A Fundação Educafro, entidade que trabalha para a inclusão de negros nas universidades, entrou com uma ação pública contra a Gol Linhas Aéreas alegando que a companhia pratica “racismo estrutural”. A medida ocorreu depois que a professora Samantha Vitena foi expulsa de um voo ao se recusar a despachar uma mochila que continha um notebook.
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Conforme reportagem do site G1, a Educafro destacou no processo que a companhia aérea “instituiu um ambiente hostil, com treinamento e liderança pautados pelo racismo estrutural, o que - ademais de constituir risco para a sociedade - acarreta risco pessoal para os próprios profissionais por ela arregimentado, desestimula e oprime o pequeno percentual de empregados negros da GOL e projeta internamente uma autopercepção geral de desvalor geral para esses profissionais.”
Assim, a Educafro pede que a Gol pague uma indenização de R$ 50 milhões por dano moral coletivo, além de mais algumas mudanças, como alterações na governança da companhia, adoção de políticas de enfrentamento ao racismo por meio da educação e institucionalização de procedimentos.
Samantha foi retirada do voo da Gol, que faria a rota entre Salvador e São Paulo, na madrugada de sábado (29), que estava atrasado. A professora disse que levava o notebook na mochila e não encontrou lugar para guardar a bagagem de mão. Assim, um comissário disse que ela deveria despachar a bagagem, mas ela se recusou (veja abaixo).
Em nota, a Gol informou que, em função da grande quantidade de bagagem de mão a bordo, solicitou que passageiros despachassem parte das malas, gratuitamente, mas “uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo.”
No domingo (30), após repercussão do caso, a empresa divulgou uma nova nota, quando informou que “estará empenhada em colaborar com a investigação da PF, quando for notificada”. Disse ainda que segue à disposição das autoridades e que tem contratou uma empresa independente para apurar o caso.
A companhia aérea não se manifestou a respeito da ação pública feita pela Educafro.
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Já o advogado que defende Samantha disse que sua cliente foi vítima de racismo estrutural. “A gente está buscando a responsabilização de todas as pessoas que lesaram o direito de Samantha. Isso envolve companhia aérea, pessoas físicas e está no processo de estruturação”, disse o advogado Fernando Santos.
Professora abalada
Em entrevista ao programa “Encontro”, da TV Globo, na manhã de segunda-feira (1º), ela afirmou que ainda busca respostas sobre o que motivou o caso.
“Eu ainda estou tentando entender tudo. Os testemunhos e vídeos têm me ajudado a entender”, disse ela, que destacou que tem sido muito acolhida. “Eu fiquei bastante abalada com toda essa situação, mas tenho recebido todo suporte e bastante apoio. Ainda não consegui responder todas as mensagens”, destacou.
“Até onde eu sei a gente não pode despachar um laptop, não é recomendado por questão de risco e tudo mais, então falei que isso não seria possível”, relatou ela.
A professora disse que o comissário continuou insistindo que a mochila deveria ser despachada. No entanto, ela recebeu ajuda de um passageiro e eles conseguiram acomodar a bagagem. Quando ela acreditou que a situação estava resolvida e sentou para aguardar a decolagem, por mais 1h, foi abordada e expulsa do voo.
“Quando os policiais entraram eu não sabia por que eles estavam ali, não poderia imaginar que era por mim. Quando eles olharam pra mim e falaram levante e se retire, eu acredito que qualquer pessoa reagiria dessa forma. Perguntei o que aconteceu, qual o motivo”, contou ela.
A professora disse que, depois, foi obrigada a assinar Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por resistência, mas não entende o motivo, já que desembarcou da aeronave seguindo as ordens.
“Quando ele falou do crime, levantei para me retirar e falei para os demais passageiros. Perguntei se eu fiz alguma coisa que me tirasse do avião e as pessoas falavam que eu não tinha feito nada”, contou ela, que disse que outros passageiros se mobilizaram para desembarcar junto.
“Começaram a retirar as malas do bagageiro para descer comigo. Isso foi algo que me surpreendeu muito positivamente, me tocou muito e eu queria agradecer essas pessoas”.
PF apura racismo
A Polícia Federal, por sua vez, informou que abriu um inquérito para apurar crime de racismo contra a professora. A decisão foi tomada depois que os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos acionaram o órgão e a Procuradoria-Geral da República na Bahia.
Após analisar as imagens, a PF disse que a retirada da professora foi “compulsória” e destacou que as investigações do caso seguirão em sigilo.
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