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Jovem que debochou de colega por ter mais de 40 anos revela ameaças: “Impedida de retomar a vida”

Garota e mais duas colegas aparecem em vídeo que viralizou nas redes sociais e causou revolta pela prática de etarismo

A estudante universitária Giovana Cassalatti, que aparece com mais duas jovens em um vídeo debochando de uma colega de sala por ter mais de 40 anos, em Bauru, no interior de São Paulo, afirma que tem sido alvo de “ameaças de morte e agressão” e que está “impedida de retomar a vida cotidiana”. Em um comunicado postado em seu Instagram, assinado junto com seu advogado, a garota diz que “tomará “medidas jurídicas contra aqueles que ofendem, agridem, disseminam informações falsas” sobre ela.

Além de Giovanna, aparecem no vídeo em questão as estudantes Bárbara Calixto e Beatriz Pontes. Nas imagens, as três fazem chacota da colega de turma, Patrícia Linares, que tem 45 anos (assista abaixo).

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“Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo depois, outra responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira. Em seguida, a estudante que gravava o vídeo disse: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”. Elas chegam a dizer que a mulher “não sabe o que é Google” e acha que é a professora.

As imagens viralizaram nas redes sociais e causaram revolta por conta da prática de etarismo, que é o nome dado à discriminação e ao preconceito relacionado com a idade de uma pessoa.

Logo após a repercussão, a estudante Bárbara Calixto se pronunciou e disse que o caso “foi uma brincadeira de mau gosto” e que ela e as outras duas estudantes “estão arrependidas”. A jovem disse que postou a imagem no “close friends” do seu Instagram e nunca imaginou que teria uma repercussão tão grande.

“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse ela.

Agora, Giovana se pronunciou e destacou que a “tentativa de criminalização e as suposições quanto à possíveis atos ilícitos no âmbito civil, ultrapassam a medida do razoável”. A jovem ressaltou no comunicado que “tais questões geraram repercussão na saúde mental, pois os valores morais recebidos de sua família são incompatíveis com o desejo de inferiorizar um semelhante, independentemente do que vem sendo veiculado”.

Além disso, o texto ressalta que “o preconceito - seja ele etário, racial, social, religioso, de gênero e todas as suas demais expressões - não faz parte dos valores disseminados pela estudante, de maneira que o episódio reforçará sua busca por posições que se coadunem com seus princípios éticos e morais em seu cotidiano.”

A publicação ressalta, ainda, que “um dos participantes do precitado grupo restrito da rede social utilizou-se do vídeo para lançá-lo na rede mundial de computadores, de maneira irrestrita, sem contexto e em prejuízo à imagem das integrantes do vídeo” e que “é preciso destacar a força das redes sociais e seus influenciadores que, por não medirem a força de seus posicionamentos e colocações acabam por incentivar o linchamento virtual e por incitar grupos radicais à prática de agressões reais.”

Ao site G1, o advogado de Giovana, César Augusto da Silva, disse que apesar das ameaças de morte recebida pela jovem, ainda não foi registrado um boletim de ocorrência. A família dela está separando o material para apresentar à polícia. Ele também ressaltou que ela segue afastada dos estudos e que não há previsão de quando vai retornar às atividades.

Colega diz que não vai desistir

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Alvo das chacotas das universitárias, a estudante Patrícia Linares, que completou 45 anos na terça-feira (14), foi acolhida pelos demais estudantes da Unisagrado e disse que “não vai desistir” do sonho de cursar biomedicina.

Patrícia contou que não tinha visto e que estava na sala de aula quando soube que tinha um vídeo de pessoas falando mal dela circulando na internet.

“Uma colega veio me dizer que fizeram um vídeo caçoando da minha idade, e aí ela me mostrou o vídeo. Como eu estava com muito medo do trabalho, até porque é algo novo para mim, eu comecei a chorar”, contou a mulher ao site G1.

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Uma sobrinha de Patrícia fez uma postagem nas redes sociais destacando as falas cruéis das estudantes e ressaltando que a tia sempre foi batalhadora e que só agora, depois dos 40 anos, teve a oportunidade de realizar o sonho de cursar biomedicina. Ela teve uma onda de apoio, que também refletiu na própria turma. Na sexta-feira (10), os colegas se reuniram e fizeram uma homenagem à colega.

Patrícia contou que, mesmo com o preconceito sofrido, não vai desistir de concluir seus estudos. Segundo ela, que era dona de uma loja por 11 anos, mas que foi fechada durante a pandemia, essa é a hora para que ela buscasse a graduação.

“O meu esposo me disse: ‘se você tem o desejo de estudar, a gente vai fazer o possível pra você estudar, pra ter uma nova profissão’. Fechar a loja me abalou demais. Então eu tinha que vivenciar outras coisas. Todo mundo se reuniu pra me ajudar e comecei esse ano a graduação”, relatou ela.

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“Não tem essa opção desistir. Nem quando eu era vendedora, nunca desisti das minhas clientes, eu nunca desisti da minha vida. E muito menos pelo meu sonho”, concluiu ela.

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