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Família recebeu durante enterro vídeos de jovem agonizando embaixo de carro de motorista de app: “Foi horrível”

Condutor diz que rapaz furtava celular quando foi atropelado; polícia apura se morte foi intencional

Polícia apura o caso
Motorista de app fez piada nas redes sociais após atropelar jovem, que depois morreu em hospital, em SP (Reprodução/Redes sociais)

A família de Matheus Campos Silva, de 21 anos, que morreu após ser atropelado pelo motorista de aplicativo Christopher Gonçalves Rodrigues, de 26, no Viaduto Júlio de Mesquita Filho, na Bela Vista, região central de São Paulo, diz que estava no enterro do rapaz quando passou a receber vídeos nos quais a vítima aparecia agonizando e pedindo socorro embaixo do carro. Além disso, as imagens mostravam o condutor fazendo piada sobre o caso.

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“Acho que foi a óbito, certeza”, afirmou Christopher Rodrigues em um dos vídeos. “Agora vamos para a delegacia assinar um assassinato. Menos um fazendo o L”, disse o motorista na gravação.

Irmã de Matheus, Paloma Santiago contou em entrevista ao site UOL que ficou chocada ao ver as imagens. “Meu padrinho, que é motorista de aplicativo, recebeu nos grupos [o vídeo] do autor glorificando que tinha matado um assaltante. No começo eu não queria ver porque mostra meu irmão debaixo do carro, cheio de sangue e pedindo socorro. Eu não consegui ver mais”, relatou.

A jovem disse que o irmão trabalhava como vendedor ambulante de balas e capinhas de celular. Ela não acredita na versão do motorista de que o rapaz estava furtando celular no momento em que foi atropelado. Mesmo assim, diz que o caso deveria ter sido levado à polícia.

“Meu irmão era um jovem como qualquer um, que trabalhava vendendo bala e capinha de celular no farol. Era assim que ele ganhava a vida. Ele nunca roubou nada de ninguém. O que o motorista fez foi horrível. Justiça com as próprias mãos não resolve nada. Ele matou o meu irmão. A gente nem conseguiu viver o luto”, lamentou Paloma.

O advogado Walisson Silva, que defende a família de Matheus, disse ao UOL que vai trabalhar para que Christopher seja indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar), omissão de socorro e incitação ao ódio.

“De acordo com as imagens, acreditamos que é um crime de homicídio doloso, já que o rapaz alega que foi defender uma vítima de um furto de um celular. Você julgar uma pessoa pelo furto de um celular, tirando a vida dela, é absurdo”, destacou o defensor.

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“Ele mata uma pessoa, nega que ela seja socorrida, ela fica agonizando e ele vai para as redes sociais vangloriar daquele fato covarde, trazendo um viés político. Isso leva a crer que foi um homicídio doloso”, ressaltou.

O atropelamento ocorreu no último dia 25 de abril, quando Rodrigues gravou o vídeo antes de ir até a delegacia e compartilhou em grupos de mensagens de motoristas de aplicativo. As imagens passaram a circular na internet e causaram comoção.

O motorista não chegou a ser preso. À polícia, ele disse que estava na quarta faixa quando não conseguiu parar e atropelou Matheus. O homem afirmou que desceu para socorrer a vítima, quando apareceu outra pessoa e disse ter sido roubada, mas ele confirmou que não chegou a ver o possível furto.

A 99 disse que baniu Rodrigues do aplicativo após ter ciência do caso. “A 99 informa que o motorista de aplicativo envolvido no incidente relatado era cadastro na plataforma, no entanto, o fato não ocorreu durante uma corrida. A empresa ressalta que repudia veementemente e tem uma política de tolerância zero a qualquer forma de violência. Dessa forma, o perfil do condutor foi permanentemente bloqueado”, disse, em nota.

Caso é apurado pela polícia
Motorista de app atropelou jovem, alegou que ele estava furtando celular e fez piada em vídeos e fotos divulgadas nas redes sociais (Reprodução/Facebook)

Investigação

A vítima do furto de celular deve prestar depoimento à polícia nesta quinta-feira (4). Ela deverá dizer se foi Matheus quem foi o autor do crime.

De qualquer forma, o delegado Percival Alcântara, responsável pelas investigações no 5º Distrito Policial, disse que mesmo que a vítima estivesse cometendo um crime, não poderia ter sido atropelada e deixada de receber o devido socorro.

“Mesmo se ele tivesse furtado e fugindo, isso não dá o direito de ninguém fazer justiça com as próprias mãos. Ninguém pode atropelar e matar uma pessoa porque ela estaria em fuga”, ressaltou o delegado.

Inicialmente, o atropelamento foi registrado no 78º DP como furto e morte acidental durante um plantão. No entanto, com a divulgação do vídeo e de fotos do ocorrido o novo foco do inquérito, instaurado pelo 5º DP, passa a apurar se o atropelamento foi um homicídio doloso, onde o autor teve a intenção de matar.

“O foco é saber se foi homicídio doloso ou culposo. Basicamente, é o primeiro foco para depois analisar possíveis crimes que orbitem, haja vista que ele tirou fotos e zombou do possível furtador”, disse Alcântara.

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