.
O presidente ainda disse que a prisão foi decretada sem que ele fosse ouvido no processo. «O juiz pegou aquilo e, sem indiciamento, sem denúncia, acolhimento de denúncia, sem ouvir o acusado, mandou decretar a prisão», disse.
A prisão foi decretada em março pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio. «Se acontece comigo, você pode imaginar o que pode acontecer com o cidadão comum.»