Pelo menos 59 moradores da maior favela de São Paulo já morreram por coronavírus desde o começo da pandemia. Heliópolis, na zona sul da cidade, tem mais óbitos por Covid-19 do que os bairros do Butantã, Lapa, Brás e Barra Funda somados.
ANÚNCIO
As 60 mil famílias que vivem em becos e vielas tiveram a rotina alterada por causa da doença. A Rádio Bandeirantes conversou com algumas das vítimas para descobrir quem são essas pessoas que estão por trás das estatísticas.
Uma delas, Benedito Lucas de Gouveia, de 66 anos, é descrito como uma pessoa alegre e que esbanjava vigor. Eletricista e morador de Heliópolis desde a década de 1980, Benê, como era conhecido pelos amigos, foi diagnosticado com coronavírus no dia 13 de abril.
Duas semanas depois, a filha Teka Gouveia foi a única autorizada a acompanhar o sepultamento do pai. “Não tinha uma pessoa em Heliópolis que não conhecia meu pai, muito amado por todos. Essa doença o matou muito rápido. Infelizmente, a família não pode se despedir”, disse.
Veja também:
Relógio de rua dá informação trocada sobre rodízio em São Paulo
Dupla é presa por sacar auxílio emergencial de outros beneficiários
A comunidade, localizada na zona sul da cidade, tem mais óbitos por covid-19 do que a soma nos bairros do Butantã, Lapa, Brás e Barra Funda.
Além dos casos confirmados, há relatos de que existem centenas de pessoas em Heliópolis com os sintomas da Covid-19. Na Viela Chafariz, um beco estreito, com dezenas de casas amontoadas, 14 moradores estão infectados. Uma delas é a Cláudia Souza, que teve febre, tosse e dor no corpo.
ANÚNCIO
A empregada doméstica conta que muitos vizinhos sentem a mesma coisa, mas não têm como fazer o teste. “Eu não tenho dinheiro para fazer o exame, as pessoas aqui não têm essa condição. Vejo muitos com o sintoma, mas não fazem o teste. A minha sorte é que minha patroa ajudou e comprou”.
A forma mais eficaz para evitar a transmissão, segundo as autoridades de saúde, é o distanciamento social. Coordenador estadual da Central Única das Favelas, Marcivan Barreto lembra que na prática nem sempre isso é possível em lugares como Heliópolis.
“Como falar em isolamento social se em uma casa moram 7, 8 pessoas juntas? É praticamente impossível. O poder público não aparece por aqui. Estamos abandonados”, afirma Marcivan.
A economia também é um problema para quem mora em Heliópolis. Segundo estudos de agentes sociais da região, pelo menos 70% das pessoas tiveram perda na renda mensal desde o início da crise causada pelo coronavírus.
Outro lado
Procurada, a secretaria municipal da saúde de São Paulo ainda não se manifestou.