Foco

Ex-ministro Maílson da Nóbrega é otimista com a economia brasileira em 2020; leia entrevista

O ex-ministro Maílson da Nóbrega falou ao Metro Jornal sobre as suas expectativas para a economia em 2020. Confira a entrevista.

Participando do 7ª edição do Seminário Nacional de Refeições para a Coletividade da Região Sul, em Curitiba, o ex-ministro Maílson da Nóbrega falou ao Metro Jornal sobre as suas expectativas para a economia em 2020. Otimista em especial com os juros baixos, ele afirma que as projeções de crescimento do PIB, hoje em torno de 2% no boletim Focus, devem melhorar.

Confira a trajetória

• No setor público.
Ministro da Fazenda entre 1988 e 1990 e membro do Board de Governadores do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Publicidad

• Setor privado.
Sócio da Tendências Consultoria, do conselho de diversas empresas e do conselho da Fiesp.

Entrevista com Maílson da Nóbrega

O sr. tem bastante contato com empresários. Como sente as expectativas deles?
Estão mudando para melhor, há uma percepção de que as coisas começaram a andar mais rapidamente. Por várias razões: primeiro a aprovação da reforma da Previdência. Por outro lado, os sinais de demanda começam a melhorar em diversos segmentos, e a origem disso tudo é uma combinação de taxa de juros mais baixa e crescimento da confiança. No caso da taxa de juros, a transmissão da Selic para o sistema bancário e para o mercado de capitais se dá lentamente. E ninguém sabe, a rigor, qual vai ser o efeito. É possível dizer que é muito positivo, mas projetar o quanto será, ninguém sabe. O Brasil em 50 anos nunca teve juros tão baixos, talvez nunca tenha tido. Mudou o padrão. Isso já está produzindo resultados no mercado imobiliário de São Paulo, por exemplo. No mercado de renda mais alta está tudo bombando. Os lançamentos estão sendo vendidos mais rapidamente, a queda de preços parou e a velocidade de vendas é muito maior.

Essa reforma da Previdência ainda vai precisar de ajuste?
Vai precisar ainda fazer um ajuste, mas esse ajuste que foi feito foi muito relevante. A despesa estava crescendo 6% a 7% ao ano e vai crescer 2% ou 3%. Mudou a velocidade do crescimento, e era isso que se imaginava. Eu acredito que vai precisar de uma nova reforma ampla no período de uns 10 anos, não para daqui 2 ou 3 anos.

O ritmo de crescimento não está muito baixo?
Houve uma frustração. No começo do ano muitas casas falavam em 3%. O nosso (índice) na Tendências era de 2,8%, teve gente que falava em 3,5%. Se frustrou porque teve uma sucessão de fatores desfavoráveis, por exemplo a crise na Argentina. É o maior mercado de produtos manufaturados do Brasil. Na indústria automobilística representa 80% das exportações e caiu para 20%, 30%. Em segundo lugar, Brumadinho. A indústria extrativa ia crescer 3% ou 4%, vai cair 3% ou 4%. Fora isso, durante muito tempo ficou todo mundo de pé atrás. Será que o governo vai conseguir aprovar a reforma da Previdência? Eu diria que os bancos por onde eu ando estão muito otimistas, o crédito, tanto pessoa física quanto jurídica, está se expandindo de 15% a 20% em relação a 2018.

Que reformas o Brasil ainda vai precisar?
Para o país voltar a crescer o desafio básico, fundamental, é a produtividade. Por exemplo, nos EUA 80% do crescimento se explica por produtividade. No Brasil, no agronegócio 94% se explica por produtividade, uso de tecnologia, boa gestão e assim por diante. Nesse quesito o Brasil está estagnado.

O governo ainda não parece ter uma agenda clara para isso, não?
Claro que tem. A infraestrutura, por exemplo, é um programa que está andando e tem tudo para gerar produtividade. Infraestrutura tem duas vantagens, quando ela é construída ela é demanda, quando fica pronta é oferta. A reforma tributária tem tudo a ver com produtividade. O caos tributário é a principal causa da baixa produtividade da economia brasileira, o ICMS muda 3,5 mil vezes por ano. Para uma empresa que opera em mais de um estado é uma loucura. Você não consegue acompanhar o que se gasta com advogado, com ações. Na educação ainda não se sabe o que vai acontecer, porque a educação parece não ir bem neste governo.

Os números de emprego apontam muita informalidade. Qual a sua avaliação?
Eu acho que é melhor ter um emprego de baixa qualidade do que não ter nenhum, mas realmente o crescimento do emprego está acontecendo basicamente na subocupação, ou seja, pessoas que não conseguem trabalhar 40 horas por semana, e na economia informal. Com isso, você tem empregos precários, de baixa remuneração. Isso vai mudar com a economia crescendo, e vai acontecer. Não é nada fantástico, mas aqui é um parênteses importante: em 2019, o erro das projeções foi para baixo; em 2020 o erro vai ser para cima, isso por conta do efeito da taxa de juros, que ninguém sabe dimensionar.

Qual o risco político neste governo? Não há muitos atritos desnecessários com o Congresso, por exemplo?
O risco político tem nome e sobrenome: é Jair Bolsonaro. A maneira caótica com que ele gere o governo, a preocupação com assuntos periféricos. Se preocupa com caçar comunistas, agenda de costumes, armar a população, beneficiar os filhos e assim por diante. Mas felizmente esse dia-a-dia dele, porque um dia ele diz uma coisa esquisita, e no outro dia também, isto não está interferindo no andamento da agenda econômica e nem nas expectativas dos empresários. É como se houvesse uma crescente percepção de que ele é assim mesmo, mas que não vai criar dificuldade. O risco é que uma dessas ações dele resulte em uma coisa muito grave. Até agora não.

Siga-nos no:Google News

Conteúdo patrocinado

Últimas Notícias