Uma ex-professora da escola Pequiá, na Zona Sul de São Paulo, afirma que os donos tinham “prazer em judiar” das crianças. A instituição particular é alvo de uma série de denúncias de maus-tratos e os proprietários tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça, mas seguem foragidos.
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Em entrevista ao programa “Bora Brasil”, da Band, a ex-professora contou que trabalhou na unidade por dois anos. A mulher, que não quer ser identificada, relatou que presenciou uma série de abusos praticados pelos donos, o casal Andrea Carvalho Alves Moreira e Eduardo Mori Kawano, e que acabou pedindo demissão por não aguentar vivenciar aquelas situações.
“Chega nem a ser ruim, são perversos mesmo. Eles gostavam, eles tinham o prazer de judiar das crianças”, disse.
Segundo ela, era comum que eles deixassem os alunos sem comer ou trancados no banheiro. “Eles também costumavam bater na cabeça das crianças e apertar as mãos ou os dedos até a criança falar ou fazer o que eles queriam”, lembrou.
A ex-professora disse que eles ainda enganavam os pais, pois apresentavam um cardápio bem variado. No entanto, não era isso que eles serviam, de fato. “Na realidade era sempre a mesma coisa, carne moída e salsicha requentados”, declarou ela, que ressaltou que só comiam os alunos que estavam com a mensalidade em dia.
“As crianças que tinham inadimplência na matrícula não recebiam refeição, colocavam na mesma mesa, mas não davam a refeição. A gente, às vezes, quando eles não estavam perto, a gente dava”, desabafou.
Ainda segundo a ex-professora, o casal não tem formação pedagógica. Eles venderam uma pizzaria em 2012 e compraram o estabelecimento de ensino, mas usavam os nomes de outros profissionais para assinar documentos como sendo os responsáveis pelas metodologias aplicadas. Porém, eles mesmo eram quem cuidavam dos alunos.
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Logo após a repercussão do caso, a defesa dos donos da escola disse ao site G1 que não tinha tido acesso ao inquérito, e que, por enquanto, podia esclarecer que o casal nega veementemente as acusações e é totalmente inocente.
A Secretaria Estadual da Educação, por sua vez, informou que abriu um processo administrativo diante das denúncias recebidas.
Denúncias de maus-tratos
As denúncias começaram depois que uma professora conseguiu esconder um celular e gravar o momento em que o menino foi amarrado em um poste, por meio das mangas da blusa. Depois de fazer a filmagem, ela procurou a delegacia e registrou um boletim de ocorrência.
A docente disse que os casos de humilhação contra os estudantes eram constantes na escola, como forma de castigo quando eles não se comportavam. Segundo ela, eram os donos quem aplicavam essas punições.
O delegado Fábio Daré, responsável pela investigação, disse que obteve várias imagens que mostram que os alunos eram submetidos a várias situações vexatórias, além do relato de dezenas de pais e professores.
“A princípio [a investigação] foi [aberta] por maus-tratos e submeter criança a situação vexatória. Mas pelos relatos, pela gravidade dos relatos, eu incluí a tortura. Por alguns indícios que eu tinha das oitivas. As filmagens são tristes, revoltantes e isso causou muita revolta na gente, nas mães, nos pais”, disse o investigador.
Criança traumatizada
A mãe do menino que apareceu em um vídeo amarrado pela blusa em um poste dentro da escola Pequiá, na Zona Sul de São Paulo, diz que a criança teve que iniciar um tratamento psicológico após o episódio.
O vídeo em que o menino aparece amarrado foi registrado em setembro do ano passado, quando o garoto tinha 6 anos. Em entrevista ao site UOL, a mãe, que não será identificada para proteger o menino, disse que não suspeitou que ele estivesse sendo castigado na escola, mas estranhou uma mudança de comportamento repentina dele. Desde o início deste ano, ele estuda em outro local.
“Ele ficou agressivo com os coleguinhas e passou a desrespeitar os professores, como se esperasse ter algum tipo de punição. Eu paguei mensalidade em uma escola para que o meu filho fosse torturado. Ele passou por algo que vai ficar marcado para sempre na vida dele”, lamentou a mãe.
A mulher disse que demorou a perceber que se tratava do filho dela nas imagens, pois a criança aparecia com o rosto desfocado. Ao ver as imagens originais, ela ficou revoltada. “Senti dor, porque não pude estar por perto para protegê-lo”, disse ela.
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