Um dos funcionários resgatados de um restaurante japonês na Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, deu detalhes sobre a situação precária em que vivia com outros 14 colegas.
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O auxiliar de cozinha de 30 anos, que preferiu não ser identificado, conversou com o portal de notícias “UOL”. Ele foi retirado do local pela polícia na última quinta-feira (19), em situação análoga à escravidão, após uma denúncia feita ao MP (Ministério Público).
O funcionário - paraibano - chegou a São Paulo há cinco meses para trabalhar em outro restaurante da rede, mas resolveu mudar após um amigo de infância contar que a unidade da Vila Formosa precisava de funcionários.
“Era tudo um horror. Tudo um horror. Parede mofada, bicho, rato. Contando comigo, eram 16 pessoas morando nesse quadrado, nesse alojamento. A gente vivia largado. Eu nunca tinha passado por um absurdo desse na minha vida”, disse o auxiliar.
Além de ter o valor da passagem para São Paulo e alimentação descontados no salário, os pagamentos atrasavam e eram irregulares. A jornada de trabalho também não seguia as leis. Segundo o homem, ele trabalhava em dois períodos, mas não recebia horas extras ou adicional noturno.
“Se eu soubesse que era essa situação, não tinha vindo. Era totalmente diferente. Eu soube ontem que ganhava R$ 1,4 mil, porque eles pagavam cada mês um valor. Às vezes, no dia 5 do mês, pagavam R$ 500, às vezes R$ 600 ou R$ 700. Depois, no dia 20, pagavam mais um tanto. Então não dava para saber quanto era o salário mesmo”, contou.
O relato do auxiliar de cozinha não parou por aí. Ele disse também que uma das orientações era reaproveitar alimentos de um cliente para o outro. “Quando ia para a mesa e voltava sem vestígio de estar mexido, se a gente fosse jogar no lixo, eles descontavam do nosso salário, brigavam com a gente, e até advertiam a gente.”
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Como se não bastasse, o funcionário contou que ele e os colegas também acabavam comendo os produtos estragados do estabelecimento.
O que diz o restaurante
O restaurante publicou uma nota de esclarecimento nas redes sociais dizendo que “os fatos alegados serão em tempo oportuno devidamente esclarecidos no bojo do processual judicial e administrativo”.
“A empresa investigada se resguarda ao direito de se manifestar no momento processual adequado sobre o que for necessário à elucidação dos fatos e demonstração da verdade real”, completa o texto.
Relembre o caso
Quinze pessoas em situação análoga à escravidão foram resgatadas de um restaurante japonês em São Paulo. Segundo a Polícia Civil, elas moravam em um quarto em situação insalubre.
As autoridades disseram que os funcionários viviam amontoados em um cômodo atrás do restaurante, sem ventilação adequada. A maior parte deles veio do Nordeste com uma promessa de emprego.
“O lugar que eles [funcionários] ficavam tinha zero de higiene e era muito pequeno. Geladeira para eles não funcionava, era servido café da manhã e ficava o dia inteiro exposto. Lugar mofado. Isso chamou bastante a atenção e um dos funcionários falou que a maioria veio do Nordeste com a promessa de trabalho com alojamento e alimentação. Mas nenhum deles estava registrado. Alguns com três, quatro meses de trabalho, outros um pouco mais, mas uma situação muito precária”, afirmou a delegada Ivalda Aleixo diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa), ao “G1″.
Durante vistoria, a polícia encontrou ainda produtos com data de validade vencida.
Os funcionários do local foram conduzidos à Delegacia Especializada, onde relataram as condições precárias em que estavam trabalhando.
A mulher que se apresentou à polícia como gerente do restaurante foi presa em flagrante por crime contra as relações de consumo e relacionado à condição análoga de escravo. Ela passou por audiência de custódia e foi liberada com restrições.
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