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Carne de laboratório: entenda como é produzida e quais os desafios para tornar preço acessível

Material é feito a partir de células-tronco de animais e, no futuro, pode se tornar uma realidade no Brasil

Brasil tem pesquisas em andamento para produção de carne em laboratório (Divulgação/Eppendorf)

O consumo de carne animal e o impacto ambiental para essa produção é um tema que vem sendo discutido ao longo de anos em todo o mundo. Além dos danos ao meio ambiente, existem questões éticas a respeito do sacrifício de uma vida apenas para a alimentação de humanos. No Brasil, pesquisas estão em andamento e, no futuro, a carne produzida em laboratório, também conhecida como in vitro, poderá se tornar uma realidade.

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Henrique Coelho de Oliveira, gerente de bioprocessos da Eppendorf, empresa criadora de biorreatores que são usados no cultivo da carne em laboratório, explicou ao Metro World News como é o processo de produção e quais os desafios para que esse tipo de carne chegue ao consumidor brasileiro com um preço acessível.

“Para termos a carne comum é preciso criar o animal desde pequeno e acompanhar o crescimento até o ponto do abate. Para isso, será necessário atender demandas de espaço, insumos, entre outros custos. Além de todo esse investimento, existem questões éticas, já que aquele ser vivo é criado apenas para abastecer o consumo humano. Por isso o desenvolvimento de carne em laboratório é importante, pois ele visa criar a carne sem desperdícios, e não sacrifica um ser. É o equivalente ao conceito de consumir plantas”, explicou.

Segundo Oliveira, a carne produzida em laboratório é feita a partir de células-tronco dos animais e permite que sejam criados os cortes que são mais consumidos.

“Em laboratório, a gente pode produzir aquelas partes com músculo e gordura, que são as consumidas pelas pessoas. Isso evita desperdícios, uma vez que sabemos que em relação aos animais nem tudo é aproveitado. Então, é possível fazer um apanhado de células musculares e de gordura, produzir em grande quantidade e dar uma forma com aspecto da carne que conhecemos.”

O especialista ressaltou que a carne em laboratório tem os mesmos nutrientes daquelas de origem animal e, além disso, é possível cultivar as células de aves e peixes.

“A ideia é que sim, a carne de laboratório tenha os mesmos nutrientes daquela de origem animal, afinal, ela é fruto da mesma célula. É carne, é o mesmo DNA. Isso vale para os produtos bovinos, mas também é possível aplicar o mesmo processo em aves e peixes”, disse.

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Imagem mostra processo de produção de carne em laboratório (Reprodução/Fapesp/Mosa Meat)

Como a carne de laboratório é produzida?

Oliveira contou que o processo de produção de carne em laboratório consiste no cultivo de células-tronco de animais em grande quantidade. Inicialmente, esse material é trabalhado em pequena quantidade em uma espécie de incubadora e, depois, transferido para o biorreator, onde as células terão os nutrientes e ambiente ideal para crescerem em grande quantidade.

“O uso do biorreator é importante, pois eles oferecem condições ideais de temperatura, PH, oxigênio para esse crescimento eficiente e saudável das células. Depois que o grande volume é obtido, começa o processo de ‘moldar’ a carne da forma que estamos acostumados a consumir”, explicou.

Uma das vantagens da carne de laboratório, na comparação com a de origem animal, é a garantia de certeza do que estará sendo consumido, de acordo com Oliveira.

“Quando a gente fala de produção tradicional, sabemos que muitas vezes é preciso o uso de remédios, antibióticos, entre outros, para manter a saúde e acelerar o crescimento do animal e tudo isso vem para o nosso prato. Então não conseguimos garantir 100% que estamos comendo apenas carne. Já em laboratório, isso não acontece. Conseguimos controlar tudo o que está sendo introduzido na carne, que é verdadeiramente saudável”, ressaltou o especialista.

Desafios

O gerente de bioprocessos da Eppendorf destacou que, hoje, o grande desafio dos pesquisadores da área é baratear os custos da carne produzida em laboratório. Segundo ele, atualmente, já existem empresas nos Estados Unidos que comercializam esse tipo de produto, mas os valores repassados aos consumidores são bem altos.

“No Brasil, estamos ainda em fase de desenvolvimento de processos para ter um produto com todas as condições sanitárias e com preços acessíveis. Ainda vai levar um tempo para que consigamos encontrar esses produtos nas prateleiras dos mercados, pois tudo depende dos investimentos que são feitos aqui no país. Mas existem algumas startups que prometem oferecer o produto nos próximos cinco ou dez anos. Mas, por enquanto, segue o desafio de baratear o processo de produção para que os preços das carnes in vitro sejam acessíveis”, concluiu.

Carne de pescado em laboratório

A startup Sustineri Piscis, com sede no Rio de Janeiro, obteve no início deste ano a primeira bioprodução da carne de pescado por meio do cultivo celular no Brasil. Ela foi possível a partir da biópsia de quatro espécies comerciais de peixe - garoupa, cherne, robalo e linguado.

O objetivo, segundo o biólogo marinho Marcelo Szpilman, fundador da startup, é iniciar a produção industrial e a comercialização a partir de 2023.

“Trata-se de uma alternativa mais sustentável que não vai substituir, e sim acrescentar. Além da economia de água e espaço para criadouros, é um caminho viável para garantir a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção. A carne de pescado em laboratório pode ser produzida em qualquer lugar, evitando, assim, grandes deslocamentos e até o congelamento da carne”, garantiu ele.

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