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Mulher estuprada por anestesista em parto diz que foi avisada antes da alta: ‘Saí pelo fundos, com vergonha’

Vítima lamentou a violência sexual, mas ainda mais por não ter conseguido amamentar o filho

Médico segue preso
Vítima de anestesista disse que esperava saber tudo, menos que foi abusada durante o parto (Reprodução/TV Globo)

A mulher que foi estuprada pelo médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra durante uma cesárea, no Rio de Janeiro, falou pela primeira vez sobre como soube o que tinha acontecido. Em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, ela contou que estranhou o gosto ruim na boca após o parto, mas que só teve noção do abuso quando chegou no quarto e foi avisada pela irmã. O profissional segue preso.

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“O diretor do hospital não deixou eu sair do hospital sem saber. Ela falou: ‘O anestesista abusou de você’. Imaginei tudo, menos que eu ia ouvir isso, que eu fui abusada”, lamentou ela.

A vítima disse que ainda enfrenta os traumas do episódio, não apenas por ter sido vítima de uma violência sexual, mas também por não ter vivido o momento mágico que é o nascimento de um filho.

“Em vez de eu sair pela porta da frente do hospital, com meu filho no colo, eu saí pelos fundos do hospital, escondida, com vergonha”, disse ela.

“Aquela alegria de vestir ele [filho] pra sair da maternidade, eu não tive isso”, lamentou a vítima, que também não pôde amamentar o bebê por causa do coquetel anti-HIV que teve que tomar. “Foi o momento mais doloroso pra mim, porque o momento do abuso era assim uma coisa muito desagradável, muito ruim, péssimo, mas que aconteceu comigo. Mas sobre a amamentação, não era só eu. Era o meu filho também. Era assim algo que estava prejudicando ele de alguma forma. Então mexe com o sentimento de mãe e a dor é muito maior”.

O marido da vítima também contou como foi avisado do abuso. “A gente estava no quarto, aguardando, e veio a delegada até mim, mais o oficial. Eu fiquei até espantado, sem entender o que estava acontecendo. Achei: ‘será que eu cometi algum crime?’. Foi quando ela se dirigiu pra mim e disse que a minha esposa tinha sido violentada”.

Anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante por estupro
Anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante por estuprar paciente durante parto (Reprodução/TV Globo)

Mulher avisou que se sentia mal antes do parto

A vítima contou que, ao entrar no centro cirúrgico, o anestesista foi o primeiro profissional a falar com ela e que foi bastante atencioso. “Ele falou pra mim que ia falar tudo o que ele ia fazer e explicar todo o procedimento”.

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Durante o parto, a mulher disse que se sentiu mal e alguma enfermeira alertou Bezerra. “‘Olha, ela teve uma hipoglicemia’, isso porque eu fiquei horas em jejum. Antes da anestesia eu falei que estava me sentindo um pouco enjoada. Aí ele tirou minha máscara, de tecido, e me colocou no oxigênio. Acredito que era só oxigênio, não sei. Eu lembro que ele falou para mim que estava tudo bem e que era pra eu ficar tranquila que ele estava me monitorando”.

A vítima, que já passou por outros partos, contou que começou a se sentir estranha. “Eu me sentia fraca, meus braços apoiados lá e minhas mãos estavam sem força. Nos meus partos anteriores eu nunca passei por isso. Fiquei preocupada, mas não achei se seria nada demais”, contou.

Depois que o filho nasceu, ela diz que não se lembra de quase nada. “Eu lembro que a gente tirou a foto e lembro do bebê só no colo dele [marido]. Depois não lembro de mais nada”.

O marido disse que, neste momento, ouviu a voz de um homem dizendo que ele deveria sair da sala. “Depois que o neném nasceu, aí eu não passei mais do pano que fica ali tampando o rosto dela. No caso, eu via só a mão dela. Foi onde eu toquei na mão dela e saí”.

A mulher conta que, quando começou a acordar, a sensação estranha ficou ainda mais forte. “E naquele estalo eu estava acordando, sem entender como eu dormi”, disse ela, que afirmou que nesse momento o anestesista não estava mais lá. “Outra coisa bem desagradável, eu percebi que tinha algo na minha boca. Alguma coisa assim, um líquido meio gosmento. Eu pensei que não era vômito, não tinha gosto de vômito. E eu tentava cuspir, mas não conseguia. Quando eu falei que estava enjoada antes do parto, o anestesista colocou uma gaze do meu lado esquerdo. Se eu vomitasse, teria a gaze ali. Aí eu olhei e já não vi mais nada ali”.

O vídeo mostrou que o anestesista usou essa gaze para limpar o rosto da mulher após o estupro. Esse material foi recolhido do lixo e levado para perícia, assim como os frascos de remédios usados na sedação.

Segundo o inquérito policial, ele aplicou o anestésico sete vezes na paciente durante o parto.

A vítima disse que ainda não teve contato com as enfermeiras que armaram o flagrante contra o anestesista, mas diz que tem sim vontade de encontrá-las. “Se elas não tivessem tomado essa decisão eu seria apenas mais uma. E isso poderia estar acontecendo, nesse momento, com outra”.

Já o marido afirmou que quer que a justiça seja feita: “Espero que ele continue preso pelo resto da vida dele”, disse. “E eu que ele nunca mais possa tocar mais em mulher nenhuma dessa forma”, concluiu a vítima.

Giovanni Quintella Bezerra foi flagrado em um vídeo abusando de uma paciente durante um parto (Reprodução/Redes sociais)

Relembre o caso

O anestesista, de 31 anos, foi flagrado em vídeo abusando sexualmente de uma paciente, dopada, enquanto ela passava por uma cesárea no Hospital da Mulher em Vilar dos Teles, São João Meriti, na Baixada Fluminense.

Funcionárias do hospital desconfiaram do comportamento do anestesista e da quantidade de sedativo que ele costumava aplicar durante os partos, maior do que o comum.

Elas conseguiram, então, gravar o momento em que o rapaz aparece tirando o pênis para fora da calça e colocando na boca da paciente.

O vídeo foi repassado à polícia, e o anestesista foi preso em flagrante no último dia 10 de julho. Ele foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de oito a 15 anos de prisão.

Bezerra segue preso no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Ele está isolado em uma cela individual por ter curso superior.

O anestesista está impedido de exercer a medicina enquanto corre, em sigilo, a sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina. Pelo menos dois advogados que o defendiam já desistiram do caso.

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