Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) usaram leite materno para tratar covid-19 em um paciente portador de uma doença genética rara que faz com que seu sistema imune não seja capaz de combater o vírus.
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O paciente tinha um quadro de covid que se arrastava por 120 dias e diante da dificuldade de gerar anticorpos para combater a doença, foi orientado a ingerir 30 milímetros de leite materno a cada três horas de uma doadora devidamente vacina contra o coronavírus. Após o período, o teste RT-PCR deu negativo.
De acordo com a pediatra Maria Marluce dos Santos Vilela, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp) e autora principal do artigo, o sistema imune do ser humano produz cinco tipos de anticorpos, as imunoglobulinas IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. Os portadores da doença que o paciente possui tem, em alguns casos, ausência completa do IgA, anticorpo responsável por neutralizar os vírus.
Entretanto, o leite materno é rico em IgA. “Ficamos receosos de que a infecção se prolongasse por muito tempo, o que a debilitaria ainda mais e aumentaria o risco de contaminar outras pessoas. Nessa mesma época, saíram os resultados de um estudo mostrando que mulheres lactantes imunizadas com a vacina da Pfizer produziam leite com uma quantidade razoável de IgA. Decidimos então fazer a experiência assistencial de reposição de IgA via leite materno”, conta a médica.
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O IgA, segundo a pesquisadora, funciona como uma ‘vassoura’ que vai grudando nos patógenos ao longo do trato gastrointestinal e eliminando tudo nas fezes. O intervalo de consumo a cada três hortas, disse a professora, foi adotado para evitar que o vírus continuasse se replicando.
O teste deu negativo após uma semana e dois outros exames feitos com intervalos de 10 dias também não apontaram a presença do vírus no organismo.
A pesquisa foi publicada na revista Viruses.