Uma semana após o governador João Doria (PSDB) anunciar uma força-tarefa para acelerar os testes de coronavírus que ainda aguardam resultado no Estado, o Instituto Adolfo Lutz – laboratório público estadual responsável pelas análises – acumula cerca de 30 mil exames na fila para investigação, mais do que o dobro da demanda reprimida registrada quando a ação foi anunciada pelo governo. As informações estão em boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo divulgado ontem com dados atualizados até 8 de abril.
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No documento, a pasta informa que das 42.895 amostras recebidas até agora para análise, 6.374 estão em triagem, 1.976, em fase de encaminhamento e outras 21.661 encontram-se em análise, totalizando 30.011 testes ainda sem resultado.
No volume de testes ainda não finalizados, há amostras que foram enviadas ao instituto em meados de fevereiro, apontando que o prazo para a liberação dos resultados pode ultrapassar os 50 dias.
O número atual de exames na fila é 150% superior ao registrado no dia 30 de março, três dias antes de o governador anunciar a força-tarefa. Na ocasião, eram 12 mil testes à espera de avaliação, de acordo com o governo.
Além das amostras que aguardam resultado, há ainda 392 testes cancelados e 1.969 não realizados (o motivo não foi informado). Do total de exames recebidos para covid-19 desde fevereiro, só 10.523 tiveram resultados liberados, o que equivale a apenas 24,5% do total.
Demora
O boletim mostra que 18 exames que ainda aguardam processamento foram encaminhados ao instituto nas semanas epidemiológicas 8 e 9, que compreendem o período de 16 a 29 de fevereiro, ou seja, há mais de 50 dias.
A semana com mais testes represados é a 12, referente aos dias 15 a 21 de março. Somando os testes nas fases de triagem, encaminhamento e análise, são 8.881 exames daquele período ainda sem conclusão.
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O cenário de falta de testes e demora na análise das amostras colhidas atrapalha o controle do surto porque impede que os números reais da circulação do vírus sejam conhecidos, destaca a médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
«Essa demora dificulta o monitoramento da epidemia e o acompanhamento do impacto das medidas de controle. Fica difícil saber se estamos conseguindo desacelerar a transmissão. Precisaria de modelos para estimar, mas eles podem ser frágeis, dependendo da metodologia e da informação empregada», diz a especialista.
O epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), destaca a importância do diagnóstico rápido também para o manejo correto dos pacientes. «Principalmente entre os que estão internados, o ideal é que você os mantenha separados de outros doentes para evitar a contaminação. Isso protege também o profissional de saúde. Sem os testes, podem ficar misturados pacientes com problemas respiratórios causados por uma influenza e aqueles com covid-19», destaca.
Segundo balanço da quinta-feira, 9, o Estado de São Paulo acumula 7.480 casos confirmados e 496 mortes por coronavírus, número que pode aumentar de forma expressiva após a análise das amostras represadas.
Ao anunciar, no dia 2 de abril, ações para acelerar a realização dos testes, o governo de São Paulo prometeu formar uma rede de laboratórios que faria um mutirão para zerar a fila.
De acordo com o governo, seriam priorizados na análise os exames de pacientes hospitalizados ou os de vítimas fatais da doença. No dia 2, foi finalizada a análise de testes de 201 pacientes que morreram, dos quais 20 tiveram o resultado positivo para o coronavírus.
Rede
Procurada para comentar o aumento da fila de testes sem resultado, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que o Instituto Butantã passou a ser o responsável por articular a rede de laboratórios que farão o mutirão de análise dos exames.
O instituto, por sua vez, informou que o governo estadual conseguiu mobilizar uma rede de 45 laboratórios, entre públicos e privados, para agilizar o processamento dos testes e que, quando estiver em plena capacidade, a rede fará 8 mil exames diários – 2,5 mil no laboratório do Butantã, 1,8 mil na sede do Instituto Adolfo Lutz, outros 1,8 mil nas suas regionais e 2,9 mil nos demais laboratórios da rede, incluindo os privados. Atualmente, 34 das instituições da rede já estão habilitadas e 11, em fase de credenciamento.
Para o processamento dos exames, diz o Butantã, o Estado está abastecido com 99 mil kits de diagnóstico. Outros 725 mil, importados pelo instituto, deverão chegar no próximo domingo de uma compra que totaliza 1,2 milhão de kits.
O Butantã não informou quando a rede de laboratórios deve estar operando em sua capacidade máxima nem a estimativa de prazo para zerar a fila de amostras represada no Instituto Adolfo Lutz. Mas afirmou que, com o novo modelo, a estimativa é a de que os laudos passem a ser liberados 48 horas após a coleta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.