O dramaturgo Zé Celso Martinez, de 86 anos, mais conhecido como Zé Celso, morreu na manhã desta quinta-feira (6), em São Paulo. Ele estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas após ter 53% do corpo queimado durante um incêndio em seu apartamento, no Paraíso, na Zona Sul da Capital.
A informação sobre a morte do dramaturgo foi confirmada nas redes sociais do Teatro Oficina, do qual ele era fundador: “Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Nossa fênix acaba de partir pra morada do solamor de muito amor sempre”, destaca o texto.
De acordo com o jornal “O Globo”, o dramaturgo não reagiu bem ao tratamento e teve agravamento do quadro de saúde, com início de uma insuficiência renal. Assim, nesta manhã, ele sofreu uma falência múltipla dos órgãos.
O incêndio no qual ele se feriu ocorreu na manhã de terça-feira (4). A suspeita é que as chamas tenham sido provocadas por um aquecedor elétrico que estava no quarto do diretor de teatro.
Conforme o boletim de ocorrência, Zé Celso foi encontrado se arrastando na sala, bastante ferido. O marido dele, Marcelo Drummond, e os outros dois moradores do apartamento, Victor Rosa e Ricardo Bittencourt, também inalaram muita fumaça e ficaram internados em observação.
O cachorro do dramaturgo, chamado Nagô, também foi vítima do incêndio, mas já teve alta da clínica veterinária e está sendo cuidado por uma irmã de Zé Celso.
O caso é investigado pelo 36º Distrito Policial da Vila Mariana, que solicitou uma perícia ao Instituto de Criminalística e exames complementares ao Instituto Médico Legal (IML), para determinar o que causou o incêndio.
Carreira
Nascido em Araraquara, no interior paulista, em 1937, Zé Celso era diretor, ator, encenador e dramaturgo. Ele estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas não chegou a concluir o curso. Foi nessa época, no final da década de 1950, quando ele fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina, ao lado de Renato Borghi, Fauzi Arap, Etty Fraser, Amir Haddad e Ronaldo Daniel.
Em 1961, o grupo passou a ser sediado na Rua Jaceguai, no Centro da Capital, onde depois foi fundado o Teatro Oficina, a companhia teatral mais longeva do país. O prédio é tombado como patrimônio histórico desde 1982.
Conhecido por sua maneira excêntrica e ousada de montar suas peças de teatro, iniciou a carreira como dramaturgo no final da década de 1950 com as peças “Vento Forte para Papagaio Subir” e “A Incubadeira”. Dez anos mais tarde, a companhia montou “O Rei da Vela”, clássico inspirado no livro de mesmo nome escrito em 1933 por Oswald de Andrade.
Além de inúmeras peças de sucesso ao longo dos anos, o Teatro Oficina se tornou um centro de estudos da dramaturgia brasileira, formando atores como Bete Coelho, Leona Cavalli e Esther Góes. Também estiveram por lá Augusto Boal, Fernanda Montenegro, Marieta Severo e Zezé Motta.
Em junho deste ano, ele se casou com Marcelo Drummond, de 60 anos, em uma cerimônia no Teatro Oficina. A cerimônia contou com a presença de vários famosos, incluindo apresentações de Daniela Mercury e Marina Lima.
O casal, que já estava junto há 40 anos, usou terno branco. Zé Celso estava em uma cadeira de rodas, pois dias antes teve sangramentos no cólon. De lá para cá, ele fazia tratamentos por conta do problema e também para curar uma anemia.
Dois dias antes de se ferir no incêndio, Zé Celso foi selecionado para a lista 50 Over 50 2023 da Revista Forbes, que homenageou personalidades que trazem impacto para a cultura brasileira e com idade maior a 50 anos.
“A lista a seguir é uma celebração à vida, à vida longa e produtiva. Nela, distribuídos em 10 categorias, estão nomes de gente que brilha intensamente depois de meio século de existência”, escreveu a publicação em seu site oficial.
LEIA TAMBÉM: