Agora é para valer: o Pix começa a funcionar a partir das 9h de hoje para todos os clientes de instituições financeiras cadastradas no Banco Central, o que inclui a maioria dos bancos e fintechs do setor.
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O novo sistema de transferências instantâneas promete revolucionar a forma como os brasileiros realizam pagamentos. Diferentemente de doc, ted e boletos, o Pix realiza a transação em 10 segundos, funciona 24 horas por dia ininterruptas e não tem custos para transferências de pessoas físicas e pequenos empreendedores.
Não é necessário cadastrar chaves para usar o novo sistema, mas o uso apenas do e-mail, CPF ou número telefônico para enviar ou receber dinheiro é uma das facilidades disponíveis agora. Há a opção inclusive de uma chave alfanumérica, responsável pela criação do QR Code.
Desde o dia 5 de outubro, quando as instituições deram início aos cadastros, o Banco Central havia recebido 70,7 milhões de chaves. Foram autorizadas a ofertar o sistema 762 instituições, que incluem, além de grandes bancos como Bradesco e Itaú, empresas como Nubank, Mercado Pago e Pic Pay.
As participantes foram autorizadas a disponibilizar o Pix no dia 3 deste mês para um público pequeno e com restrições de horários numa primeira etapa de testes. Foram 2,3 mil transações com o sistema no primeiro dia, movimentando total de
R$ 210 mil.
No dia 9, uma nova fase permitiu mais pessoas inseridas no sistema. O ápice de uso do Pix ocorreu na sexta-feira, quando alcançou 275 mil efetivações e total de R$ 334 milhões.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, disse na sexta-feira, em balanço sobre as operações de testes, que os bancos investiram no sistema, mas que problemas não estão descartados. “Estivemos em preparação com o Banco Central e os bancos estão prontos para dar vazão ao início das transações do Pix, bem como para corrigir eventuais problemas pontuais que possam ocorrer, o que é natural em qualquer grande processo de inovação tecnológica.”
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Entrevista com Marcelo Godke
Especialista em direito empresarial, professor do Insper e da Faap analisa a participação dos bancos no funcionamento do Pix. O que os bancos perdem com o Pix?
O projeto é do Banco Central, que impôs que os grandes bancos têm que participar. E eles estão aderindo, mesmo os pequenos e as cooperativas de crédito. Em alguns países, esse sistema já existe e foi o mercado quem teve a iniciativa. Na China, por exemplo, todo mundo usa. Mas no Brasil, os bancos não estavam interessados. Eles ofereciam doc, ted e boleto, que têm custo. Já o Pix, em tese, não tem. Um condomínio, por exemplo, que não tem função de empresa, vai abolir o boleto e usar o Pix. O cartão de crédito também perde espaço. Os estabelecimentos usarão menos as maquininhas. Ou seja, a receita dos bancos vai cair.
Por que então investiram em publicidade para os clientes se cadastrarem?
Quando o banco oferece um serviço, acaba empurrando outro. Eles também não querem perder os clientes para fintechs, que têm ganhado espaço, como o Nubank, por exemplo. Muita gente migra para elas porque o custo de manter a conta é menor. Funciona como uma carteira eletrônica. Seu dinheiro não está emprestado, como nos bancos. O Brasil tem mercado de bancos concentrado, com taxas altas. Grande número de cadastros no Pix não vem dos bancos, e sim das fintechs.
Tire suas dúvidas sobre o Pix
Para que serve o Pix?
O Pix é um meio de pagamento, como boletos, ted ou doc, mas com a possibilidade de transferir dinheiro 24 horas por dia, sete dias por semana – mesmo quando não há expediente bancário, como em feriados e fins de semana. O BC (Banco Central) garante que o valor é repassado ao destinatário em até 10 segundos.
E como isso é possível?
Foi desenvolvida uma estrutura tecnológica centralizada, na qual a comunicação entre os diversos participantes – como bancos e instituições de pagamentos – e o BC é realizada por meio de mensageria.
Isso é seguro?
Segundo o Banco Central, sim. As transações ocorrem por meio de mensagens assinadas digitalmente, trafegando de forma criptografada em uma rede protegida fora da internet. As informações dos cidadãos também são criptografada.
Quais os outros sistemas de segurança do Pix?
As entidades financeiras podem estipular limites de transação baseados em cada perfil de conta. O BC disse também que as instituições terão ainda 30 minutos para averiguar características suspeitas das transferências para evitar a ações fraudulentas.
Se mesmo assim eu for vítima de uma fraude, consigo o ressarcimento?
Cabe ao prestador de serviço de pagamento analisar a possível fraude para conceder o ressarcimento – o caminho é o mesmo ao que já ocorre com fraudes bancárias. O BC lembra que todas as operações são rastreáveis e, as instituições envolvidas podem, a mando das autoridades competentes, identificar os titulares das contas de origem e de destino de toda e qualquer transação de pagamento no novo sistema.
O que é importante notar para evitar cair em golpes?
O BC alerta que não há sites ou aplicativos criados exclusivamente para cadastramento de chaves ou realização das transações Pix. O serviço pode ser utilizado pelo aplicativo ou internet banking da instituição financeira. Deve-se evitar qualquer outro caminho que peça seus dados para uso do Pix.
Posso usar o Pix para
pagar um boleto?
Pode, mas é preciso que esta conta ou fatura tenha a opção de pagamento por QR Code – se houver apenas o tradicional código de barras, não será possível. Como os boletos não fazem parte do sistema de pagamentos do Pix, o tempo de repasse dos recursos entre os usuários e as instituições envolvidas não é em tempo real.
Vale mais a pena pagar com Pix ou com cartão de débito/crédito?
Depende. O Pix é um pagamento instantâneo, então não é recomendado caso o consumidor queira postergar o pagamento ou parcelar sua compra, como é possível fazer com um cartão de crédito. Por outro lado, o Pix não cobra anuidade e pode ser realizado pelo celular, sem a necessidade do cartão.