Foco

Aracruz: Pai de menor nega apologia ao nazismo e diz que filho aprendeu a atirar vendo vídeos na web

Genitor é policial militar e está afastado das funções; ataques em escolas deixaram 4 mortos e 13 feridos

Ele segue apreendido
Pai nega que tenha ensinado filho que atacou escolas e matou quatro em Aracruz a atirar (Reprodução/Redes sociais)

O pai do adolescente que matou quatro pessoas e feriu outras 13 durante ataques cometidos contra duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, nega que o filho seja “simpatizante de ideias neoazistas”, como informou a Polícia Civil. O genitor, que é policial militar, disse que um livro escrito por Hitler, cujo menor afirmou ter lido antes dos crimes, é dele e foi adquirido “para entender a mente” de personagens históricos. Ele também negou que tenha ensinado o garoto a atirar e disse que ele aprendeu assistindo a vídeos na internet.

ANÚNCIO

As declarações do policial militar foram feitas ao jornal “Estadão”. Na entrevista, o homem lamentou os ataques promovidos pelo adolescente e disse estar profundamente abalado.

“Meu mais profundo sentimento de pesar. Sei que a tragédia que ceifou várias vidas foi cometida por meu filho, um filho criado com todo amor e carinho. Mas não consigo entender o que o levou a cometer esse atentado. Se eu pudesse, pediria para cada família o perdão para meu filho, apesar de saber que diante de tamanha dor isso é algo impossível. Gostaria de poder pedir o perdão e dar minha explicação para cada parente das vítimas, mesmo que fosse em vão”, disse o pai.

Na entrevista, ele negou que tenha comprado o livro “Minha Luta”, que foi escrito por Hitler em 1923, para o filho e disse que o material era dele.

“Eu sou um estudante, um pesquisador da mente humana. Tenho a minha formação em psicanálise. Conduzo esses projetos sociais e gosto muito de estar entendendo um pouco da mente de alguns grandes personagens da História do mundo. Eu tinha interesse em entender a mente do Hitler. Até comecei o livro, mas nem concluí. Parei para ler um outro que eu achei mais importante. Inclusive, não gostei do livro. Achei que ele ia falar mais das ideias dele, mas estava fazendo uma narrativa histórica de quando ele começou o movimento de revolta na Alemanha. Então eu achei até um livro bobo, idiota”, disse o PM.

Questionado sobre a roupa que o adolescente usava no dia dos ataques, um uniforme camuflado com uma suástica em um dos braços, o pai garantiu que o filho não tem nenhuma ligação com práticas nazistas.

“Eu acompanhei tudo, da minha casa até a saída dele para a unidade em que ele foi apreendido. Não vi nos materiais nada referente a nazismo. Apenas o que ele usou no dia do atentado, uma suástica nazista que ele falou que desenhou e colou com fita crepe no braço”, contou ele.

ANÚNCIO

Ele segue apreendido
Material apreendido pela polícia com adolescente que atacou escolas e matou quatro pessoas, em Aracruz, no Espírito Santo (Divulgação/Polícia Civil)

Como o menor aprendeu a atirar?

As armas usadas pelo adolescente durante os ataques eram do pai. Por conta disso, a Polícia Militar instaurou uma investigação para apurar como o menor teve acesso aos equipamentos e se o pai cometeu algum crime. Por enquanto, o agente segue afastado das funções.

Questionado, o PM disse que o filho aprendeu a atirar vendo vídeos no YouTube e ressaltou que nunca imaginou que ele tivesse planos de matar alguém.

“Ele nunca demonstrou interesse nenhum nas minhas armas. Ele sempre gostou de ver armas e entendia muito de armas, com vídeos do YouTube. Gostava muito de ver vídeo no YouTube, gostava de ver vídeos de armas e de jogos. Se você me pedir uma prova eu não tenho como te dar, mas eu acredito e tenho forte intuição de que meu filho foi 4/8 manipulado, foi induzido por bandidos, por pessoas realmente malignas, satânicas, que estão nas redes sociais pescando um jovem ou outro que tenha a mente um pouco fraca. Fisgam esses jovens, trabalham na mente deles e levam eles a cometer esse tipo de atitude. Eu acredito que foi manipulado por pessoas assim, mas eu não posso provar ainda. O celular dele já está com a polícia, o computador dele também”, afirmou.

“Foi uma surpresa para mim. Nas redes sociais realmente estão falando que fui eu que ensinei ele a atirar. Teve uma declaração aqui do secretário de Segurança do Estado dizendo que ele atira bem, que tem uma técnica, algo assim. Aí as pessoas começam a fazer correlação. Se ele é treinado, o pai é policial militar, então o pai ensinou o filho. Essa lógica é sem sentido. Ele aprendeu a atirar – e ele falou isso para o delegado – com vídeo no YouTube. Hoje na internet o cara aprende tudo”, disse o policial.

Por fim, o pai disse que está recebendo ameaças após os ataques feitos pelo filho. “Tem a dor do acontecimento e a pressão da sociedade que está sendo inflamada com notícias falsas a meu respeito. Estão tomando isso como verdade. É a pior situação que está tendo no presente momento. Estão me ameaçando. Estão me julgando conforme o que estão lendo nas redes sociais sem nem me conhecer direito. Estão escrevendo coisas terríveis a meu respeito, disseminando mais ódio”, lamentou ele.

Os ataques

O caso aconteceu na manhã da última sexta-feira (25). Primeiro o menor invadiu a Escola Estadual Primo Bitti e, em seguida, a escola particular CEPC. Um vídeo que circula nas redes sociais mostrou o momento em que o atirador entrou em uma das unidades de ensino e os momentos de terror vividos por funcionários e alunos tentando fugir do massacre.

O adolescente matou as professoras Maria Penha Pereira de Melo Banhos, 48 anos; Cybelle Passos Bezerra, de 45; Flavia Amoss Merçon Leonardo, de 38; e a estudante Selena Zagrillo, 12 anos. Além disso, outras 13 pessoas ficaram feridas.

Ele vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. Isso porque os últimos três feridos se machucaram na correria e não foram baleados.

LEIA TAMBÉM:

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias