O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que, durante a primavera, que começa amanhã (22), os efeitos do fenômeno climático La Niña se farão sentir moderadamente em parte do Brasil, podendo afetar a regularidade das chuvas, principalmente na faixa centro-norte do país.
“Estamos esperando [a ocorrência do] La Niña durante a primavera, mas [o fenômeno] deverá ser de curta duração e não muito intenso”, disse, hoje (21), a coordenadora de Meteorologia Aplicada, Desenvolvimento e Pesquisa do Inmet, Márcia dos Santos Seabra, durante evento virtual em que o instituto, vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tratou das perspectivas climáticas para a primavera deste ano.
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Segundo a meteorologista, a probabilidade de que algumas condições climáticas associadas a La Niña ocorram durante a primavera é de 70%. E a tendência para o quarto trimestre do ano é que o volume de chuvas supere a média histórica em boa parte das regiões Centro-Oeste e Norte do país, mas fique abaixo da média na Região Sul e em partes de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, principalmente durante os meses de outubro e novembro, período em que a irregularidade das chuvas tende a ser maior. Já para a Região Nordeste, a previsão para a primavera indica chuvas iguais ou superiores à média histórica, com exceção de algumas localidades do sudeste do Piauí e do norte da Bahia, onde a precipitação pode ser abaixo da médica histórica da estação.
Ainda de acordo com Márcia, em novembro, a temperatura média deve ficar ligeiramente abaixo da média histórica em áreas da Região Sudeste e do leste da Bahia, o que também pode ocorrer no Amazonas, em dezembro. Ainda assim, em grande parte do restante do país, a temperatura deve ficar dentro da faixa normal, principalmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O prognóstico, no entanto, depende da combinação de uma série de fatores capazes de influenciar o regime de chuvas, como as temperaturas na superfície do Oceano Atlântico, em particular na área oceânica próxima à costa do Uruguai e da região Sul do Brasil.
Menos chuvas
Embora seja um período de transição entre as estações seca e chuvosa no setor central brasileiro, uma menor precipitação pluviométrica vem sendo registrada ano após ano, já há muito tempo, conforme apontou a meteorologista.
“Desde 1961, durante a primavera, o volume de chuvas vem caindo em todo o Brasil. Essa tendência se acentuou a partir dos anos 2000, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste”, acrescentou Márcia, destacando as consequências dessa situação para a Bacia do Rio Paraná, que abrange seis estados (Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo), além do Distrito Federal, atende a cerca de 70 milhões de brasileiros e abastece a diversos grandes reservatórios d´água da região mais industrializada do país, incluindo Itaipu.
Desde maio deste ano, quando o Sistema Nacional de Meteorologia, formado por vários órgãos federais, emitiu um alerta de emergência hídrica motivado principalmente pelas escassez de chuvas na Bacia do Paraná, a situação na região hidrográfica vem piorando. Dados do Inmet revelam que, em 2020, as chuvas na região ficaram em torno de 350 mm abaixo da média. Já em 2021, o desvio, até 31 de agosto, já estava em torno de 300 mm abaixo da média, com tendência a piorar até o início das chuvas da primavera.
Já a Região Norte não apresenta tendência significativa de aumento ou diminuição de chuvas durante a primavera, enquanto a Região Sul é a única que mantém uma “ligeira tendência” de aumento da precipitação pluviométrica durante esta estação do ano.
Ao contrário das chuvas, a temperatura registrada a cada ano, durante a primavera, vem aumentando em todas as regiões do país desde 1961. Segundo o Inmet, os “desvios positivos de temperatura” começaram a ficar mais frequentes no início dos anos 2000, com uma única interrupção em 2012, ano em que houve um El Niño de forte intensidade.
“Quando analisado todo o período de 1961 a 2020, a variação total da temperatura no Brasil foi de 1,39°C, ou seja, uma elevação de 1,39°C de temperatura média nas primaveras. Como comparação, no mesmo período, o aquecimento no planeta foi de cerca de 1,59°C”, aponta o instituto em nota técnica divulgada pelo instituto.