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Negligência da vítima: Justiça arquiva caso de advogado morto pela própria arma em ressonância

Ele acompanhava a mãe e não retirou a pistola antes de entrar em sala; após dias internado, não resistiu

Ele levava a mãe para exame e não seguiu as regras de laboratório
Advogado Leandro Mathias de Novaes, de 40 anos, morreu após ser atingido por um tiro da própria arma, em São Paulo (Reprodução/Redes sociais)

A Justiça de São Paulo arquivou o inquérito que apurava a morte do advogado Leandro Mathias de Novaes, de 40 anos, que foi atingido por um tiro da própria arma em uma clínica no Jardim Paulista, na região central de São Paulo. A investigação apontou que o homem, que morreu após passar alguns dias internado, foi negligente e mentiu ao responder ao questionário da unidade de saúde, no qual foi alertado que não deveria portar nenhum objeto metálico.

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O caso aconteceu dentro do Laboratório Cura, que fica na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no último dia 16 de janeiro. Na ocasião, o advogado entrou na sala da ressonância como acompanhante da mãe e portava uma pistola 9 milímetros, um pente extra e 30 munições. Logo depois que a máquina começou a funcionar, a arma foi puxada pelo campo magnético, bateu no aparelho e disparou, acertando Novaes. Por pouco funcionários não foram feridos.

O advogado foi socorrido com um ferimento na região do abdômen e desde então estava internado, mas não resistiu e morreu no dia 6 de fevereiro.

Durante as investigações, um laudo do Instituto de Criminalística (IC) considerou que, conforme as informações de segurança que foram feitas pela equipe da clínica antes do exame, o advogado foi “negligente” ao entrar na sala portando a pistola. Ele também colocou a “integridade física e demais pessoas em risco”.

Assim, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu o arquivamento do inquérito no último dia 28 de abril, alegando que o advogado tinha registro e autorização de porte de arma de fogo e não teve cautela quando entrou na sala de exame com a pistola.

“A conduta de disparo da arma de fogo poderia ser atribuída a título de culpa, mas não há forma culposa do crime de disparo de arma de fogo. E, quanto à eventual lesão por ele sofrida, tratando-se de autolesão, não há que se cogitar de crime”, destacou o MP.

Conforme reportagem do site G1, a juíza Giovanna Christina Colares aceitou o pedido e determinou o arquivamento do caso na quarta-feira (3).

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Questionário da clínica

Uma foto mostra o questionário que foi preenchido pelo advogado antes de entrar na sala do exame. Nele, foi perguntado se a pessoa usa marca-passo, clipe cirúrgico, se passou por cirurgia craniana, tem implante de válvula cardíaca, aparelho de audição, filtros de vasos sanguíneos, aparelho eletrônico implantável e/ou que já tinha sido atingido por projétil de arma de fogo anteriormente.

Ele sabia que não podia portar objetos metálicos
Advogado Leandro Mathias de Novaes, que morreu após ser baleado pela própria arma em ressonância, mentiu em questionário de clínica antes de exame (Reprodução)

Novaes assinalou todas as alternativas como “não” e assinou o documento, que ainda tinha o seguinte aviso: “Para maior segurança, solicitamos a retirada de todos objetos metálicos, inclusive relógio, adornos, piercings e utilizar roupa privativa”.

Ao assinar o formulário, o advogado concordou em seguir as regras ali descritas. “Comprometo-me a responder o questionário pesquisa de contra indicações de campo magnético aos acompanhantes em ressonância magnética com informações corretas”, dizia o documento.

Em nota divulgada logo após o acidente, o Laboratório Cura lamentou o ocorrido. “Reforçamos que todos os protocolos de prevenção de acidentes foram seguidos pelo time do CURA, como é de praxe em todas as unidades. Tanto a paciente como o acompanhante foram devidamente orientados quanto aos procedimentos para acesso à sala de exame e alertados sobre a retirada de todo e qualquer objeto metálico. Ambos assinaram termo de ciência com relação a essa orientação”, destacou o laboratório.

“Mesmo diante dessas orientações, a arma de fogo não foi mencionada pelo acompanhante, que entrou com o objeto na sala de exame por sua decisão”, concluiu o texto.

Defensor de armas

O advogado costuma fazer postagens nas redes sociais defendendo o uso de armas. Em sua conta no Tik Tok, ele era seguido por mais de 7 mil pessoas, onde respondia dúvidas sobre como se tornar um colecionador de armas, atirador desportivo e caçador (CAC).

Além disso, nas legendas de suas postagens, ele costuma colocar diversas hashtags como “pró-armas”, “legítima defesa”, “direito à vida”, “eu reajo”, “direita conservadora” e “Estatuto do Desarmamento”.

Segundo a investigação, ele tinha autorização para portar a arma calibre 9 milímetros.

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