Você já sentiu que não é bom o suficiente, que não merece o sucesso ou que a qualquer momento as pessoas ao seu redor vão descobrir que você é uma fraude? Atenção: é bem provável que você sofra da chamada síndrome do impostor.
O quadro não integra a classificação internacional de doenças, mas se trata de uma nomenclatura criada para definir um determinado comportamento. O termo surgiu em 1978, quando as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, da Universidade do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos, estudaram um grupo de 150 mulheres que tinham muito sucesso e, mesmo assim, se sentiam uma enganação - sim, mulheres são as mais afetadas pelo problema, que se baseia em dois pilares: falta de confiança e autossabotagem.
“Quanto mais papeis a mulher exerce, mais tende a ser acometida pela síndrome do impostor - ou melhor, impostora. É o caso de mulheres que já são mães ou profissionais que planejam ter filhos”, explica Thaís Zundt, sócia da Triö Desenvolvimento, consultoria de desenvolvimento humano.
Thaís conta que, no passado, foi uma das vítimas da síndrome. “Falava que não queria ser líder, ‘Deus me livre’, eu dizia. Até que uma gestora me questionou. ‘Mas por que não’ e começou a me orientar. Com seu incentivo, cheguei à posição de gerente”, lembra.
A sócia da Triö afirma que estudos indicam que 70% das pessoas terão pelo menos um episódio da síndrome do impostor ao longo da vida. Nela, a própria pessoa impede o seu crescimento na carreira.
“Quem convive com a síndrome do impostor não se sente à altura de uma determinada atividade profissional e aí começa a autossabotagem. Surge uma baixa de energia e indisposição para exercer aquela atividade. A pessoa começa a fugir. Mas vale dizer que o que fica mais em evidência não é o comportamento em si, mas as emoções e pensamentos que ela tem, acreditando realmente não ser capaz”, afirma Rodrigo Acioli Moura, psicólogo e conselheiro do CFP (Conselho Federal de Psicologia).
Moura cita o grande desgaste físico-mental-intelectual sentido por quem pensa ser um impostor. “O dia a dia é sofrido. O profissional não consegue se concentrar 100% em uma tarefa, isso porque tem dois trabalhos: o primeiro é dar conta da demanda que recebeu e o segundo é lidar com os pensamentos ‘não consigo’, ‘sou incompetente’, ‘não sou preparado para isso’, ‘não sou capaz’. Trata-se de uma batalha pessoal que gera estresse, ansiedade e angústia.”
O psicólogo ressalta ainda que, muitas vezes, o profissional não está, de fato, 100% preparado para ocupar determinada posição no mundo corporativo. Porém, o que não se pode esquecer, é que o conhecimento pode ser obtido e que é possível, sim, progredir. “Existem pessoas realmente impostoras? Sim, existem. Mas nesse caso estamos falando de alguém que tem potencial e capacidade, mas não os enxerga.”
Sofro da síndrome do impostor?
Thaís diz que nem sempre é fácil identificar que se sofre da síndrome do impostor. Contudo, a especialista dá algumas dicas para que cada uma faça uma autoanálise.
O primeiro ponto é o movimento cíclico que se instaura, como um vai e vem de emoções. “É quando, por exemplo, a pessoa quer comprar uma casa, mas bate o medo de perder o emprego, e então ela recua. A vontade continua e surgem raiva, alegria e outros sentimentos cíclicos. É aquele momento em que se decide ou se desiste de dar um passo adiante”, diz.
Outra característica forte de quem se julga um impostor é a necessidade de ser o mais amado. “Muitas vezes achamos que precisamos ser os melhores e, então, paralisamos”, aponta Thaís.
No caso das mulheres, há ainda o desejo de ser a “Mulher Maravilha”. “É quando ela coloca como objetivo ser a melhor mãe, a melhor empreendedora, a melhor filha. Esse ideal de perfeição gera um desgaste imenso e aí vem a ‘catastrofização’. Algo que não sai como o previsto vira culpa enorme.”
O próximo ponto é extremamente comum: a negação do elogio. “É quando se nega as competências que se tem. As mulheres, de uma maneira generalizada, têm mais dificuldades em receber elogios. Além disso, vale dizer que tendem a se candidatar a vagas de emprego quando contam com 100% dos pré-requisitos exigidos. O homem é mais ousado. Com 20% das qualificações, ele já se candidata para aquele mesmo cargo que a mulher nem tentou”, explica.
Por fim, há o medo de falhar e a culpa pelo sucesso. “A pessoa se pergunta ‘será que eu mereço’ e pensa que algo vai dar errado”, finaliza a sócia da consultoria de desenvolvimento.
Como mudar o mindset limitador
Segundo o conselheiro do CFP, é possível deixar a síndrome do impostor no passado por meio da mudança de crenças que temos a nosso próprio respeito. “Elas funcionam como regras e leis absolutas individuais. Agimos e respondemos à vida de acordo com aquilo que acreditamos e a partir das nossas experiências. A questão é que algumas vezes estamos certos e outras equivocados. E quando estamos equivocados, nos deparamos com dificuldades e precisamos mudar a nossa maneira de pensar sobre determinada situação, o que vai gerar uma nova experiência e novos comportamentos.”
Dessa forma, Moura faz um convite à reflexão. “E se aqueles que pensam ser incompetentes estiverem enganados? Se eles apenas não estiverem enxergando suas capacidades? Vale se perguntar: por que pensar dessa maneira? Quais evidências eu tenho de que não sou capaz? Quais experiências reforçam essa crença a respeito de mim mesmo?”, provoca o psicólogo.
Esse trabalho interno, porém, fica bem mais fácil quando se conta com ajuda - e ajuda especializada. Por isso, Moura recomenda a busca por profissionais da saúde mental. “Por meio de psicoterapia será possível reconhecer se existe um pensamento disfuncional e, assim, mudar a forma de pensar.”
Thaís complementa: “Busque autoentendimento e busque agora! Além da ajuda terapêutica, procurar profissionais com vivência no mundo corporativo pode fazer toda a diferença. Sozinho tudo fica mais difícil. É preciso tirar o problema do irracional, verbalizar e ter com quem compartilhar”, encerra.