A Justiça negou um pedido da defesa do empresário Thiago Antonio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira, de 42 anos, que foi filmado agredindo uma modelo dentro de uma academia de luxo, em São Paulo, para a revogação da medida cautelar que determinou que ele retorne ao Brasil e entregue seu passaporte. Ele se tornou réu no caso, mas está em viagem a Dubai, nos Emirados Árabes.
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Segundo reportagem do site G1, a defesa do empresário alega que a medida que determina o retorno forçado dele ao país no prazo de dez dias “não encontra amparo legal”.
“A imposição de cautelar de ‘retorno forçado’ de viagem documentada nos autos, com data certa de retorno, e iniciada antes de requerida e deferida qualquer medida cautelar de entrega de passaporte, não encontra amparo legal. Thiago Fernandes Vieira não desrespeitou nenhuma decisão da Justiça. Ao ver da defesa, estamos diante de uma situação de claro constrangimento ilegal à liberdade de ir e vir”, informou a defesa.
A Justiça analisou o pedido e negou. Assim sendo, continua mantida a decisão que também determinou que ele não pode frequentar estabelecimentos desportivos e que não se aproxime a menos de 300 metros da modelo e de testemunhas da agressão.
Por fim, Brennand deverá comparecer mensalmente a estabelecimento jurídico para informar e justificar suas atividades, “bem como comparecer a todos os atos do processo, quando intimado, devendo informar seu endereço atualizado nos autos.”
Caso o empresário descumpra alguma das medidas, ele poderá ter o pedido de prisão preventiva expedido.
Denúncia
Brennand foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por lesão corporal e corrupção de menores na noite do último dia 4, quando o órgão também pediu que o passaporte do empresário fosse apreendido. Porém, ele viajou horas antes da medida ser analisada pela Justiça.
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Mais tarde, a denúncia sobre lesão corporal foi acatada e a decisão determinou que ele retorne ao país em um prazo de dez dias.
A Justiça também determinou que o caso seja encaminhado à promotoria de Justiça da Infância e Juventude da capital, já que ele foi denunciado por corrupção de menores. O MP entendeu que ele cometeu esse crime, já que agrediu a modelo na frente do filho adolescente e, ainda por cima, o incentivou a praticar os atos infracionais de injúria e ameaça.
Agressão na academia de luxo
Já as agressões contra a modelo Helena Gomes, de 37 anos, ocorreram na noite do último dia 3 de agosto e foram flagradas por câmeras de segurança da academia. Em entrevista ao “Universa”, do UOL, ela contou que frequentava a academia há três meses e que o empresário começou a puxar papo, dizendo que alguém falava mal dela, e logo a chamou para sair.
“Eu fui gentil, expliquei que havia terminado um relacionamento recentemente e que não estaria preparada para entrar em outro. A partir daí, ele começou a ser irônico e a provocar, de forma ofensiva”, lembra.
Assim, na noite da agressão, enquanto Helena treinava, o empresário se aproximou dela. Imagens das câmeras mostraram o homem circulando pela sala de musculação e, minutos depois, uma discussão é iniciada.
“Ele estava alterado, rodeando muito. Falou para eu sair de lá. Eu falei ‘Eu não saio’, ele falou de novo ‘sai’, eu falei ‘não saio’, eu falei mais alto e ele falou que mulher não gritava com ele”, disse a modelo.
“Eu estava treinando agachamento numa área que não era passagem. Na hora, eu gritei de volta que não ia sair. Ele me xingou. Eu disse a ele que dinheiro nenhum do mundo ia fazer com que ele tocasse em mim.”
Nesse momento, o empresário bateu com as duas mãos contra o tórax da modelo. “Eu fui para cima também, ele falou: ‘Eu vou cuspir em você, porque você merece’. E cuspiu em mim”, disse Helena.
A modelo relatou, ainda, que um filho do empresário também estava no local e também passou a xingá-la, ameaçando quem se aproximasse dela para tentar ajudar.
Depois da confusão, Helena acionou a Polícia Militar, mas diz que Brennand e o filho deixaram a academia antes da chegada dos agentes. Ela procurou a Polícia Civil, registrou um boletim de ocorrência e o caso passou a ser investigado.
Porém, o inquérito policial foi finalizado sem que o homem fosse indiciado, já que o delegado entendeu que ele cometeu crimes de menor potencial ofensivo.
A defesa do empresário informou que, sobre o processo, se manifestará apenas nos autos. No entanto, logo após a conclusão do inquérito policial, os defensores repudiaram a versão dada à polícia pela modelo e disse que foi a mulher quem iniciou a confusão ao estar fazendo exercícios em “local inapropriado”. O empresário disse que ela chegou a ser alertada por uma professora da academia, mas ainda assim continuou “a causar uma situação de desconforto”.
Apreensão de acessórios para armas
Na última sexta-feira (9), a Polícia Civil de São Paulo esteve na Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior do estado, que pertence ao empresário. No local, foram apreendidos 54 acessórios para armas. Tudo será periciado para saber se os equipamentos são legalizados.
Reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo, mostrou quando os agentes chegaram na fazenda e encontraram os acessório dentro de uma mala, que estava trancada. “Cada uma dessas lunetas aqui são pra fuzis, para rifles que ele tem”, disse um policial durante a operação.
A corporação instaurou um inquérito sobre o caso. Além disso, logo depois, o Exército suspendeu o certificado de registro de CAC, que permite que Brennand seja colecionador de armas.
Nas redes sociais, ele mostrou um quarto cheio de armas e, na legenda, afirmou que “todo homem tem o guarda-roupa que merece” e elencou várias pistolas e fuzis. O empresário afirmou ser o maior colecionador de armas táticas da América Latina.
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Reabertura de inquérito sobre cárcere e estupro
Depois da denúncia do MP, a Justiça em Porto Feliz determinou a reabertura de um inquérito policial no qual o empresário foi investigado por manter uma mulher em cárcere privado e por estupro. A vítima disse que, na ocasião, foi obrigada a fazer uma tatuagem com as iniciais de Brennand.
O caso também foi revelado pelo “Fantástico”. A vítima preferiu não revelar sua identidade, mas contou que, em certa ocasião, aceitou um convite para visitá-lo, em São Paulo. No primeiro dia, tudo correu bem. No segundo, porém, ele tomou seu celular, a agrediu e a obrigou a digitar o código de desbloqueio. Ao pedir o telefone de volta, ele teria batido nela e forçado uma relação sexual.
No terceiro dia, ela disse que os dois saíram para jantar. “Quando eu levantei, ele me puxou, ele falou assim: ‘você não pensa em abrir a sua matraca para ninguém’. Eu voltei e sentei. E voltamos para casa.”
O pesadelo só estava começando. “E ele: ‘ah, tem uma surpresa hoje’. Quando nós chegamos, já estava o tatuador lá com tudo montado, montando as coisas”, relembrou a mulher. “Eu falei assim: ‘Thiago, não faz isso comigo, Thiago’. Daí [ele] falou assim: ‘Você agora é propriedade minha, você vai ficar marcada’. E a arma dele ali, todo mundo vendo ele armado”, continuou.
Ainda segundo o relato da vítima ao “Fantástico”, havia dois funcionários, tatuador e massagista no local. “Todo mundo conivente, presenciando eu chorando, deitada no sofá, sendo obrigada a fazer uma tatuagem, e ninguém fez absolutamente nada. Ninguém se pronuncia na frente deste homem, cara. Isso não é uma pessoa, isso não é um humano, isso é um monstro.”
Segundo ela, uma das funcionárias da casa passou mal, e Thiago a levou até o ambulatório. “Foi o momento que eu peguei meu telefone, liguei para o meu irmão e falei: ‘pelo amor de Deus, chama a polícia que eu vou morrer.”
Quando o empresário soube que a polícia estava no condomínio, ele teria obrigado a vítima a fugir com ele. Depois, seu segurança a deixou no aeroporto para que ela embarcasse para Recife, em Pernambuco, onde moram os pais da mulher. Mais tarde, ele teria a ameaçado e divulgado vídeos de relações sexuais dos dois.
Em nota, a defesa de Thiago afirmou, que ele “jamais forçou suas parceiras a terem relações sem o uso de preservativo, respeitando estritamente os limites estabelecidos por elas e agindo sempre com seu consentimento” e que ele “nunca respondeu a uma ação penal”.
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