A bombeira civil e técnica de segurança do trabalho Vanessa de Sá, de 40 anos, encontrou no estudo da Língua Brasileira de Sinais (Libras) uma forma de se manter ativa durante o isolamento da pandemia de covid-19, ao mesmo tempo em que percebeu uma forma de ajudar a comunidade surda. Ela grava vídeos curtos e publica no seu Instagram, sempre com mensagens sobre o cotidiano, informativas ou motivacionais. O que chama a atenção é que ela faz isso apenas por empatia, já que não tem nenhum parente ou amigo com problemas de surdez.
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De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), divulgados no ano passado, mais de 10 milhões de pessoas no país tem algum problema relacionado a surdez, ou seja, 5% da população é surda. Muitos não dominam o português e se comunicam, especialmente com familiares e amigos, por meio de sinais. Outros usam a Libras como linguagem, mas enfrentam barreiras, já que são raras as pessoas ouvintes que dominam essa língua.
Foi pensando nessa dificuldade dos surdos em se comunicarem que Vanessa, moradora de Ribeirão Pires, na Região Metropolitana de São Paulo, decidiu estudar Libras.
«Em 2013, eu tive meu primeiro contato com um surdo. Eu trabalhava em uma loja de fotografias e aí chegou uma mulher. Ela veio na minha direção e começou a fazer sinais. Eu percebi que ela era surda e tentei ajudar, mas não consegui entender. Foi aí que tive a ideia de dar uma caneta pra ela, para que anotasse o que ela precisava. E deu certo, consegui fazer o atendimento, mas fiquei pensando como é difícil pra ela se comunicar», conta.
Ela lembra que a vontade de aprender Libras só foi aumentando ao longo dos anos. «Em 2014 uma amiga fotógrafa foi até a loja com uma irmã,que é surda, e as duas começaram a se comunicar em sinais. Eu fiquei impressionada, ainda mais que ela me contou que, além da garota, tinha mais três irmãos surdos.Ela começou a me explicar algumas coisas sobre a comunidade e isso despertou ainda mais o meu interesse.»
Estudos
A bombeira civil ingressou no primeiro curso de Libras em 2017, mas relata que já tinha aprendido muita coisa pesquisando na internet.
«Comecei em uma escola para surdos em Tatuapé. Porém, já tinha pesquisado muito sobre o tema e tinha aprendido alguns sinais, meio autodidata, e sabia o alfabeto manual em Libras e os numerais, sinais de família, cores e objetos. Aí comecei os estudos na escola, mas percebi que a metodologia não me agradou, pois eu não estava evoluindo. Aí parei o curso, mas ainda assim continuei vendo vídeos», conta.
A situação mudou mesmo no ano passado, durante o início do isolamento da pandemia, quando, obrigada a ficar em casa, ela decidiu fazer alguma atividade. «Eu tinha que fazer alguma coisa e, de cara, pensei no curso de Libras. Foi aí que encontrei um professor que dá aulas online e, por meio dos vídeos dele, aprendi ainda mais. Aí comprei o curso completo com 250 horas», lembra Vanessa.
Ela iniciou as aulas em junho de 2020 e concluiu em fevereiro deste ano. Foi quando percebeu que já estava fluente em Libras.
«Evoluí demais durante o curso e continuei me aprofundando ainda mais na comunidade surda. Aí encontrei uma professora, que nasceu surda, vem de família surda, e casou também com um surdo. Os dois filhos dela também são surdos. Você fica impressionado com a desenvoltura dela. Ela estava sinalizando e eu percebi que estava entendendo toda a comunicação dela. Aí vi que estou fluente em Libras e que não precisava mais de tradutor de voz.»
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Vídeos no Instagram
E durante os estudos uma das recomendações era que os alunos gravassem vídeos para que pudessem ver como estavam se comunicando em Libras. Com isso, surgiu a ideia de publicar esse material com mensagens no Intagram.
«Eu continuo estudando 15 minutos por dia, pois é um tipo de aprendizado que nunca pode deixar de ser aperfeiçoado. E gravar os vídeos com as mensagens ajudam muito nisso, pois me mantém ativa. Fui gostando cada vez mais de gravar e hoje, em função do meu trabalho, acabo fazendo uma ou duas postagens na semana», relata.
Em uma das postagens, Vanessa fala para os surdos que está vacinada contra a covid-19 e ressalta a importância de que todos de imunizem:
Em outro vídeo, ela alerta a comunidade surda sobre a última greve registrada nas estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), no último dia 15 de julho:
A bombeira civil diz que é muito gratificante saber que, mesmo com uma simples mensagem, pode estar impactando positivamente na vida de alguém.
«Eu imagino a dificuldade de um surdo em um supermercado, no banco, no hospital. Eles chegam e não nenhum intérprete para ajudar a dizer o que ele está sentindo, os tipos de remédios que podem ou não tomar. Então, fico muito feliz em dominar essa linguagem e quero poder ajudar, seja com meus vídeos, seja quando eu encontrar algum surdo no cotidiano», conclui.