Sentada para o jantar no resort, família liberal americana discute culpa burguesa, colonialismo e privilégio branco. Os filhos adolescentes flutuam entre a apatia e a patrulha politicamente correta. Depois de constatar que o mundo é assim mesmo e não dá para mudar o passado, o pai, interpretado por Steve Zahn, resume de forma irônica: “Talvez a gente devesse só se sentir uma merda o tempo inteiro.”
Esse diálogo é central em The White Lotus não apenas porque resume um dos temas centrais da minissérie – sobre turistas americanos em hotel de luxo no Havaí – mas também seu estado de espírito. A ideia da fixação de uma condição, e sua repetição mecânica, é um elemento que norteia a minissérie e que torna esta sátira mais eficaz.
Porque não dá para fugir da História, ela está fadada a se repetir como farsa, assim como não é possível escapar da rotina de um resort: todo episódio tem a hora do amanhecer com cânticos polinésios, o café da manhã, o banho de piscina, a arrumação para o jantar, a esticada no bar para fechar a noite. The White Lotus não adere literalmente a uma narrativa tipo Feitiço do Tempo mas o seu Dia da Marmota é visível, e é dele que vem esse sentimento de estagnação social, que assola os personagens e se estende ao espectador.
A direção de Mike White balanceia a repetição fazendo um exercício bem interessante de modulação de tom – por exemplo, um dos temas musicais evoca comédia de erros no começo e o mesmíssimo tema passa a insinuar um suspense mais tarde, no clímax da subtrama do casal em lua-de-mel. Essa brincadeira em The White Lotus – usar em looping o mesmo recurso dramático e narrativo, para fins distintos – é uma das graças de assistir à minissérie, por mais que o privilégio deixe de ser uma piada quando o vemos consumado.
FRASE DA SEMANA
“Seria preciso um resultado muito ruim nas bilheterias para que Duna: Parte 2 fosse cancelado”
O diretor de Duna, Denis Villeneuve, se diz confiante de que a adaptação do livro terá continuações
NERDÔMETRO
Sobe: Chadwick Boseman: O episódio desta quarta da série What If? tem o último trabalho do ator como o Pantera Negra. Ele fez a dublagem durante a pandemia, antes de falecer em agosto de 2020
Desce: The Cure: Integrante da banda inglesa há 40 anos, o baixista Simon Gallup disse que está deixando o Cure, “de coração pesado” mas “cansado de traição”