O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, enfrentou diversas perguntas críticas de uma jornalista sobre a invasão da Ucrânia durante a entrevista coletiva online que fez nesta quinta-feira, 3. Em resposta, ele acusou a repórter de fazer propaganda pró-ocidente e ignorar as guerras que envolvem Estados Unidos e Europa.
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Ela começou contando história de uma mulher que foi supostamente morta em Kiev em seu carro por soldados russos, então questionou: “Senhor Lavrov, eu sei que o senhor tem uma filha. Quero que você me olhe nos olhos e me diga como que você dorme à noite sabendo que bombas e munições estão matando crianças?”
“Qualquer vida humana é preciosa”, respondeu Lavrov. “Infelizmente, toda hostilidade resulta em mortes entre muitos civis. Nossas tropas que tem participado da operação especial tem a ordem estrita de usar armas de alta precisão para tirar de operação a infraestrutura militar das tropas ucranianas.” O termo “operação especial” é utilizado pela Rússia para se referia à invasão - o país proibiu veículos de imprensa de utilizarem “invasão” e “guerra”.
O chanceler continuou dizendo que “só poderia oferecer condolências” quando foi interrompido pela jornalista: “centenas de civis já foram reportados mortos, isso já está sendo investigado pela corte internacional. Eu me pergunto se você está pessoalmente se preparando para uma defesa em um tribunal de crimes de guerra?”
Lavrov então muda o tom e começa a fazer acusações contra a repórter. “Eu entendo o seu desejo em fazer essas perguntas afiadas, você quer incitar a sua audiência. Esse é o seu trabalho. Não é sobre a mídia de massa, mas ser uma ferramenta para entrar na mente das pessoas. A exata coisa que os líderes do ocidente precisam.”
E continua: “De novo, vou reiterar que não vou justificar nenhum ação que leva à morte de civis, mas o dano colateral não foi gerado por nós mas por nossos colegas do ocidente.”
O chanceler repete um discurso muito comum no governo russo que é citar a invasão americana no Iraque - feita sob falsos pretextos de armas de destruição em massa - e intervenções na América Latina e na Líbia. “Você tentou aplicar esse discurso emocionado quando milhares de pessoas morreram no Iraque ou na Líbia ou Síria?”
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E mais uma vez a jornalista interrompe: “Você que começou essa guerra, esse sangue está na sua mão, senhor Lavrov.”
“Não vou jogar este jogo. Você fala agora como uma apresentadora de talk show”. E finaliza sugerindo que ela estudasse os documentos no site do governo de Moscou citando supostas mortes de russos pelo governo ucraniano em Donbass.
Mortos e refugiados
Centenas de civis ucranianos morreram desde o início da invasão, que será investigada pelo procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), o britânico Karim Khan, por supostos crimes de guerra após as acusações de Kiev de bombardeios contra zonas residenciais.
“A invasão da Rússia abriu um novo e perigoso capítulo na história mundial”, disse Michelle Bachelet, principal autoridade de direitos humanos da ONU. Segundo ela, a ONU já confirmou a morte de 227 pessoas, incluindo 15 crianças, mas enfatizou que “os números reais serão muito maiores” porque seu escritório não recebeu detalhes de vítimas de áreas de combate feroz. O governo ucraniano de Volodmir Zelenski já chegou a informar mais de 2 mil mortes até quarta-feira, 2.
Nesta quinta-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) atualizou os números de deslocados e informou que mais de um milhão de pessoas fugiram da Ucrânia em sete dias. Mais da metade delas seguiram para a Polônia.
Os países ocidentais e seus aliados responderam à invasão com uma bateria de sanções para isolar a Rússia nas áreas diplomática, econômica, cultural e esportiva.
Kherson tomada
A Ucrânia confirmou a queda da cidade de Kherson para as tropas russas. Esta é a maior vitória do Exército da Rússia desde o começo da invasão há uma semana. As tropas russas, intensificaram os bombardeios contra outros centros urbanos, o que pode aumentar o número de civis mortos rapidamente. A Rússia porém, nega que esteja mirando edifícios civis e sim militares.
O conselho da cidade de Mariupol, um importante porto no Mar de Azov (que banha tanto a Ucrânia quanto a Rússia), disse que as forças russas estão constantemente e deliberadamente bombardeando infraestruturas civis vitais no porto do Sudeste da Ucrânia, deixando-o sem água, aquecimento ou energia e impedindo o fornecimento de suprimentos ou a saída de pessoas. (Com agências internacionais).