O motoboy Briner de César Bitencourt, de 22 anos, que foi absolvido após passar um ano preso e morreu horas antes de ser libertado, em Palmas, no Tocantins, sofreu uma infecção generalizada. A família dele diz que não foi informada sobre o quadro de saúde e denuncia que ele foi vítima de negligência por parte do Estado.
ANÚNCIO
“Foi pancada, porque era uma situação que a gente não esperava. Receber a notícia que ele veio a falecer foi muito duro, foi meio inacreditável. Em nenhum momento nós ficamos sabendo da situação que meu irmão estava passando, nós não soubemos que meu irmão tinha saído do presídio para ser levado para a UPA, não sabíamos o quão grave ele estava”, disse a irmã dele, Beatriz Bitencourt, em entrevista ao programa “Encontro”, da TV Globo, na manhã desta segunda-feira (17).
“As visitas estavam sendo mensais. E só minha mãe tinha direito de visitar ele, irmãos não podiam e era uma vez por mês. Como a próxima visita da minha mãe estaria agendada para o dia 22 desse mês, a gente não tinha nem como ficar sabendo, porque eles não avisam e a gente também não tinha como saber”, explicou a jovem, bastante emocionada.
Beatriz ressaltou que, mesmo após a morte, o Governo do Tocantins não entrou em contato com a família, sequer para prestar as condolências. O único contato foi para tratar do auxílio funeral.
“Quando a minha mãe recebeu a noticia do falecimento foi de um jeito totalmente despreparado pelo serviço social. Quando eles vieram entrar em contato comigo para oferecer o auxílio funerário eles também conversaram de qualquer jeito comigo. Não é como se eu tivesse tendo que correr atrás de enterrar o meu irmão, como se aquele momento não fosse de sofrimento, conversaram de qualquer jeito comigo”, lamentou a jovem.
Em nota, a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju) lamentou a morte do motoboy e informou que uma sindicância irá apurar o que aconteceu. A pasta também destacou que criará uma comissão para reavaliar os protocolos de comunicação às famílias sobre o estado de saúde dos presos.
Infecção generalizada
Segundo reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, o Instituto Médico Legal (IML) de Palmas ainda não concluiu o laudo final sobre a morte de Briner, mas o diretor da entidade revelou o que aconteceu com o rapaz.
ANÚNCIO
“Foi uma embolia séptica. Ele teve uma infecção generalizada que evoluiu com a embolia séptica. O coração dele não conseguiu fazer o bombeamento adequado para os órgãos dele, e ele acabou vindo a óbito”, explicou o médico legista e diretor-geral do ILM Tocantins, Eduardo Godinho.
O legista destacou, no entanto, que ainda não se sabe é o que causou essa infecção generalizada. É preciso aguardar o resultado de outros exames.
Prisão e absolvição
A prisão de Briner ocorreu no dia 12 de outubro do ano passado, quando policiais militares encontraram uma estufa com plantas de maconha no quarto de uma casa em Palmas. O motoboy também morava no local e foi levado para a delegacia com outras duas pessoas.
Ao ser ouvido, o motoboy confirmou que morava na casa, em um quarto alugado, mas negou que tivesse qualquer envolvimento com o cultivo de maconha. Na ocasião, foi realizada uma perícia no celular dele e, mesmo sem encontrar indícios da participação no crime, a prisão foi solicitada à Justiça e depois ele foi levado ao presídio.
Desde então, a advogada Lívia Machado Vianna, que o defendia, tentava provar a inocência do rapaz, que não tinha antecedentes criminais. Depois disso, ele foi julgado e absolvido, mas a decisão do juiz só foi protocolada no último dia 7.
Briner aguardava seu julgamento, quando começou a reclamar de dores pelo corpo e passou a ser atendido pela unidade de saúde do próprio presídio.
De acordo com a Seciju, o quadro dele piorou na noite do último domingo (9) e o rapaz foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Taquaralto, no sul de Palmas.
No entanto, já deu entrada em estado crítico, foi intubado, mas sofreu uma parada cardíaca. O motoboy não resistiu e morreu na madrugada de segunda-feira (10). Quando a Seciju recebeu o alvará de soltura do rapaz, na manhã de segunda-feira, ele já tinha morrido.
Já o Tribunal de Justiça do Tocantins informou que a liberação do alvará obedeceu ao trâmite normal, “sem qualquer evento capaz de macular ou atrasar o andamento do feito”.
LEIA TAMBÉM: