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Mulheres que denunciaram juiz por assédio sexual dizem que ele se valia do cargo para forçar relações

Marcos Scalercio é acusado de abordar vítimas nas redes sociais e até agarrar uma delas dentro de fórum

Juiz e professor está sendo acusado de assédio sexual
Juiz e professor foi acusado de assédio sexual por dez mulheres (Reprodução/Redes sociais)

Mulheres que fizeram denúncias de assédio sexual contra o juiz do trabalho de São Paulo e professor Marcos Scalercio, de 41 anos, disseram que ele costumava usar seu cargo para forçar relações. O homem é acusado de fazer abordagens pelas redes sociais e até mesmo de ter agarrado e beijado uma das vítimas dentro do gabinete dele no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na capital. “Como você não quer sair comigo, eu sou juiz, você não tem noção de quem eu sou?.”

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Até agora, dezenas de vítimas disseram que foram abusadas pelo magistrado, mas apenas três formalizaram o caso perante à Justiça. Em entrevista ao site G1, uma delas contou que era aluna de Scalercio no cursinho Damásio, em 2014, quando ele a abordou e a convidou para sair. Ele a abordou pelas redes sociais e ficava oferecendo ajuda.

“Ele ficava falando de me levar livros até a minha faculdade e um dia simplesmente apareceu. Entrei no carro dele e nós fomos numa cafeteria próxima ao local, quando ele tentou me agarrar”, afirmou ela.

“Na hora, eu falei que não queria isso, fiquei assustada e me retirei daquele local. Depois ele passou a mandar mensagens nas redes sociais dizendo que a gente tinha que sair juntos. Eu me recusava, e ele falava coisas do tipo: ‘Como você não quer sair comigo, eu sou juiz, você não tem noção de quem eu sou?’. Depois disso, eu bloquei ele nas redes”, completou a mulher.

Ela disse que continuou frequentando as aulas, mas que o juiz passou a tratá-la com indiferença. Depois disso, quando já estava formada, ela o reencontrou em uma audiência e foi impedida por ele de fazer perguntas.

Assédio dentro de gabinete

Outra vítima que formalizou a denúncia contra o juiz disse que, em 2018, foi agarrada e beijada à força por Scalercio dentro do gabinete dele no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa.

“Ele se levantou, veio perto da minha cadeira, se apoiou na minha cadeira e começou a tentar me beijar, me assustei e fui para trás com a cadeira. Mas ele forçava todo o corpo pesado nos meus braços, até que teve uma hora que ele fez menos força, e eu consegui me desvincular. Ele tentava me beijar e falava que ‘sabia que eu queria’ e, como não tinha câmeras no gabinete, eu podia ficar tranquila”, afirmou a vítima.

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Ela lembra que chegou a ficar com marcas nos braços por ter sido pressionada com força pelo juiz, que disse: “Sei que você quer”. A mulher disse que o empurrou e ele passou a dizer que tinha muitas pretendentes.

“Ele só falou: ‘Eu sou juiz, tem um monte de mulher que quer sair comigo, e você não tem prova e não vai poder fazer nada’. Na hora eu não falei nada, só teve um momento um pouco antes que eu peguei o celular e tentei filmar, mas ele tirou da minha mão e disse que eu não tinha provas e que eu não poderia fazer nada. Fui fechada naquele gabinete e com certeza, pelo fato de eu ter um cargo inferior, quem sairia punida seria eu”, continuou.

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Entenda o caso

Scalercio é juiz substituto do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 2ª Região e professor de direito material e processual do trabalho no Damásio Educacional, um famoso cursinho preparatório para concursos públicos.

As denúncias de assédio sexual chegaram ao conhecimento da organização sem fins Me Too Brasil, que oferece assistência jurídica gratuita a vítimas de violência sexual. De acordo com o site de notícias, três mulheres procuraram diretamente a ONG.

Ao tomar conhecimento das queixas, o Me Too Brasil as encaminhou ao Conselho Nacional do Ministério Público. Agora, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em Brasília, e o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), em São Paulo, apuram as três acusações.

Outras seis alunas do cursinho Damásio à época e uma professora de direito também acusam o magistrado de assédio, mas não formalizaram os casos frente à Justiça.

Algumas das mulheres compartilharam prints das conversas que alegam ter tido com ele. As fotos foram divulgadas em grupos fechados de concursos públicos voltados a mulheres e acabaram encaminhadas ao Me Too Brasil.

O que diz o juiz?

Em nota, a defesa de Scalercio destacou que as acusações “já foram objeto de crivo e juízo de valor pelo órgão correcional e colegiado do Tribunal Regional do Trabalho da 2a Região. O Dr. Scalercio foi absolvido pelo tribunal e o caso foi arquivado. Foram ouvidas 15 testemunhas no processo. O arquivamento portanto demonstrou que o conjunto probatório, obtido no exercício do contraditório, é absolutamente insuficiente para dar lastro em qualquer dos fatos relatados”.

“É de se esclarecer que a passagem do caso pelo CNJ - Consellho Nacional de Justiça, é etapa natural de qualquer expediente em que se delibera pelo arquivamento no âmbito regional. Não se trata, portanto, de nova investigação, até mesmo porquanto inexistem fatos novos. Também é preciso esclarecer que o Dr. Scalercio não responde a qualquer resvalo na esfera criminal, sendo inverídica a informação que parte do pressuposto que o magistrado está denunciado criminalmente”, continuou o texto.

“Uma vez mais, reitera-se o compromisso deste magistrado e seus advogados com a apuração da verdade dos fatos e seu respectivo contexto, na lógica do devido processo legal. O Dr. Marcos Scalercio é profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura”, concluiu a nota.

Já o cursinho Damásio informou, por meio de nota divulgada por sua assessoria de imprensa, que não recebeu denúncias de assédio sexual contra o professor, mas que se coloca à disposição para apurar “eventuais desvios de conduta”.

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