A manicure Vivian Bruna Braes, de 38 anos, perdeu um olho após ser atacada por um vizinho com um golpe de facão, em Macaé, no Rio de Janeiro. Em entrevista ao Universa, do “UOL”, ela relatou que o motivo foi uma música que ela ouvia, que foi classificada pelo agressor como sendo “de macumba”.
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O caso aconteceu em 23 de abril, data em que se comemora o Dia de São Jorge. Devota, ela conta que era por volta das 18h quando estava no portão de casa ao lado da família ouvindo as músicas. Em determinado momento, seu companheiro foi ao bar em frente a sua casa e escutou críticas de um homem porque o grupo estava escutando “macumba”. Segundo ela, seu marido não respondeu.
Mais tarde, Vivian acompanhou o marido até o bar, quando ouviu mais ofensas contra sua religião. Ela questionou ao homem qual era o problema de ouvir aquele som, iniciando uma discussão. O vizinho, aparentemente bêbado, tropeçou em uma caixa e caiu.
O homem deixou o bar e, em seguida, voltou com um facão nas mãos. A manicure disse que ele apontava o objeto para eles e, na tentativa de defender o marido, acabou atingida no rosto. Ela foi socorrida e levada a um hospital, mas acabou perdendo um olho. “Estou assim pela ignorância de um espírito sem luz”, lamentou Vivian.
Intolerância religiosa
Segundo a reportagem do Universa, a manicure foi vítima de intolerância religiosa. O caso foi denunciado à Polícia Civil, mas a investigação é conduzida como tentativa de homicídio. No entanto, até agora, o suspeito não chegou a ser intimado para ser ouvido.
A reportagem também pediu um levantamento às Secretarias de Segurança Pública de São Paulo e Rio de Janeiro sobre crimes contra o sentimento religioso.
Em São Paulo, de 2018 até abril deste ano, o Tribunal de Justiça registrou 447 novos processos. Já no Rio, estado onde Vivian foi agredida, apenas em 2021 a polícia registrou 1564 ocorrências ligadas a crimes de ódio e intolerância religiosa, um aumento de 13,3% em relação a 2020, quando a média de casos por dia superou a marca de três.
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O historiador Pedro Rebelo, especialista em ciência da religião, disse que a intolerância religiosa no país, em especial contra religiões de matrizes africanas, é uma herança do racismo estrutural que começou no século 18, quando se confundia rituais africanos com feitiçaria.
“Não há como dizer que o ataque contra terreiros no Brasil possa ser tipificado unicamente como intolerância religiosa. Trata-se de racismo religioso”, apontou.
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