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Alta dos combustíveis afeta entregadores de aplicativos

Preço dos combustíveis nos postos prejudica a renda dos trabalhadores, que aumentam a carga horária ou abandonam a profissão.

Sem saída. Preço da gasolina nos postos prejudica a renda dos trabalhadores, que aumentam a carga horária ou abandonam a profissão


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Por muito tempo, Felipe Viana, de 37 anos, conseguiu sustentar sua família trabalhando como entregador de aplicativo, profissão que começou a exercer há sete anos. A expressiva alta dos combustíveis neste ano, porém, fez com que ele deixasse de prestar o serviço para investir em um lava a jato.

“Foi o caminho que encontrei para conseguir pagar as minhas contas. Preciso sustentar a minha namorada grávida e o meu filho de 18 anos, que está desempregado.”

A dificuldade de Viana é também a de muitos brasileiros. De janeiro a agosto deste ano, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) elenca os combustíveis entre os itens que mais tiveram aumento. O etanol subiu 40,75%, seguido pela gasolina, com 31,09%, o GNV (gás natural veicular), com 30,12% e o óleo diesel, com 28,02%.

A inflação ainda atingiu custos básicos de vida, como a indispensável alimentação. Com isso, mais que complicar a vida de quem usa veículos particulares para se locomover, os preços dos combustíveis prejudicam diretamente a renda de entregadores de aplicativos.

Luciano de Oliveira Rosa, de 43 anos, por exemplo, relata que, um ano atrás, conseguia até R$ 5 mil em um bom mês. Agora, se quiser chegar na metade desse valor, ele precisa trabalhar cinco horas a mais. “Sou motoboy há 14 anos e, há cinco, trabalho com aplicativos. Nunca passei por uma situação tão difícil. Estou trabalhando muito mais e ganhando bem menos. Tenho passado fome pois preciso sustentar a minha mãe e os meus cinco filhos.”

Desde o ano passado, entregadores de aplicativos reclamam da baixa remuneração pelo serviço. Foram, inclusive, feitas paralisações em diferentes datas cobrando mais transparência sobre as formas de pagamento adotadas pelas plataformas, além de políticas de segurança e o fim do que consideram “exclusões indevidas” de prestadores.

Segundo o presidente da AMABR (Associação dos Motofretistas de Aplicativo e Autônomos), Edgar Francisco da Silva, o “Gringo”, esses fatores, somados ao aumento dos combustíveis, levaram muitos profissionais, como Viana, a abandonar a profissão. “Há entregadores que deixaram de fazer o seguro das motos, de se alimentar adequadamente e de fazer a manutenção dos veículos. Eles também passaram a correr mais para fazer mais entregas e a trabalhar mais horas, o que aumenta o risco de acidentes e de infrações de trânsito”, explica.

Para o economista Rodolfo Coelho Prates, professor da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), é necessário que as empresas do ramo, como iFood, Rappi, Uber Eats e 99 Eats, tomem medidas que ajudem a cobrir o prejuízo causado pelo aumento nas bombas. “Costumamos dizer em economia que não existe almoço grátis. Alguém sempre estará pagando a conta. A gasolina aumentou assustadoramente e a empresa não repassa benefícios adicionais suficientes para cobrir os custos dos entregadores, e tampouco reajustam os valores das entregas. Quem está suportando o custo são os entregadores”, explica.

O que dizem as empresas?

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Em nota, a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), que possui associados como iFood, Uber Eats e 99 Eats, afirma que as empresas têm buscado ajudar entregadores a reduzir os gastos com os combustíveis. “Fizemos convênios com redes de postos que oferecem desconto no abastecimento dos veículos, além de parcerias com empresas para ofertar peças, acessórios e manutenção com preços especiais”, diz o texto.

Já o Rappi afirmou, em resposta à reportagem, que reajustou o frete dos entregadores com automóveis em até 30% nos estados onde atua. “Quanto aos que usam motocicletas, o Rappi vem investindo em tecnologia e logística para que eles entreguem mais, percorrendo distâncias menores, e assim possam aumentar seus rendimentos.”

Nas bombas

Último levantamento da ANP aponta oitava semana de alta seguida no preço da gasolina. Com o aumento do diesel, em vigor desde quarta-feira (30), a expectativa é de mais aumentos.

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Preços médios no Brasil (em R$):

  1. Gasolina: 6,092
  2. Etanol: 4,715
  3. Diesel: 4,707

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*Com supervisão de Luccas Balacci

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