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Dois terços dos profissionais de saúde no Brasil não foram testados para covid-19

Bruno Concha/Secom

Levantamento divulgado nesta quinta-feira (30) pela Fundação Getúlio Vargas revela a insuficiência da testagem feita em profissionais de saúde, linha de frente no combate e também na exposição ao novo coronavírus. De acordo com o estudo, conduzido pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da instituição, mostra que somente um a cada três destes profissionais foi testado para a covid-19.

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Ainda, no mês passado, metade deste grupo não recebeu os equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para desenvolver suas atividades com o mínimo de segurança contra o vírus. Os EPI faltaram, sobretudo, entre agentes comunitários de saúde e os agentes de endemia. Em junho, apenas 32% deles receberam esse tipo de item, por iniciativa dos respectivos empregadores.

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O levantamento ouviu 2.138 profissionais da saúde pública em todas as regiões do país na segunda metade de junho. Destes, 40% são agentes comunitários e agentes de controle da crise, 20,8% são profissionais de enfermagem, 14,7% médicos e 23,8% outros profissionais do ramo.

Na pesquisa, também foram analisados aspectos relativos a saúde mental, assédio moral e testagem dos trabalhadores.

Capacitação e medo
Pelas respostas enviadas através de formulário, constata-se que os trabalhadores que tiveram treinamento para aperfeiçoar o atendimento durante a crise sanitária são minoria, a exemplo do que ocorreu em relação à testagem. A proporção dos profissionais que tiveram acesso a uma capacitação específica sobre atendimento durante a pandemia subiu de 21,91% para 32,2%, entre abril e junho. No cômputo, foram considerados médicos e técnicos de enfermagem.

Tais números podem ser relacionados ao nível de temor relacionado à covid-19. Ao todo, 89% de agentes comunitários de saúde e agentes de combate à endemia reconheceram sentir medo da doença, mesmo sentimento compartilhado por 83% dos profissionais da enfermagem, 79% dos médicos e 86% de demais profissionais da área de saúde.

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A preocupação é justificada não só pelo contexto geral, mas porque sentem que a infecção está chegando mais próxima, já que 80% dos entrevistados declararam ter ao menos um colega contaminado pelo novo coronavírus nessa segunda fase da pesquisa. Anteriormente, esta parcela era de 55%.

No que concerne à atuação do governo federal, a avaliação piorou. Em abril, 67% diziam não sentir que tal esfera do poder público os apoia, parcela que aumentou para 78% em junho. A insatisfação é superior à observada quanto à falta de suporte do governo municipal, que foi de 58%.

Outros aspectos abordados foram o assédio moral e o comprometimento da saúde mental, que atingem, respectivamente, 30% e 78,2% dos profissionais consultados pela FGV. Mesmo diante dos problemas, somente um quinto (20%) afirmou ter recebido algum tipo de apoio do estado para enfrentá-los.

A confluência de fatores destacados pelos profissionais, que, majoritariamente (95%) teve sua rotina alterada, ajuda a explicar por que 70% deles não se sentem preparados para lidar com a pandemia. Na primeira fase da pesquisa, o índice era 64,97%.

Conforme explica a coordenadora da pesquisa, Gabriela Lotta, a omissão das autoridades governamentais «cria uma situação muito tensa de trabalho, na qual prevalecem o medo e o sentimento de despreparo». Como consequência disso, acrescenta a especialista, surge um aumento dos casos de transtorno mental, adoecimento, afastamento do trabalho e até mesmo morte.

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