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Morte em casa, tiro em cão e corpo reconhecido por foto: moradores citam abusos em ação policial

Operação Escudo é realizada na Baixada Santista após morte de PM; governo nega qualquer excesso

Parentes negam que eles tinham ligação com o crime
Cleiton Barbosa Moura, de 24 anos, e Layrton Fernandes de Oliveira, 22: mortos em operação policial na Baixada Santista (Reprodução/Arquivo pessoal)

A Operação Escudo, realizada pela polícia na Baixada Santista após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, soma 16 pessoas mortas desde a última sexta-feira (28). Moradores da região denunciam abusos dos policiais e mortes de pessoas que não tinham nenhuma ligação com o crime. Entre os relatos há o de um ajudante de pedreiro morto dentro de casa, tiros contra um cachorro, além do impedimento de que os parentes fizessem o reconhecimento do corpo pessoalmente. O governo estadual nega qualquer excesso na ação, que deve seguir até o fim do mês.

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Entre os mortos está Layrton Fernandes da Cruz de Oliveira, de 22 anos, que trabalhava como ajudante de pedreiro. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, parentes disseram que o rapaz dormia no barraco de um amigo, no bairro Jabaquara, em Santos, quando policiais militares invadiram a residência na madrugada de terça-feira (1º).

O cachorro se assustou com a aproximação e avançou contra os agentes, quando levou um tiro e morreu. Em seguida, os familiares afirmam que os PMs atiraram contra Layrton, enquanto ele ainda estava na cama. O rapaz foi atingido no pescoço e não resistiu.

Outras pessoas que estavam no imóvel fugiram com medo e, depois, dizem que foram impedidas de entrar no barraco, que ficou interditado para a perícia até a noite de quarta-feira (2). Os parentes afirmam que foram impedidos de ver o corpo do rapaz, que também costumava fazer bicos para reforçar a renda. A família garante que ele não tinha nenhuma ligação com atividade criminosa.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública (SPP) informou que “as forças de segurança atuam em absoluta observância à legislação vigente” e ressaltou que as mortes “resultaram da ação dos criminosos que optam pelo confronto”.

A pasta destacou que as denúncias dos moradores serão apuradas pela Divisão Especializada em Investigações Criminais de Santos e pela Polícia Militar.

Corpo reconhecido por foto

A família do ajudante de pedreiro Cleiton Barbosa Moura, de 24 anos, que também foi morto na operação, denuncia que não pôde ver o corpo dele. Viúva da vítima, que não quer ser identificada, falou ao site UOL que precisou fazer o reconhecimento por meio de uma foto.

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“Não pude ver o corpo do meu marido. Me mostraram uma foto do pescoço para cima só para eu reconhecer mesmo”, relatou.

Segundo a mulher, Cleiton estava em casa, no Sítio Conceiçãozinha, no Guarujá, na noite de sábado (29), quando os policiais chegaram. O homem segurava a filha de 10 meses, quando os agentes tiraram a criança e o arrastaram para fora do imóvel. Conforme a viúva, logo depois ele foi morto em uma área de mangue que fica nas proximidades.

O homem chegou a ser preso por tráfico de drogas em 2020, mas a esposa garante que ele não praticava mais nenhum crime e atualmente atuava como ajudante de pedreiro. “Eles [policiais] não escutaram a gente. O boletim de ocorrência foi feito só por eles. Nós só temos que dar a nossa versão. Eu não quero só paz. Quero justiça pelo que fizeram com o meu marido. Ele foi executado”, lamentou ela

PMs envolvidos relataram que Cleiton correu para os fundos de um beco e que atirou contra eles, que reagiram em legítima defesa.

Sobre esse caso, a SSP encaminhou o áudio da entrevista de terça-feira com o secretário Guilherme Derrite, na qual ele questionou as denúncias de tortura apresentadas por OAB, Ouvidoria das Polícias e Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que acompanham a operação.

“Não passam de narrativas dizendo que o indivíduo foi torturado. Todos os exames até agora realizados pelo IML não apontam nenhum indício de qualquer singelo hematoma, muito menos de uma tortura dos indivíduos que trocaram tiros com os policiais”, disse Derrite.

Até agora, a Operação Escudo resultou na prisão de 84 pessoas e na apreensão de 400 quilos de drogas e 21 armas. Também houve a apreensão de quatro adolescentes por ligação com o tráfico de drogas.

Ouvidoria afirma que 10 foram mortos
Soldado da Rota Patrick Bastos Reis, de 30 anos, foi morto durante patrulhamento no Guarujá; polícia realiza operação que tem saldo de 16 mortes (Reprodução/Arquivo pessoal/Carlos Abelha)

Morte do soldado

O soldado Patrick Bastos Reis, que integrava a equipe da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), foi morto no último dia 27 de julho, enquanto fazia um patrulhamento em uma comunidade do Guarujá. Ele teria sido baleado por Erickson David da Silva, de 28 anos, que atuava como uma espécie de “sniper” por traficantes que atuavam no local.

Conforme a investigação, Erickson teria atirado em direção ao soldado da Rota de uma distância de mais de 50 metros. Além de Patrick, um cabo também foi atingido por um tiro e levado a uma UPA. Ele não corre risco de morte.

Erickson passou a ser procurado após o crime e foi preso no domingo (30), na Zona Sul de São Paulo. Ele passou por uma audiência de custódia na segunda-feira (31), quando teve a prisão temporária decretada.

Em entrevista à TV Tribuna, reproduzida pelo site G1, o advogado Wilton Felix disse que suspeito se diz inocente e estava na comunidade da Vila Zilda, em Guarujá, para comprar drogas. “Ele [Erickson] alega e atesta que não participou do evento morte. Na fatalidade, ele estava comprando droga, por fazer uso de entorpecentes, quando ouviu vários tiros e no pavor da situação, ele fugiu do local”, explicou Felix.

Em depoimento à polícia, Erickson negou ter matado o soldado e disse que quem atirou foi um homem chamado Marco Antonio, conhecido como Mazaropi, que já está preso. No entanto, para a polícia, ele confundiu a viatura em que estava o policial e acabou disparando.

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