Pedro Rodrigues Filho, de 68 anos, conhecido como “Pedrinho Matador”, que foi morto enquanto estava na frente da casa de parentes em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, passou 42 anos preso e chegou perto de “voltar ao mundo do crime” após ser cumprir suas penas. A psicanalista Iza Toledo, que acompanhou o homem em tratamento terapêutico por mais de um ano, contou o que o motivou a mudar de vida: sua biografia.
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“Ele estava a ponto de voltar para o crime [em 2021, depois de deixar a cadeia]. Inclusive o livro foi um dos contratos terapêuticos que fizemos, porque ele não confiava em mais ninguém. Eu consegui conquistar a confiança do Pedro quando escrevi esse livro, e ele se sentiu realmente representado. Ele resolveu que realmente ia mudar de vida”, contou Iza em entrevista ao jornal “A Tribuna”.
O livro em questão é a biografia intitulada “Serial Killer - Eu não sou o monstro”, que foi escrita pela psicanalista. Ela contou que a escrita surgiu como parte do tratamento de Pedrinho no Instituto de Medicina Holística da Dor, no bairro Cibratel, em Itanhaém, no litoral paulista, onde o homem morava.
“Quando foi em setembro de 2021, ele veio morar na minha clínica. Foi quando ele quis que eu escrevesse o livro dele, e falei que nesse caso era um vínculo diferente. O combinado era que eu iria escrever o livro desde que ele realmente não voltasse para a vida do crime, porque ele ainda tinha muitos rancores”, lembra Iza.
A psicanalista lembrou, ainda, que, após passar 42 anos preso, Pedrinho era muito desconfiado e tinha dificuldades de se adaptar ao mundo fora da cadeia.
“O Pedro era uma pessoa que não ria, que não entendia piada, e ele estava reaprendendo a viver. As pessoas acham que eu dei acolhida para um assassino. Eu dei acolhida para um ser humano que queria ser melhor, que queria se resgatar e se superar. Sempre deixei claro pra ele que a maior tristeza da minha vida seria se ele matasse alguém”, contou ela.
“Pedrinho Matador” foi condenado por dezenas de assassinatos, que começaram a ser cometidos na década de 1970. O primeiro crime ocorreu quando ele ainda tinha 14 anos, em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, quando ele matou a tiros o então prefeito da cidade.
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Depois disso, o homem não parou mais de cometer assassinatos. Na ficha criminal dele constam 71 homicídios, mas ele afirmava ter sido responsável por mais de cem mortes, muitas delas dentro da cadeia.
Ajuda ao próximo
A psicanalista revelou que, enquanto passava por tratamento, Pedrinho passou a usar as redes sociais como forma de mostrar sua história e se ressocializar. Além disso, enquanto estava na clínica, ela destacou que ele ajudava a dar suporte emocional para outras pessoas que passavam por problemas.
“Recebíamos, todos os dias, mensagens de pessoas que estavam em depressão, pensando em cometer suicídio. Todos os dias ele dedicava um tempo para conversar com essas pessoas. Muita gente falava que tinha desistido de voltar para o crime por causa dele, tinha resolvido dar outro rumo (na vida). Elas tiveram esperança ao ver que uma pessoa com o passado dele estava conseguindo dar a volta por cima”, comentou Iza.
Morte de Pedrinho
“Pedrinho Matador” foi morto na manhã do último domingo (5), quando foi baleado e teve o pescoço cortado. Conforme o boletim de ocorrência, o homem foi achado morto por volta das 10h na Rua José Rodrigues da Costa, no bairro Ponte Grande, em Mogi das Cruzes.
Ele estava na frente da casa de parentes e segurava uma criança no colo, quando um carro preto se aproximou. Dois homens armados e mascarados desceram e mandaram uma mulher pegar a menina e entrar na casa.
Depois disso, os criminosos efetuaram vários tiros contra Pedrinho e um deles mascarado como “Coringa”, usando uma faca de cozinha, cortou a garganta do homem.
A Polícia Militar foi acionada e, no local, os agentes já encontraram Pedrinho sem vida. Durante buscas, o carro preto usado pelos assassinos foi encontrado abandonado na Estrada da Cruz do Século. Os suspeitos, no entanto, não foram localizados. Até a manhã desta segunda-feira (13), eles ainda não tinham sido identificados e presos.
O veículo foi apreendido para a perícia, assim como o celular de Pedrinho, que será analisado para descobrir se há alguma mensagem que leve a autoria do crime.
O caso foi registrado no Setor de Homicídios de Mogi das Cruzes, como homicídio qualificado, e segue sendo investigado.
Pressentia a morte
Melhor amigo de “Pedrinho Matador”, Pablo disse, em entrevista ao programa “Cidade Alerta”, da RecordTV, que o homem nunca mais tinha cometido crimes após cumprir suas penas, mas sabia que tinha muitos desafetos. “Ele já era uma pessoa resolvida, tipo assim, ele dizia: ‘eu sei o que eu fiz, minha hora vai chegar’”, contou Pablo.
O amigo disse, ainda, que Pedrinho era muito reservado, mas desconfiava que ele estava sendo ameaçado e que, por isso, teria deixado a casa em que morava, em Itanhaém, no litoral paulista, para visitar os parentes em Mogi das Cruzes. Para Pablo, o serial killer pressentia que poderia ser morto a qualquer momento.
“Acredito que ele pressentia sim. No último vídeo que gravou [assista abaixo], ele comenta que tinha uma situação para resolver. Mas o Pedro era muito sereno, não comentava as coisas com ninguém”, destacou Pablo.
O amigo contou que os dois se aproximaram há alguns anos, quando se conheceram em Mogi das Cruzes. Eles passaram a morar juntos e, segundo Pablo, Pedrinho sempre andou na linha depois que terminou de cumprir suas penas e foi solto. Para ele, o homem estava mudado e disposto a seguir com seu trabalho como youtuber, mostrando que a vida de matador ficou para trás.
“Ele queria comprar um sítio ou uma casa para viver, a intenção era essa”, revelou Pablo.
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