A Polícia Civil indiciou por fraude processual o médico Bruno Nogueira Teixeira, que atendeu o modelo e influenciador Bruno Krupp e o transferiu para uma UTI depois que ele estava apto a receber alta do Hospital Marcos Moraes, no Rio de Janeiro. O rapaz foi preso por atropelar e matar o estudante João Gabriel Cardim Guimarães e aguardava a liberação para ser levado a um presídio. Porém, o profissional contrariou o diagnóstico de outros médicos apontado quadro de “insuficiência renal”, postergando, assim, a transferência do paciente.
O caso foi investigado e o delegado Aloysio Falcão, da 16ª DP, concluiu que Teixeira cometeu o crime de fraude processual. Segundo o site G1, em depoimento na delegacia, o médico alegou que tomou a decisão em função do quadro clínico de Krupp, mas a polícia disse que os depoimentos dos outros profissionais que o atenderam na unidade hospitalar apontaram que ele estava apto a ter alta.
“Indicio Bruno Nogueira Teixeira pela prática do crime de Fraude processual em processo criminal, que se restaram apurados indícios suficientes de autoria e materialidade delitiva, diante da análise das evoluções médicas, depoimentos da equipe médica do Hospital Marcos Moraes, juntada de artigos médico-científicos e contradições no depoimento do indiciado”, destacou o delegado no documento do indiciamento, que foi encaminhado ao Ministério Público.
Falcão ressaltou que os outros médicos apontaram que Krupp estava em uma enfermaria, sem alteração nos exames, e apresentava um volume urinário satisfatório. Assim, afastando o diagnóstico de Teixeira de “insuficiência renal”.
Ao prestar depoimento, Teixeira confirmou que foi contratado pela família de Bruno Krupp, mas negou qualquer irregularidade no atendimento prestado. “Fui chamado para poder avaliar um paciente vítima de um politrauma severo e esse paciente evoluiu, como acontece em muitos casos desse tipo, para injuria renal aguda, que é uma lesão renal decorrente das rupturas das fibras musculares”, comentou.
“O quadro estava se encaminhando para uma insuficiência renal aguda e por isso o paciente, pelo potencial de gravidade que envolvia o quadro de saúde dele, eu recomendei uma internação no UTI”, explicou o médico, que destacou que não conhecia a família do modelo antes do acidente em que ele matou o adolescente.
“Fui envolvido profissionalmente no caso, não tenho nenhuma relação com a família da vítima. É um caso de comoção nacional e é por isso que estou sendo ouvido. Antes de mais nada, eu queria prestar minhas condolências à família do João Gabriel”, ressaltou.
Modelo queria atendimento exclusivo em hospital
Durante os depoimentos colhidos pela polícia junto aos funcionários do hospital, apontaram que Bruno Krupp foi “rude” e “agressivo” com os profissionais de saúde. Um deles relatou que ele apresentava escoriações por causa do acidente de trânsito, mas que não era um quadro grave para que ele fosse transferido da enfermaria para outro setor. Mesmo assim, o modelo queria atendimento exclusivo.
“Bruno Krupp, em todo momento, se mostrou rude e arrogante, dando ordens para os profissionais e exigindo exclusividade no tratamento. Que em todo momento Bruno foi atendido por dois profissionais, que se auxiliavam e se resguardavam, caso Bruno fizesse algum tipo de reclamação, visto que o comportamento do paciente era de muita agressividade”, diz um trecho do depoimento obtido pelo site G1.
Os funcionários também relataram que o modelo chegou a dizer para uma técnica em enfermagem que só conseguia urinar “balançando” o pênis. Ele estava com as mãos enfaixadas por conta do acidente.
“Que no dia 04/08/2022, por volta de 9h, o paciente apresentava bom estado geral e permanecia na enfermaria do hospital, sendo administrado remédios para dor, curativos e soro, quando em determinado momento a técnica foi até o posto de enfermagem e comunicou que, ao orientar o paciente que o mesmo deveria anotar sua diurese, recebeu a seguinte resposta ‘que somente conseguia urinar, balançando’”.
Uma médica ouvida também destacou que o modelo apresentava quadro estável de saúde, consciente, e apresentava diurese normal. Assim, estava apto a receber alta.
“O paciente não apresentava sinais de desidratação, com diurese espontânea, sem cateter vesical de demora, estável hemodinamicamente, sem sinais de congestão pulmonar, somente apresentando escoriações e edemas associados ao trauma. Que o paciente não apresentava sinais de retenção urinária (sem bexigoma). Que a declarante ao analisar o débito urinário das últimas 24 hs e do dia 05/08/2022, até o momento que estava no hospital, o paciente apresentava débito urinário satisfatório”, destacou o depoimento.
Com base nas informações, o delegado concluiu que o médico que encaminhou Krupp a uma UTI cometeu fraude processual com o objetivo de postergar a transferência dele ao presídio. Agora ele segue na unidade de pronto atendimento do Complexo de Gericinó, em Bangu.
O atropelamento
O atropelamento do adolescente ocorreu por volta das 23h do último dia 30 na Avenida Lúcio Costa, na altura do Posto 3. Câmeras de segurança mostraram Krupp circulando em alta velocidade momentos antes do atropelamento (veja abaixo):
Nas imagens é possível ver que, assim que Krupp passa na motocicleta, populares que estavam no quiosque se assustaram com a alta velocidade. Ao fundo, João Gabriel e sua mãe estavam atravessando a rua. Em seguida, as pessoas que aparecem no vídeo se mostram assustadas.
O adolescente teve uma perna amputada na hora e foi levado ao Hospital Municipal Lourenço Jorge. Ele passou por uma cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
A apuração sobre o atropelamento continua em andamento. Por enquanto, o modelo responde por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar.
Krupp foi parado em uma blitz da Lei Seca três dias antes do acidente. Nas redes sociais, ele ironizou a fiscalização, da qual, mesmo sem habilitação e se recusando a fazer o teste do bafômetro, acabou liberado.
Modelo se defendeu em vídeo
Bruno Krupp gravou um vídeo no qual se defendeu e destacou que o ocorrido se trata de um acidente: “Eu não bebi, não usei droga”, disse. As imagens foram feitas no hospital e divulgadas pelo site “Em Off” (veja abaixo).
Na gravação, ele ressaltou que não queria ter causado a morte da vítima. “Gente, pelo amor de Deus, eu sou a última pessoa que queria que isso tivesse acontecido”, disse Krupp, que ressaltou: “Eu não bebi, eu não usei droga. Foi um acidente, gente!”.
Além da investigação sobre o acidente, Bruno Krupp também foi denunciado por quatro mulheres por estupro. Segundo reportagem do jornal “O Globo”, duas das mulheres procuraram a delegacia para protocolar denúncias de abuso sexual contra o modelo no último dia 10. Antes disso, outros dois casos já eram investigados pela Polícia Civil.
Ele também responde a um processo pelo crime de estelionato, cujas investigações também seguem em andamento.
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