O médico Aleude Oliveira, de 57 anos, passou 18 dias internado há pouco mais de um ano após ser contaminado pela covid-19. Foram dias difíceis: 14 deles só na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e, destes, sete intubado. A tão esperada alta veio no dia 28 de abril de 2020, mas não marcou o fim da batalha.
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«Saí muito fraco. Caminhava com muita dificuldade, pois perdi bastante massa muscular durante a internação. Emagreci cerca de seis quilos e fui para casa ainda com falta de ar», lembra.
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Colegas que cuidaram de Aleude no hospital o orientaram a começar o acompanhamento uma semana logo após a alta. A partir daí, as consultas ao pneumologista foram frequentes, porém cada vez mais espaçadas. «Em dezembro, os exames apontaram que ainda havia sequelas da doença nos meus pulmões. Devo refazer exames laboratoriais e tomografia em breve», conta Aleude, que chegou a ter 75% do pulmão comprometido pelo vírus.
Além das visitas ao pneumologista, o paciente deixou o hospital com orientações para a realização de exercício físico e fisioterapia respiratória. «Fui melhorando dia após dia, mas posso dizer que me senti bem de verdade apenas três meses após a alta.»
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Apesar da convivência diária, a esposa de Aleude, a personal trainer Adriane Cardoso, de 49 anos, veio a se infectar apenas em janeiro deste ano. A doença a afetou de forma mais branda, mas também resultou em uma internação. Foram três dias e meio no hospital.
«Senti cansaço, falta de ar, o paladar e o olfato sumiram e perdi o apetite. Junto com os sintomas, vieram a ansiedade e o pânico. Vi de perto, com a experiência do meu marido, o que a covid pode causar. Senti medo», conta Adriane.
Após a alta, ela recebeu as mesmas orientações que o marido. Voltou ao médico, realizou exames e constatou que seu pulmão estava totalmente recuperado.
«Ainda hoje lido com a acentuação da queda de cabelo, fruto da covid. Vou começar a tomar vitaminas para melhorar a questão. Também tenho tratado da ansiedade. É importante dizer que a covid-19 não mexe apenas com os nossos pulmões, mas com todo o nosso organismo, inclusive com a parte emocional», completa a personal trainer.
Sequelas
A medicina ainda busca entender como o organismo reage após a cura da covid-19. Por ser uma doença nova, ainda não se fala, por exemplo em sequelas permanentes. Fato é que cada corpo tem reagido de uma forma: uns se restabelecem por completo mais rapidamente e outros levam um tempo maior.
As sequelas observadas são, em sua maioria, respiratórias e motoras, esta última por conta da desnutrição proteico-calórica associada ao longo tempo de internação, de uso de ventilação mecânica e ainda de medicações que causam fraqueza muscular.
Não é possível prever quais pessoas apresentarão problemas mais sérios em decorrência da mazela. Porém, pela prática clínica, dois perfis têm se destacado. «Vemos que pacientes mais idosos e aqueles com internação mais prolongada, independentemente do sexo e idade, são aqueles que apresentam mais sequelas gerais», afirma Roseny dos Reis Rodrigues, médica intensivista, anestesista e professora de Medicina da Uninove.
Caminhos a percorrer no pós-covid
A exemplo de Aleude e Adriane, ir para casa não significa que os cuidados terminaram – pelo contrário. Muitas vezes ainda há um longo caminho a percorrer.
O acompanhamento médico pós-covid não segue um protocolo e vai depender da evolução do quadro durante a internação. «Para pacientes que foram liberados com sequelas respiratórias é indicado que se procure um pneumologista. Já aqueles que apresentam desnutrição devem se consultar com nutricionista ou nutrólogo. Mas o profissional fundamental no que diz respeito à recuperação é, sem dúvida, o fisioterapeuta. Não apenas para olhar pela parte muscular, mas também pela respiratória», explica Roseny.
Mesmo aqueles que testaram positivo, mas se trataram em casa, podem precisar de atenção especial. «Pessoas que fazem atividades físicas mais puxadas ou mesmo atletas que tiveram a forma leve da doença podem sentir desconforto quando se submeterem a atividades mais exaustivas. Nesse caso, talvez procurar o fisioterapeuta e pneumologista faça a diferença», aponta a médica.
O acompanhamento inclui na maioria das vezes exames como tomografia, de função pulmonar e de coagulação. A atenção que se deve dar à saúde após a infecção e cura pela covid-19 não tem tempo estimado. «Os cuidados devem seguir até a reabilitação estar concluída, e isso vai variar de doente para doente», conclui a especialista.