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Com guerra na Ucrânia, céu é o limite para preço do combustível, diz economista

Ataque ao país e a política de sanções dos EUA ao petróleo vendido pela Rússia impactaram o mercado internacional; futuro é incerto

Guerra na Ucrânia e sanções dos EUA interferem no valor do combustível no Brasil
Guerra na Ucrânia e sanções dos EUA interferem no valor do combustível no Brasil Pixabay (Divulgação)

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) um novo reajuste nos preços da gasolina, gás de cozinha e diesel. O ataque russo à Ucrânia e a política de sanções dos Estados Unidos ao petróleo vendido pela Rússia impactaram o mercado internacional, que já acumula alta de 45% no ano no barril de petróleo Brent, atingindo o patamar de venda de US$ 139. Dessa forma, as incertezas que rondam o mercado internacional podem fazer com que os valores do combustível subam ainda mais por aqui.

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“Com o cenário atual, o céu é o limite para eventuais novos reajustes”, diz Alberto Ajzental, professor de Economia na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

O especialista lembra que o Brasil mal se livrou dos efeitos econômicos da pandemia da covid-19 e já tem de lidar com uma nova crise econômica motivada pela guerra em solo ucraniano, um evento, segundo ele, muito mais intenso e abrupto do que o vírus em termos econômicos.

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“No caso da covid, enquanto a Ásia e a Europa já tentavam frear os efeitos da doença, no Brasil a população ainda pulava Carnaval. Até a pandemia ganhar corpo por aqui passaram-se meses. Já a guerra foi imediata, de um dia para o outros. Em questão de horas, os portos da Ucrânia foram fechados”, lembrou Ajzental. “Podemos pensar na crise da covid-19 como um monte arredondado e no conflito atual como um pico, em que há muito mais insegurança e nervosismo por parte do mercado”, afirmou o economista.

Ajzental destacou que, do mesmo jeito que a crise atual foi instaurada “de repente”, sua solução também pode ser imediata, dependendo da vontade dos poucos agentes envolvidos - representantes da Rússia e da Ucrânia. Exatamente por conta das incertezas que rondam o tema, a instabilidade gerada se mostra mais forte.

Enquanto isso, o mundo busca alternativas. “A Rússia não detém 100% do petróleo. Conta com cerca de 10%. Então países como Venezuela e Irã estão sendo procurados para tentar repor parte dessa perda e evitar um colapso maior. O mercado como um todo, porém, está bastante apertado, e não se tem muita margem. Por isso, os preços estão pressionados.”

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Preços estavam congelados no Brasil

Os preços dos combustíveis estavam congelados no Brasil há quase dois meses nas refinarias. Com o reajuste anunciado hoje, o litro da gasolina para as distribuidoras vai passar de R$ 3,25 para R$ 3,86 nesta sexta-feira (11), um aumento de 18,8%, e o diesel vai subir de R$ 3,61 para R$ 4,51, alta de 24,9%.

Já o gás de cozinha terá o preço reajustado para as distribuidoras em 16,1%, passando de R$ 3,86 para R$ 4,48 o kg, fazendo com que o preço do botijão (para a distribuidora) custe R$ 58,21.

Ajzental explica que, em um histórico dos últimos 12 meses, houve uma defasagem entre o preço do petróleo e o preço do combustível nas bombas. “Quem tem que implantar o reajuste para resolver a questão é a Petrobras, uma empresa de capital misto, uma vez que ela compra o petróleo de empresas internacionais. Em uma comparação simples, quando o trigo sobe, o padeiro precisa aumentar o preço do pão.”

O que o governo pode fazer

Apesar de o governo ser o sócio majoritário da Petrobras, o professor é categórico ao dizer que ele não deve intervir nos preços e na gestão da companhia.

“A Petrobras tem que ter saúde financeira para continuar investindo e crescendo e, como uma empresa, ela vai trabalhar com as oscilações de mercado. Quem tem que promover ações sociais é o governo e isso pode acontecer de diversas formas, inclusive com redução de impostos”, diz o especialista.

O governo federal leva 11% de imposto sobre os combustíveis, conforme explica Ajzental. A fatia maior é abocanhada pelos Estados. Em São Paulo, por exemplo, só de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) se paga 28%. “E os governos estaduais não fazem absolutamente nada nessa cadeia produtiva. Então quando o petróleo dobra de valor e preço nas refinarias também dobra e, na mesma proporção, sobe o ICMS”, diz. “Discutir os lucros da Petrobras é uma cortina de fumaça para o real problema: o efeito multiplicador dos impostos”, finaliza.

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