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Família inicia batalha judicial por guarda das crianças que ficaram perdidas na Amazônia colombiana

Avós acusam o pai de violência doméstica; já o homem diz que está em fuga após ser ameaçado pelas Farc

A mãe delas morreu em acidente aéreo
Crianças passaram 40 dias perdidas na Amazônia colombiana após sobreviverem a queda de avião (Reprodução/Iván Velásquez Gómez/Twitter)

Familiares das quatro crianças que sobreviveram a um acidente de avião em 1º de maio, e passaram 40 dias perdidas na Amazônia colombiana, iniciaram uma briga judicial pela guarda delas. Os avós querem ficar com os netos e acusam o pai deles, Manuel Miller Ranoque, de violência doméstica. Já o homem afirma que pretende sim ficar com os filhos, mas que está em fuga desde abril passado após ser ameaçado de morte por um dos grupos dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

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Os irmãos Lesly Mucutuy, de 13 anos, Soleiny Mucutuy, de 9, Tien Mucutuy, de 4, e Cristin Mucutuy, de 1 ano, ainda estão internados em Bogotá e seguem sob os cuidados do Instituto Colombiano de Assistência à Família (ICBF). O órgão destacou que as autoridades ainda vão analisar com quem os pequenos deverão ficar.

“O mais importante neste momento é a saúde das crianças, que não é só física, mas também emocional, a forma como os acompanhamos emocionalmente”, destacou Astrid Cáceres, chefe do ICBF, em entrevista à rádio Blu.

O avô materno das crianças, Narciso Mucutuy, acusa o pai deles de agredir a mãe, Magdalena Mucutuy, que morreu na queda do avião. Assim, disse que quer ficar com a guarda dos netos.

A imprensa colombiana procurou Ranoque, que admitiu ter tido problemas conjugais com a esposa, mas disse que o assunto era algo “privado”. O homem confirmou que eles tiveram brigas e que já chegou a bater na mulher, mas ressaltou ter sido “muito pouco”.

Além da acusação de agressão, o pai das crianças ainda diz enfrentar outro problema sério. Desde abril passado, estaria sendo ameaçado de morte pelo grupo dissidente das Farc e, por isso, teve que deixar a cidade onde morava, em Caquetá, sem avisar a família.

Magdalena e os filhos estavam no voo exatamente para encontrar Ranoque, quando houve o acidente aéreo. Agora, com a repercussão sobre o resgate dos filhos, o homem diz que pretende morar na capital colombiana e pediu a proteção do governo.

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“Acho que vou morar em Bogotá porque tenho problemas com a Frente Carolina Ramírez, que está querendo me matar. Eu sou alvo porque conheço toda aquela área”, declarou à imprensa local.

A Frente Carolina Ramírez é considerada herdeira da antiga frente 48 das Farc. O grupo não aderiu ao acordo de paz firmado com o Estado colombiano em 2016, que pôs fim a 56 anos de conflito armado. Na época, cerca de 13 mil guerrilheiros entregaram 8.994 armas à ONU (Organização das Nações Unidas).

Avião que caiu com a crianças na selva colombiana
Avião que caiu com a crianças na selva colombiana (Reprodução/Twitter)

Relembre o caso

As crianças foram resgatadas na última sexta-feira (9) após passarem 40 dias perdidas na Amazônia colombiana . A mais nova, que tinha 11 meses quando sumiu, completou o primeiro aniversário perdida na mata.

O acidente aéreo ocorreu no último dia 1º de maio, quando o voo com origem e destino entre Caquetá e San José del Guaviare caiu no meio da selva. O piloto informou sobre falhas no avião, que desapareceu dos radares um tempo depois. Três corpos de adultos foram localizados no início das buscas.

A equipe também encontrou fraldas, tampa e mamadeira, tesoura, um maracujá mordido e pegadas das crianças a cinco quilômetros de onde ocorreu o acidente, o que indicava que os pequenos ainda estavam vivos.

Diretor da Autoridade Aeronáutica Civil da Colômbia, Sergio París Mendoza contou que as crianças mais velhas tiveram que mover o corpo da própria mãe para conseguir retirar Cristin dos destroços do avião. “A criança indígena, mais velha, conseguiu ver o movimento dos pés da bebê, e a tirou. Estava entre o corpo da mãe e do piloto. E deixaram a aeronave”, revelou.

“Infelizmente, a cadeira onde a mãe estava se desprendeu com o impacto e caiu contra o corpo do piloto. A cadeira onde estava a filha maior e os menores atrás está absolutamente intacta, não se desprendeu”, destacou Mendonza.

Lesly, que foi apontada como heroína ao conseguir cuidar dos irmãos menores, carregava uma lanterna, garrafas de refrigerante, além de um toldo e dois celulares, os quais não tinham sinal, mas serviam para distrair as crianças. Eles são pertencentes à comunidade indígena Uitoto.

Durante as buscas, um cachorro chamado Wilson ajudou as equipes de socorro. As autoridades acreditam que ele encontrou as crianças primeiro, pois pegadas dele estavam na área em que elas foram achadas. No entanto, o cão desapareceu desde a última quarta-feira (7) e segue sendo procurado.

Momentos após a queda

Após serem resgatadas, as crianças contaram que a mãe delas ficou viva por alguns dias depois da queda. Ela deu orientações para a filha mais velha ir embora com os menores e que deveriam procurar pelo pai delas, que “as ama muito”.

O general Pedro Sanchez, que também atuou no resgate, disse que inicialmente elas comeram três quilos de farinha de mandioca que havia no avião e depois sobreviveram à base de frutas silvestres. Assim, ficaram circulando pela mata. Quando já estavam sem forças, pararam e, assim, acabaram localizadas.

Apesar do quadro de desnutrição, os quatro passam bem e estão fora de perigo.

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