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Hoje é Dia Mundial do Doador de Medula Óssea; ‘não o conheço, mas oro por ele como oro por mim’, diz paciente curada após transplante

Saiba se você pode ser um voluntário e como se cadastrar no REDOME

Samira Ribeiro recebeu doação de medula óssea Divulgação/Arquivo pessoal

A pediatra Samira Ribeiro, de 39 anos, ganhou uma nova chance de viver. Casada e mãe de dois filhos, ela foi diagnosticada com leucemia aguda no início de 2019. Seu mundo virou de cabeça para baixo e, de um dia para o outro, a rotina foi interrompida por internações e sessões de quimioterapia. Em outubro daquele ano, porém, recebeu o presente mais esperado: uma doação de medula óssea.

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«Algumas pessoas da minha família eram 50% compatíveis, mas a equipe médica decidiu que seria melhor buscar por um doador no REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea). Acabei abençoada com um doador 100% compatível», conta.

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Apenas o transplante garantiria a cura completa de Samira. Natural de Manaus, no Amazonas, ela veio para São Paulo fazer o tratamento. Sabia da dificuldade de encontrar alguém fora do círculo familiar – uma chance a cada 100 mil -, mas não se deixou abater. Cheia de coragem e fé, ela enfrentou os desafios e, depois de quatro meses de buscas, recebeu a tão esperada ligação. «Foi inexplicável. Sou muito grata ao meu doador. Oro por ele como oro por mim. Só sei que ele é um homem e já expressei a vontade de conhecê-lo. Incrível pensar que ele foi capaz de ter empatia por alguém que nem conhece.»

Divulgação/Arquivo pessoal

Samira lembra que, muitas vezes, os voluntários cadastrados no REDOME desistem da doação na hora H – o que a fez valorizar ainda mais o ato de amor que recebeu. «Faço um apelo para que as pessoas tenham coragem e doem quando chegar o momento. Não recuem por medo ou falta de informação. Quem oferece a medula não perde absolutamente nada. Já para quem recebe, é como um milagre», afirma.

Mas afinal, o que é medula óssea e como ser um doador?

Neste sábado (dia 18), se comemora o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea. Ela é a fábrica do nosso sangue, como explica Marta Lemos, hematologista e coordenadora médica do Serviço de Hemoterapia e Terapia Celular do A.C.Camargo Cancer Center.

«A medula óssea é encontrada no interior dos ossos (tutano) e contém as células-tronco hematopoiéticas que produzem os componentes do sangue, incluindo as hemácias ou glóbulos vermelhos, responsáveis pelo transporte de oxigênio, os leucócitos ou glóbulos brancos, que são parte do sistema de defesa do nosso organismo, e as plaquetas, responsáveis pela coagulação», esclarece.

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O transplante, por sua vez, consiste na substituição da medula óssea doente ou deficitária de um paciente por células normais, com o objetivo de sua reconstituição. Pode beneficiar pacientes com cerca de 80 diferentes doenças, entre elas, leucemias, linfomas, mieloma múltiplo, aplasia de medula e imunodeficiências.

Marta explica que, para que a doação aconteça, são necessários quatro passos. São eles:

  1. Passo 1: O doador, que deve ter entre 18 e 35 anos e bom estado de saúde – não ter doença infecciosa ou incapacitante, não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico – se cadastra em homecentro especializado.

    Vale lembrar que, há pouco tempo, a idade limite era 55 anos. O Ministério da Saúde, contudo, levou em consideração critérios técnicos e estudos científicos que indicam que doadores mais jovens melhoram os resultados do transplante com doador não-aparentado.

    A data máxima para efetivar a doação de medula óssea não- aparentada não foi alterada, ou seja, todos os doadores (mesmo os que irão se cadastrar a partir do novo critério de idade) poderão realizar a doação até 60 anos.

    Na cidade de São Paulo, o cadastro pode ser realizado no Hospital São Paulo, da Unifesp (Rua Dr.° Diogo de Faria, nº 824) e no Hemocentro da Santa Casa de São Paulo (Rua Marquês de Itu, 579).  Lá será realizada uma entrevista e será colhida amostra de sangue para o exame de compatibilidade (HLA).
  1. Passo 2: As informações são enviadas e registradas no REDOME, que pede para que elas sejam sempre atualizadas.
  1. Passo 3: Por sua vez, o paciente que precisa da doação de medula é cadastrado no REREME (Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea). O sistema cruza os dados com os do REDOME até encontrar doador compatível.
  1. Passo 4: Quando houver um paciente com possível compatibilidade, o voluntário será consultado para decidir quanto à doação. Para seguir com o processo serão necessários outros exames e avaliação clínica de saúde. Só então ele é encaminhado para um centro de coleta para doar.

Entenda o procedimento de doação

INCA Tânia Rêgo/Agência Brasil

O ato da doação pode ocorrer de duas formas. Uma delas é a coleta nas veias sanguíneas, por meio de máquina de aférese. «Nesse caso, o doador recebe medicamento por cinco dias que estimula a multiplicação das células-tronco. Essas células migram da medula para o sangue e são coletadas. O procedimento dura, em média quatro horas. A máquina colhe o sangue da veia do doador, separa as células-tronco e devolve os outros componentes do sangue que não são necessários para o transplante», diz a coordenadora médica.

A outra alternativa é a punção de medula óssea em centro cirúrgico, quando se colhe a medula de dentro do osso. «Ela é realizada com agulha especial e seringa na região da bacia. Retira-se quantidade de medula em volume que dependerá do tamanho do receptor, podendo chegar a 15ml/kg de peso do doador. É realizada anestesia geral, e o procedimento dura, em média, 90 minutos. Apesar de ser feita no centro cirúrgico, não é uma cirurgia, já que não tem cortes», completa a médica.

As células-tronco se proliferam naturalmente e, por este motivo, cerca de duas semanas após a doação o organismo estará recuperado. Em alguns casos, o doador pode ser compatível com outro paciente e doar novamente. 

Chance de sucesso

Pexels

Jayr Schmidt Filho, head de Hematologia do A.C.Camargo Cancer Center, explica que a chance de sucesso após o transplante de medula varia. Isso significa que, depois de vencida a batalha de encontrar um doador, ainda assim a guerra não está completamente ganha. Tudo vai depender da compatibilidade, do tipo de doença e seu status. «É realmente algo multifatorial e não dá para se chegar a um número, porque é preciso levar em conta todos os itens», afirma.

Independentemente do cenário pós-transplante, o especialista ressalta a importância de se voluntariar para ser um doador. «O transplante de medula óssea alogênico (vindo de um doador) é a única modalidade terapêutica curativa de muitas doenças. Encontrar o melhor doador em termos de compatibilidade vai levar muitos pacientes com doenças hematológicas oncológicas a se curarem.»

Aguardando a vez de ajudar

A farmacêutica Mariana Pedrosa, de 33 anos, está cadastrada como doadora de medula óssea no REDOME desde 2011, quando uma criança da família foi diagnosticada com síndrome de Wiskott-Aldrich, uma doença hematológica cuja cura se dá apenas por meio do transplante.

«Quando João Pedro tinha apenas um mês de vida, começamos a notar os sintomas. Ele estava sempre mole e tinha problemas intestinais. Um certo dia, precisou ir ao hospital porque não se mexia, e o exame de sangue veio todo alterado. Depois de um tempo, os médicos descobriram do que se tratava. A partir de então começamos uma campanha para que o maior número de pessoas – familiares e amigos – se cadastrassem», lembra.

Mariana conta que depois de cerca de dois anos o menino conseguiu, finalmente, um doador compatível. Toda a luta do pequeno acabou servindo para conscientizar a farmacêutica do que ela, na teoria, já sabia. «Ao ser doador, você tem a chance de dar algo que não vai te fazer falta, mas que pode salvar a vida do outro. Mesmo depois que achamos a medula que precisávamos, fiz questão de não excluir meu cadastro. Se eu for compatível com outra pessoa, eu vou doar, mesmo sendo um desconhecido», garante.

Mariana figura entre um dos 5.419.941 doadores cadastrados hoje no REDOME, segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva).

No Estado de São Paulo são 1.390.687 doadores cadastrados – 184.206 apenas na capital paulista.

Atualmente, 850 pacientes, em média, esperam por um doador não aparentado compatível. 

Ainda de acordo com o instituto, cerca 700 buscas são finalizadas por ano.

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