Uma decisão importante sobre o plantio de cannabis e a comercialização de remédios com base na planta da qual é produzida a maconha será tomada hoje, quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) votará temas como o cultivo e o registro de medicamentos no Brasil.
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Se aprovada, a medida facilitará o registro medicinal no país, segundo Caroline Heinz, vice-presidente da HempMeds Brasil – primeira empresa a receber aprovação da Anvisa para importação de um produto à base de canabidiol, composto químico encontrado na planta e usado para a fabricação de medicamentos para minimizar dores, reduzir convulsões e síndromes, melhorar a memória, entre outros benefícios. Hoje, apenas o Mevatyl tem registro.
Professora do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Lisia von Diemen levanta um problema no caso de aprovação do plantio. O risco é de que a planta pare nas mãos de produtores de maconha.
“Tenho muito receio dos efeitos dessa liberação do plantio porque é muito difícil a fiscalização. Como vai se garantir a destinação certa?”
Lisia von Diemen, Professora do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
A regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil começou em 2015, quando a Anvisa liberou a importação para a pessoa física, para uso próprio e mediante prescrição de profissional legalmente habilitado. O debate, hoje, é sobre a ampliação do acesso ao tratamento, já que não há, no Brasil, produtos semelhantes aos que as pessoas têm importado.
“Uma vez registrado, o medicamento pode ser disponibilizado nas farmácias e o paciente pode comprá-los diretamente após sair da consulta do médico. Caso contrário, os pacientes continuarão dependendo dos produtos importados, tendo que passar por todo o processo burocrático, que tem levado quase trêsmeses para conclusão.”
Caroline Heinz, vice-presidente da HempMeds Brasil
O que será decidido pela Anvisa
- Registro de medicamentos feitos a partir de extratos e derivados da cannabis
- Plantio de cannabis para a fabricação de medicamentos industrializados
Doenças mais mencionadas nos pedidos
- Epilepsia: Testes mostraram redução de 39% na frequência de convulsões
- Autismo: Permite a redução da raiva, da ansiedade e da hiperatividade. Também melhora a qualidade do sono
- Dor crônica: Pacientes com fibromialgia relataram forte redução no número de crises – até 80%
- Mal de Parkinson: Estudo demonstrou melhora no quadro dos pacientes sem os efeitos colaterais causados por outros remédios
- Transtornos ansiosos: Proporciona relaxamento e auxilia para acalmar o corpo e a mente
Outros benefícios apontados
- Intestinos: Reduz inflamações intestinais ao controlar o sistema autoimune
- Estômago: Moderação do apetite
- Ossos: Ajuda a aumentar a densidade óssea e a reduzir a ocorrência de doenças nos ossos
Mitos
“Faltam evidências que comprovem a eficácia”
A eficácia do canabidiol já está provada. A substância existe na milenar medicina chinesa e já foi intensamente testada.
“É o mesmo que THC”
Embora tenham a mesma composição química, não são a mesma coisa. O THC é o responsável pelo efeito psicoativo. O canabidiol anula as propriedades do THC.
«Vicia»
A substância age mais como suplemento do que como medicamento. Não é viciante.
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«Cura o câncer»
Longe disso. O canabidiol alivia alguns sintomas dos pacientes com a doença.
Entrevista: Mercedes Ponce de Léon
Mercedes Ponce de León é porta-voz do coletivo Uruguay Siembra – organizador da Expocannabis Uruguay, que ocorre em 6, 7 e 8 de dezembro em Montevidéu – e referência no assunto no país vizinho
A cannabis medicinal tem avançado no Uruguai?
Existem várias empresas com licença de produção medicinal, flores medicinais foram exportadas para a Alemanha e há mais a ser exportado.
E o mercado mundial?
A cannabis tem muito a avançar no mundo. Veremos o equilíbrio somente quando pudermos explorar o desenvolvimento total da indústria quando a cannabis for removida da lista 1 de entorpecentes proibidos em convenções sobre drogas e nos EUA.
Ainda há o que se descobrir sobre as capacidades de cura da planta?
Já existem vários estudos que afirmam o potencial para várias doenças e ainda há muito trabalho a ser realizado para desenvolver mais e novos produtos. Tudo isso faz parte do trabalho de regulamentação. Mais possibilidades de estudo se abrem e isso é importante no campo da saúde e da ciência. A cannabis ainda pode nos surpreender bastante, desde que você possa continuar investigando sem obstáculos burocráticos e com fundos financeiros.
Uruguai foi a salvação para fotógrafo
Portador de psoríase, o fotógrafo paulista José Kianek Jr., 40 anos, convivia bem com a moléstia até o nascimento da filha. A partir de então, a doença explodiu. “Tive uma crise absurda de psoríase. Perdi praticamente a pele de todo o corpo. As mãos ficaram em carne viva. Fui na dermatologista, comecei a tomar muito corticoide e não estava resolvendo muito bem.”
Foi então que o cunhado dele, que viaja muito, sugeriu buscar canabidiol no Uruguai, onde é liberada a venda. Ele já havia usado e comprovado a eficácia da substância. Kianek aceitou a dica. Com duas gotas pela manhã e à noite, a psoríase acabou derrotada. “Foi impressionante. Em uma semana eu já estava muito melhor. Usei todo o conteúdo e nunca mais tive crise. Já faz três anos.”