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Doses de esperança: conheça histórias de pessoas que se reinventaram na pandemia

Há quem nos prove que coisas boas acontecem mesmo em momentos ruins. Confira as histórias de quem mudou o rumo da carreira e realizou sonhos.

Falar que a pandemia trouxe algo de bom não parece certo. Só no Estado de São Paulo, mais de 3,5 milhões de pessoas se contaminaram e 121 mil morreram por conta do novo coronavírus desde março de 2020. Neste sábado (dia 19), o Brasil superou a triste marca dos 500 mil óbitos. Não há o que celebrar, definitivamente. Porém, em meio ao caos, houve quem renascesse.

Os autores das histórias a seguir nos provam que vale a pena ter esperança mesmo nos dias mais difíceis e que com coragem, determinação e uma pitada de fé é possível dar novo sentido à vida.

Emprego aos 60

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O mercado de trabalho não costuma ser gentil com os mais velhos. Justamente quem tem mais experiência acaba sendo frequentemente descartado. A dificuldade financeira que vem a seguir é apenas um dos desafios. A autoestima, claro, também sente o baque.

O administrador de empresas Humberto Dotto passou pela situação. Em 2013, foi desligado de uma grande multinacional e, de lá para cá, tentou empreender e chegou a conseguir alguns trabalhos curtos. Nada, contudo, que se comparasse à vida que levava antes da demissão.

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Quando veio a pandemia, o que estava ruim não dava indícios de que iria melhorar. Pelo contrário. «Por todos esses anos, me inscrevi em diversos processos seletivos. Os recrutadores, em um primeiro momento, elogiavam o meu currículo, mas quando se davam conta da minha idade, recuavam. Alguns diziam abertamente que a faixa etária era o motivo, enquanto outros inventavam qualquer desculpa e sumiam. Quando veio a covid-19 e a economia, por consequência, foi extremamente afetada, entendi que seria uma fase ainda mais difícil», afirma Humberto.

Difícil, porém não impossível. O administrador conta que não parou por um só dia. Mandava currículos, fazia networking, prestava serviços para uma consultoria e se esforçava para ser um usuário ativo nas redes sociais voltadas ao mundo corporativo. «Desistir não era uma alternativa.»

Em fevereiro deste ano, Humberto comemorou seus 60 anos. O melhor presente veio exatamente no dia de seu aniversário. «Estava jantando com a minha família quando meu celular tocou. Atendi e, para a minha surpresa, era o gestor de uma empresa na qual havia participado de um processo seletivo dias antes. Ele disse que eu havia passado na entrevista e perguntou se eu poderia começar em breve. Sem sombra de dúvidas foi o aniversário mais feliz da minha vida», conta.

Hoje Humberto é coordenador de supply chain e não poderia estar mais realizado. «Sempre foi meu sonho ocupar essa posição e me sinto plenamente preparado. Dou o melhor de mim todos os dias e sou grato pela oportunidade que recebi. Nunca perdi as esperanças e é incrível ver que a realização do meu desejo veio mesmo em um momento tão conturbado.»

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Da demissão à descoberta

Formada em Educação Física, Isabelle Machado, de 29 anos, trabalhou em uma escola como professora de ginástica artística. Este sempre havia sido seu sonho, desde menina. No final de 2019, o susto: foi informada de sua demissão. «Foi uma época de medo, incerteza e insegurança. Havia acabado de conquistar o que tanto queria e passei a me questionar: e agora?», lembra.

Ao pensar em alternativas para aquele momento, uma memória veio à cabeça de Isabelle. Quando era professora, costumava falar brincando aos pais dos alunos que, se precisassem, poderia ser babá por uns dias. Veio a ideia: e se não fosse só brincadeira?

A educadora física começou, então, a pesquisar sobre o trabalho, suas exigências e os valores praticados pelo mercado. Se deu conta de que existia uma grande demanda, uma vez que muitas famílias precisam terceirizar o cuidado com os filhos por conta da rotina puxada.

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A primeira oportunidade apareceu por meio de um aplicativo especializado. «Foi de cara um grande desafio. A mãe que me procurou tinha trigêmeos. Uma das crianças – uma menina – era autista. Eu disse que gostaria muito de ajudar e aprender. Acabei selecionada e posso dizer que foi um tempo ótimo. Esta é uma família que eu levo no meu coração», conta.

Em março de 2020, a covid-19 dominou o Brasil, e Isabelle foi mais uma vez dispensada, já que os pais dos trigêmeos passaram a trabalhar no modelo home office e decidiram assumir a criação completa dos filhos. Mas, ao contrário da demissão meses atrás, esta fez com que Isabelle seguisse firme no propósito que descobriu. Seu desejo acabou casando com a necessidade de muitas outras famílias. «A procura pelo meu trabalho foi gigantesca. Muitos pais não deram conta de trabalhar, cuidar da casa e dos pequenos, que pediam muita atenção. Nesse cenário, diversas pessoas me procuraram para que eu as ajudasse.»

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Desde então, Isabelle investiu em cursos – já havia feito um sobre autismo, que ganhou de presente da família dos trigêmeos – e criou uma conta no Instagram para desmistificar a profissão de babá. «Algumas pessoas pensam que a minha única função é brincar, o que é um grande engano. Meu trabalho envolve todo o desenvolvimento infantil, cuidar 100% do bem estar da criança. Estou lá para dar almoço, prestar primeiros socorros caso haja necessidade, dentre tantas outras tarefas. Meu papel é substituir um familiar e, por isso, acabo virando referência para os filhos das pessoas. Muitos pais, inclusive, se assustam quando explico tudo isso em uma primeira conversa», revela.

Passada a pandemia, Isabelle pretende seguir no caminho que construiu até aqui. «Hoje sou realizada profissionalmente. Pensar que eu fiz a diferença para uma família é muito gratificante. Diferentemente da escola, a minha atenção como babá está direcionada a uma criança por vez. Justamente por essa razão, o laço que se cria é muito forte. Quando um pai chega para mim e diz que eu ensinei algo ao filho dele, isto é algo que não tem preço», afirma, emocionada.

Ajuda ao próximo e a si mesma

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A publicitária Mayara Sena, de 23 anos, colocou recentemente em prática um sonho antigo: ajudar pessoas. No caso dela, a pandemia não alterou seu horário comercial. Bem empregada em uma consultoria de Recursos Humanos, ela seguiu a rotina de oito horas de trabalho diário em sua área de formação. A transformação, contudo, atingiu em cheio seu tempo livre.

«Sempre quis trabalhar com algo voltado para a saúde, porém nunca havia tido oportunidade, mesmo porque a minha formação é em comunicação. Porém, conversando com uma amiga, descobri a terapia holística, que conecta o cuidado físico, emocional e energético. Me identifiquei muito com a ideia de ajudar o próximo com elementos naturais e, no meio do caminho, me ajudar também», diz Mayara.

Ela e a amiga criaram a Jayanala, empresa de florais de Bach. Segundo ela, o pontapé inicial só foi possível graças, justamente, à pandemia. Isso porque as horas perdidas que antes eram perdidas no transporte público ganharam novo significado. «Com o home office, tenho mais horas livres e as utilizo para meus hobbies. Sou analista de marketing durante o dia e, depois do trabalho, me dedico aos florais. Antes da covid, isso não seria possível, até mesmo para me dedicar aos estudos da prática. Por outro lado, o distanciamento social dificulta um pouco no quesito da manipulação e da entrega dos nossos produtos.»

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Pós-pandemia, a ideia é expandir a Jayanala. «Eu e minha sócia sonhamos em ter nosso escritório, montado do nosso jeito. Já tenho vários ‘prints’ de decoração no meu celular», afirma, animada pelo o que está por vir.

Para Mayara, poder acompanhar o processo de cura das pessoas que a procuram traz uma felicidade sem igual. «Ver a evolução do outro, a obtenção do equilíbrio e do autoconhecimento é a maior das conquistas», diz. «Além de oferecer apoio a terceiros, a terapia holística ajuda a ocupar a minha própria mente, a sair um pouco da rotina pautada em livros e séries nas horas vagas», completa.

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Além dos florais, o tarot também entrou na vida de Mayara durante o período de isolamento. No ano passado, ela mergulhou de cabeça no mundo das cartas, se qualificou e passou a oferecer a leitura de forma online. Ela também criou um perfil nas redes no qual compartilha informações a quem, assim como ela, se interessa pelo tema. «Sem dúvida, este foi um período em que adquiri mais conhecimento e o disseminei.»

Mayara explica que o tarot compreende bem mais do que prever algum tipo de futuro. «Ele exige tato, sensibilidade, vivência, estudo e empatia. Estou abrindo a cabeça de outras pessoas e a minha também. Não tento salvar ninguém, mas sim ser ponte de ajuda para que o outro seja o protagonista da própria história, ao mesmo tempo que eu sou a protagonista da minha», encerra.

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