A pandemia do novo coronavírus reforçou a importância de diversas profissões, principalmente na área da saúde. Médicos e enfermeiros passaram a ver vistos como super-heróis da vida real. Outra categoria, porém, se mostrou tão fundamental quanto as duas primeiras: a dos fisioterapeutas.
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O papel destes profissionais é amplo. Em casos leves, podem orientar a prática de exercícios em casa para melhorar o quadro respiratório. Mas é no hospital, em um cenário mais complexo, que sua atuação vem ganhando destaque.
É função dos fisioterapeutas manter as capacidades pulmonares do paciente internado, restaurar sua independência respiratória e física, diminuir o risco de complicações associadas à imobilidade, manter ou melhorar a força muscular, entre outras.
«A fisioterapia é requisitada sempre que há necessidade de atenção a qualquer questão respiratória. Na enfermaria, por exemplo, o profissional é o responsável por realizar manobras de reexpansão pulmonar e exercícios de membros para prevenir trombose e efeitos decorrentes do tempo prolongado no leito», explica o fisioterapeuta Eduardo Trujillo.
Quando o paciente vai para UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a fadiga e baixa oxigenação dificultam as atividades, então o fisioterapeuta investe em movimentações passivas e fisioterapia respiratória. «Trabalha-se com manobras e controle de equipamentos, sempre de forma integrada com a equipe médica. No caso de pacientes intubados, é preciso agir para prevenir escaras, trombose, manejar aparelhos de ventilação mecânica e fazer a higiene brônquica», completa Trujillo.
A fisioterapeuta Giovanna Tiveron atenta para os desafios enfrentados na fase mais crítica do tratamento. «O manejo do ventilador não é simples, pois os pacientes instabilizam com facilidade. Muitas vezes necessitam de dosagens de drogas altíssimas e apresentam processo inflamatório intenso. Por essas razões, tentamos todos os recursos disponíveis antes de recorrer à intubação.»
Despertar da esperança
Em meio a tantas dificuldades, cabe aos fisioterapeutas uma das tarefas mais esperadas dentro de um ambiente hospitalar: a extubação. «Posso dizer que é o momento de maior alegria. É incrível acompanhar a evolução do quadro. A equipe inteira torce a cada dia», conta Giovanna.
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Quando o paciente acorda e volta a respirar por si próprio, começa a segunda parte da batalha. «A pessoa que estava intubada em um estado grave pode voltar sem força muscular, com poucos movimentos, como um tetraplégico. Isso não ajuda no quadro respiratório, uma vez que o diafragma também é um músculo. Aí vem o trabalho de recuperação motora», diz Trujillo.
Esta etapa também é acompanhada pelo profissional da fisioterapia, dentro e fora do hospital. Giovanna conta que a maioria que recebe alta vai para casa ainda enfraquecida e dependente de oxigênio. «Nossa função é trabalhar para que o paciente consiga ter sua independência de volta.»
Trujillo atenta para o fato de que o sistema de saúde sobrecarregado pode não dar conta da grande demanda por profissionais da área. A boa notícia é que muitos estão divulgando conteúdos em seus perfis em redes sociais com objetivo de ajudar a disseminar informação de qualidade. Ele lembra, porém, que é preciso selecionar fontes seguras.
A escolha
Trujillo e Giovanna (foto) foram atraídos pela carreira por um desejo em comum: devolver independência a quem a perdeu.
«A volta ao movimento sempre me chamou atenção. Durante o estágio, conheci a fisioterapia hospitalar e fiquei encantada. Fazer alguém dar um suspiro de novo ou ficar em pé é muito gratificante», diz Giovanna.
«É incrível poder participar da vida das pessoas e dar a elas esperança. Conheci a área através de uma tia, que é deficiente. Não aceitava o fato de ela não conseguir andar e queria entender tudo isso melhor. Por isso escolhi o curso, com o objetivo de reabilitar pessoas e oferecer a elas um pouco mais de liberdade», conta Trujillo.
Entre as características que entende ser essenciais para seguir na profissão, Giovanna cita a paciência, empatia e gosto pela atualização constante. Já Trujillo ressalta o sentimento de inconformismo e estrutura para lidar com o sofrimento alheio.
Ambos acreditam que, com a pandemia, a categoria ganhou mais notoriedade. «Entre os profissionais da saúde, a profissão já era valorizada, mas as pessoas no geral não entendiam o que fazíamos. Isso mudou», diz Giovanna. «Hoje se sabe que a fisioterapia vai muito além do choquinho», completa Trujillo.
Mercado em alta
O mercado de trabalho para os fisioterapeutas está bastante aquecido, a exemplo de outras profissões ligadas à saúde. Segundo levantamento do site de vagas BNE (Banco Nacional de Empregos), na comparação com o primeiro trimestre do ano passado com o mesmo período deste houve um aumento de 12,73 % na quantidade de oportunidades anunciadas. Quando se analisa apenas o mês de maio, a alta observada é de 32%, ainda tendo como base 2020 e 2021.
Em relação ao número de currículos cadastrados por fisioterapeutas, o movimento foi inverso – houve queda de 24,30% entre o primeiro trimestre de 2020 e os três primeiros meses de 2021, o que é esperado, uma vez que revela que grande parte da categoria está na ativa.
«A pandemia nos mostrou que a área da saúde é de grande importância. Infelizmente aprendemos da pior maneira que precisamos dar atenção ao setor e aos seus profissionais», afirma José Tortato, gerente de negócios do BNE.