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Família diz que vendedor foi morto ‘por engano’ em operação após assassinato de PM, no litoral de SP

Subiu para 14 o número de mortes na Operação Escudo, que deve continuar pelo menos até o fim do mês

Número de mortos em ação chega a 14
Parentes dizem que o vendedor Filipe do Nascimento, de 22 anos, foi morto 'por engano' durante operação realizada após assassinato do soldado Patrick Bastos Reis (Reprodução/Redes sociais)

A família do vendedor Filipe do Nascimento, de 22 anos, denuncia que ele foi morto “por engano” durante a Operação Escudo, realizada na Baixada Santista após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, de 30, no Guarujá. Esposa do comerciante, que não quis ser identificada, disse em entrevista ao site UOL que o marido saiu de casa para ir ao mercado, mas acabou assassinado por policiais militares na noite de segunda-feira (31).

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“Ele saiu com meu cartão e algum dinheiro no bolso para fazer compras”, relatou a esposa, que disse ter escutado barulhos de tiros no loteamento Morrinhos 4, no Guarujá. Como mora em uma casa de madeira, ela disse que saiu do local com os dois filhos, de 2 e 7 anos, em uma bicicleta. Logo depois, foi abordada por um policial, que teria jogado o equipamento em um mangue e deu ordem para que ela voltasse.

“Pra dentro, pra dentro [de casa]. Está tendo uma operação policial”, relatou a mulher. Ela disse que chegou a ver corpos no local e perguntou sobre Filipe, mas ninguém confirmou que ele estava entre os mortos. Só depois ela foi oficialmente informada sobre a morte do marido.

Outros amigos do vendedor ouvidos pela reportagem negaram que ele tivesse ligação com tráfico de drogas e disseram que ele trabalhava em quiosques de praia havia três anos. “Toda temporada ele trabalhava comigo, acabamos fazendo uma amizade por ficarmos o dia todo trabalhando juntos”, disse o dono de um estabelecimento, que também não quis se identificar.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que não vai comentar casos específicos envolvendo a Operação Escudo.

Saldo de mortes

Subiu para 14 o número de mortos na operação, iniciada na última sexta-feira (28). Inicialmente, o governo estadual confirmou que oito pessoas tinham morrido na ação, divergindo do número de 10 mortes informadas pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo. No entanto, horas mais tarde foram confirmados mais óbitos.

Por conta de denúncias de moradores sobre abusos policiais cometidos durante a operação, uma comissão formada pela Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) está no Guarujá para acompanhar a operação.

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Em entrevista coletiva concedida na segunda-feira, o governador Tarcísio de Freitas negou qualquer abuso e se disse “extremamente satisfeito” com ação da polícia em resposta à morte do soldado.

“Nós não vamos deixar passar impune agressão a policial. Não é possível que o bandido, que o criminoso, possa agredir um policial e sair impunemente, então nós vamos investigar, nós vamos prender, nós vamos apresentar à Justiça, nós vamos levar ao banco dos réus. Foi isso exatamente que foi feito nesse fim de semana. Estou extremamente satisfeito com a ação da polícia”, disse o governador.

Ainda de acordo com a SSP, seis policiais haviam sido mortos e 14 haviam sido feridos na Baixada Santista em 2023.

Morte do soldado

O soldado Patrick Bastos Reis, que integrava a equipe da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), foi morto no último dia 27 de julho, enquanto fazia um patrulhamento em uma comunidade do Guarujá. Ele teria sido baleado por Erickson David da Silva, de 28 anos, que atuava como uma espécie de “sniper” por traficantes que atuavam no local.

Conforme a investigação, Erickson teria atirado em direção ao soldado da Rota de uma distância de mais de 50 metros. Além de Patrick, um cabo também foi atingido por um tiro e levado a uma UPA. Ele não corre risco de morte.

Erickson passou a ser procurado após o crime e foi preso no domingo (30), na Zona Sul de São Paulo. Ele passou por uma audiência de custódia na segunda-feira (31), quando teve a prisão temporária decretada.

Em entrevista à TV Tribuna, reproduzida pelo site G1, o advogado Wilton Felix disse que suspeito se diz inocente e estava na comunidade da Vila Zilda, em Guarujá, para comprar drogas. “Ele [Erickson] alega e atesta que não participou do evento morte. Na fatalidade, ele estava comprando droga, por fazer uso de entorpecentes, quando ouviu vários tiros e no pavor da situação, ele fugiu do local”, explicou Felix.

Em depoimento à polícia, Erickson negou ter matado o soldado e disse que quem atirou foi um homem chamado Marco Antonio, conhecido como Mazaropi, que já está preso. No entanto, para a polícia, ele confundiu a viatura em que estava o policial e acabou disparando.

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