A técnica é milenar, mas foi só durante a pandemia da covid-19 que muitos tiveram contato pela primeira vez com ela: a meditação. A prática caiu no gosto dos brasileiros, se popularizando principalmente graças a aplicativos e lives.
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Um estudo, intitulado PICCovid, desenvolvido pela Fiocruz em parceria com a Faculdade de Medicina de Petrópolis, no Rio de Janeiro, revelou que no primeiro ano do isolamento imposto pelo novo coronavírus, 61,7% da população brasileira recorreu não só a à meditação, mas também à fitoterapia, reiki, aromaterapia, homeopatia, entre outros. O número deixa claro o interesse em cuidar da tríplice corpo, mente e alma – independentemente de religião.
Compreender por que razão a meditação coleciona adeptos fica fácil quando olhamos para seus benefícios: autoconhecimento, autocontrole, resiliência, clareza mental, empatia, redução do estresse e aumento da concentração.
«A meditação é capaz de promover o silenciamento da mente, do corpo e de tudo que estiver relacionado a algum tipo de tensão. A saúde passa a funcionar melhor, e o praticante encontra leveza. É como se a alma – e não o corpo – estivesse vivendo», afirma Carlo Guaragna, professor de Yoga.
O instrutor explica que pessoas com uma mente agitada tendem a voltar seus pensamentos a elas mesmas e a suas confusões. Quando os pensamentos se aquietam, porém, se torna possível notar a realidade de uma forma mais nítida. «A meditação permite um distanciamento maior do corpo emocional. Imagine aquele que vive o tempo inteiro com um ‘barulho’ interno. Quando ele diminui esse ruído, experimenta uma libertação dele mesmo e de um enredo que até então não o deixava observar as situações ao seu redor», explica.
Acessibilidade é ponto forte
Pode parecer difícil pensar em alcançar essa tal liberdade sobre a qual Guaragna fala. Ele, no entanto, garante: a meditação pode, sim, ser para todos.
«O que acontece é que algumas pessoas tem maior pré-disposição a alcançar um estado de concentração, enquanto outras não. Contudo, os integrantes do segundo grupo podem recorrer, a princípio, a práticas corporais. Quando peço que o praticante permaneça em uma determinada postura ou foque a atenção em um movimento, eu consigo engajá-lo pelo corpo. É uma maneira de captar a atenção de uma pessoa que tem dificuldade de seguir uma meditação guiada, por exemplo», diz o professor. «Muitas pessoas olham para a Yoga e a enxergam como exercício físico, mas a verdade é que seu objetivo é justamente alcançar esse silêncio interior», completa.
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Guaragna conta com um perfil bastante popular no Instagram, no qual dá dicas interessantes para quem já pratica a meditação da Yoga ou quem quer entrar nesse universo pela primeira vez. Uma das orientações é tentar prestar atenção em um objeto – de preferência em movimento. Pode ser uma árvore que se move com o vento ou mesmo as nuvens. O simples fato de tirar o foco de si mesmo gera um respiro no que ele chama de teia mental, onde estamos acostumados a permanecer remoendo nossos problemas.
«Parte do trabalho da meditação é fazer com que a pessoa passe a não se autorefenciar tanto. Há quem viva por anos em uma rede de preocupação e tensão. Porém, quando ela consegue se distanciar dos próprios pensamentos, passa a ponderar mais, percebendo que nem tudo que passa pela sua cabeça é verdade», afirma o professor.
Do aprendizado ao cotidiano
Tornar a meditação parte do dia a dia faz com que os ganhos sejam mais eficazes e visíveis. Contudo, muito mais do que virar um «meditador profissional», a grande sacada está em incorporar seus ensinamentos no dia a dia, segundo Washington Luís Pedrette, especialista em Mindfulness pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
«Aprender a meditar pode não fazer com que você vire um grande praticante, mas pode despertar o autocuidado e o autocontrole que vêm a partir do autoconhecimento», afirma.
O Mindfulness, aliás, se trata de uma prática integrativa e complementar. Foi umas das linhas meditativas que mais ganhou notoriedade na pandemia e está baseada na atenção plena. «Costumo dizer que nossa mente está no piloto automático. A técnica é capaz de te trazer para o momento presente, o aqui e agora», diz Pedrette.
A ideia não é esvaziar a mente, mas prestar atenção nos pensamentos e sensações que surgem, tomando consciência. É como treinar o músculo da atenção, explica Pedrette, que trabalha com um protocolo de oito semanas. Ao final deste período, mesmo que a meditação deixe de ser diária, o foco tende a permanecer. «Nem todos continuam meditando, mas as pessoas passam a ter ferramentas para identificar seus gatilhos emocionais, e isso traz equilíbrio. Elas passam a comer ou lavar louça com mais atenção, e esses pequenos atos já representam muito.»
Pandemia como pontapé
Na opinião do especialista em Mindfulness, o fato de a pandemia ter nos abrigado a pausar uma rotina frenética fez com que questões pessoais mal resolvidas viessem à tona. Nesse contexto, a meditação – seja a linha que for – encontrou terreno fértil como saída.
«Infelizmente muitos esperam chegar ao limite para olhar para si. Viemos de uma sociedade que nos cobra o tempo todo por resultados e nos sobra pouco tempo para nos observar. Foi difícil parar, mas acredito que agora as pessoas estão dando mais importância à saúde mental», avalia.
Aprenda prática de 3 minutos
Então fica combinado: não vamos mais abandonar o cuidado com a nossa saúde mental, ok? E para isso, não precisamos de momentos ou ambientes perfeitos. Pedrette ensina uma prática simples, de apenas três minutos (e três passos), que pode ser feita em qualquer lugar. Confira:
Passo 1: feche os olhos e tome consciência de seus pensamentos, sem se prender a eles. Apenas os observe. Perceba se há emoções, sentimentos e sensações presentes no seu corpo.
Passo 2: leve a atenção a sua respiração. Perceba como ela vai acontecendo no nariz, no peito e na barriga. Observe sem alterá-la. Acompanhe a sensação da inspiração e da expiração.
Passo 3: Amplie sua atenção para o o corpo como um todo, tomando consciência dele. Você pode cultivar uma atitude aberta, de curiosidade para tudo que for emergindo sem se julgar, apenas no papel de observador. Finalize abrindo os olhos lentamente.